Capítulo O2

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               Foi difícil segurar as lagrimas, mas quando acordei no avião perto de pousar eu jurei que não iria mais chorar, se fosse teria que ser apenas por uma morte, ou apenas escondida e de preferência que ninguém possa descobrir que tinha executado o ato. Sabia que John estava me observando, mas teve que desviar os olhos quando chegou na mansão, exatamente, para quem gostava de simplicidade ele concordou rápido de mais com esse fato. Sem esperar para que as vozes voltassem simplesmente sai da caminhonete e comecei a andar pelo jardim indo em direção ao Hall de entrada onde localizei Florinda, a cozinheira chefe da casa toda, ao seu lado seu marido, Jeff estava esperando-nos, ele era o chefe da segurança e um ótimo amigo, amava os dois mais do que a mim mesma, eles eram meu lar e os únicos que tinham acesso cinqüenta por cento a mim, afinal, ter meu celular e saber a senha para entrar no meu quarto em certos momentos é algo que nem meu pai tem.

               Impossível foi eu não me jogar nos braços dos dois apertando com emoção, ao redor via que os demais empregados ficaram surpresos com o ato, acho que não esperavam que uma das filhas dos patrões fosse tão receptiva com eles, mas era impossível, o casal cuidara de mim dês dos meus dez anos, o mínimo que eles mereciam de mim era o respeito e amor.

                ── Que bom que terei vocês comigo em Paris, estava desesperada já achando que teria que ameaçar a Cia só para trazer vocês até mim. ── Me afastei olhando ambos.

               Jeff tinha seus quarenta anos, mas ainda estava inteiro, com um semblante rígido, porém com aquele sorriso sapeca para mim, seus cabelos negros desalinhados já mostravam a cor branco, seu porte continuava musculoso e estava vestindo apenas uma camiseta e uma calça jeans surrada com tênis, sabia pelo suor em seu pescoço que tinha acabado de sair do treinamento só para nos receber, já Florinda estava com sua calça jeans justa e uma blusa regata, em suas mão se via as pulseiras e anéis de ouro, presente meu e de Jeff durante os anos, como de costume a mesma sempre em um salto e com o cabelo impecavelmente prendido, dentre todos os serviçais eles eram os únicos que estavam livres de uniformes, pura exigência minha depois de uma semana de greve de fome. O que não foi o que ocorreu já que ambos me davam comida escondida, mas era outra história e mesmo com os resmungo de minha madrasta meu pai aceitou, só pedindo a toca na hora de fazer comida para Florinda. Claro que eu iria contestar, mas Flor, como gosto de chamar acabou aceitando.

                ── Não iríamos te deixar minha pequena gata de botas, sabemos bem que não vive sem minha lasanha e os treinamentos de Jeff. Afinal, que te levaria para as festas sem te incomodar não é? ── Flor tinha cabelos loiros e longos, seus olhos era da cor de mel e beirava os trinta e cinco anos, infelizmente sem chances de ter filhos, afinal... O passado era um terror na vida dos mesmos. ── Bem, vamos entrar? Já preparei seu quarto.

                ── E eu fiz questão de arrumar uma roseira do lado de fora, mas sabe as regras não é? ── Desta vez foi a voz potente de Jeff que me chamou a atenção, fazendo-me rir minutos seguintes.

                ── Sim, acionar o S.O.S e depois ir. Tudo certo general! ── O clima para mim tinha ficado mais suave, mas infelizmente sabia que era temporário.

               Subi então os degraus que levavam ao segundo andar e fui direto a ultima porta, a mais afastada, sabia que ali era meu quarto apenas por notar o modo da fechadura que era diferente das demais, geralmente meu quarto tinha uma tranca peculiar já que eu gostava de travas digitais, então nada de chave e sim de polegar ou olho. Em segundos já estava dentro de meu quarto, minhas malas já estavam no chão esperando para serem desfeitas, em um canto uma escrivaninha enquanto em outro uma parede com varias estantes com meus livros, uma TV que em minha visão era totalmente desnecessária enquanto a cama era uma King, o que já tinha minha atenção completa. No ato puro de infantilismo, me joguei em cima das cobertas e me deliciando com o momento único, virei me para o lado desbloqueando a tela do celular, mexi rapidamente apenas para ver como estavam as noticias, mas nada por Paris circulava sobre o que ocorria nos Estados Unidos, pelo menos paz teria.

               Já havia dormido de mais, então resolvo apenas buscar meus fones e trocar a roupa, já que Paris estava na época do Outono, não queria ficar gripada logo no primeiro dia, então optei por vestir um casaco de lã preto e arrumar a bota de salto alto que ia até o meio da coxa, a seguir achei uma piranha e prendi os cabelos em um coque bagunçado, dei play na primeira musica que achei pela frente e acabei saindo do quarto descendo pelas escadas, passando por meus pais que de forma inútil tentaram me chamar, em um ato que me fez parar ao sentir uma mão me puxando, olhei rapidamente para trás notando Melissa com seus cabelos loiros soltos, de forma rápida retirei um dos fones de ouvido para escutar o que ela falava.

                ── Volte em meia hora, o almoço vai ser servido e sabe como eles são com esses momentos. ── Tirou a mão de meu braço antes de se jogar no sofá. ── Hoje a noite vamos a um bar, então não faça coisas para atrapalhar nossa saída, preciso beber e sei que você nunca nega uma.

               Apenas afirmei com a cabeça antes de começar a me dirigir para o exterior pondo os fones novamente. Eu gostava de Melissa, mesmo sendo uma menina chata às vezes tinha algo bom, principalmente quando convencia nossos pais que tínhamos que sair e para ela era sempre sim, enquanto para mim era sempre o tão famoso não! Peculiar, eu era a mais velha e a mais nova que era permitida a sair? Confiança em mim tinha chegado ao nível zero e eu nem ao menos sabia o motivo.

               Vital era eu ter posto uma roupa mais quente, o vento frio era bem mais gélido do que pensei que seria ao sair da nova casa, estava tentando não perder o controle dos meus cabelos no meio daquele clima, mas estava sendo impossível. Bem, considerando que me encontrava caminhando ao lado do rio praticamente, não podia negar que o frio fosse ser maior do que o esperado. Soltei um suspiro longo e profundo, a musica era interessante, mas estar ali, naquela cidade parecia ser um tormento.

               Em meio aos meus pensamentos, acabei não percebendo uma bicicleta passar por mim rápido de mais, fazendo com que o equilibro se esvai de meu corpo e no meio da ponte me cause uma ida para o parapeito, a correnteza do rio não parecia muito agradável e provavelmente seria arrastada alguns longos metros até alguém conseguir me ajudar. Já estava prendendo a respiração quando sinto uma mão pegando a minha e em seguida me puxando para cima, fazendo com que minha cabeça bata em algo duro que provavelmente seria o peito do homem que me segurava fortemente, minha piranha já havia se ido deixando que meus cabelos castanhos ficassem soltos por volta de minha face, fazendo com que esconda meu rosto ao mínimo com uma expressão petrificada.

                ── Você sabia que não é aconselhável andar em pontes, principalmente perto da borda em dias como este? É muito fácil perder o controle e cair, e a queda seria ao mínimo bonita de se ver. ── O rapaz tinha uma voz forte e potente, porém devido ao sol, não conseguia ver o rosto dele direito me fazendo ficar no mínimo decepcionada. ── Vê se toma cuidado por onde anda pirralha.

               O rapaz continuou a andar deixando-me mais perdida ainda, o salvador grosso tinha umas costas bem definidas e uma bunda que daria inveja até mesmo em Melissa, ele era bonito, isso não passou despercebido pelos meus olhos, mas só vi a parte de traz o que pode significar que de frente fosse feio, isso, ele tinha que ser feio! Inevitavelmente olhou o relógio vendo que faltava um minuto para o meio dia e tratou logo de voltar para o novo lar, sem deixar de pensar no salvador estúpido que tinha encontrado a minutos atrás.

Cinco segundosOnde histórias criam vida. Descubra agora