II - Mais perto

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Como já esperava, aquela noite sonhei com o desconhecido, e quem não sonharia? Parecia que ele tinha saído diretamente de um filme adolescente, e eu como personagem principal do meu sonho, seria a mocinha que se encantaria por aquele rebelde de jaqueta de couro, e iria viver perigosamente por aí.

- Bom dia, mocinha! Levanta ou vai se atrasar! – disse minha mãe, enquanto puxava o meu cobertor.

A voz suave da minha mãe invadia o meu quarto e me obrigava a sair da cama e dos meus devaneios com o cara do bar.

- Soube de alguma família nova na cidade? – perguntei, enquanto tateava a colcha em busca do meu celular.

- Por hora não, mas como uma boa jornalista saberei em breve. – disse enquanto me entregava o celular que havia apanhado no chão. – Hora de colégio! Apresse-se.

Tomei um banho corrido, penteei o meu cabelo e pus aquele uniforme azul que eu odiava, para dar uma melhorada eu usava o menor número, assim parecia que eu tinha mais corpo, calcei o meu velho e amado all star e desci voando as escadarias, lá embaixo estavam meu pai, como sempre folheando um jornal enquanto comia panquecas e saboreava um cheiroso café, meu irmão Alan, assistindo o noticiário local enquanto acariciava o nosso gato , e a minha mãe, sempre apressada indo de um lado para o outro na esperança de não se atrasar.

- Família, bom dia! – passei os dedos pelos longos cabelos de Alan que me jogou uma almofada. – Bom dia, gato! Diz para o seu dono cortar o cabelo.

- Por que não raspa o seu, senhora engraçadinha? – disse meu irmão, dando-me um beijo na testa.

- Por que não se apressam os dois, para não nos atrasarmos? – disse mamãe sem paciência.

Alan e eu, nos olhamos e rimos silenciosamente, por que todos os dias a mamãe estava atrasada e a culpa nem sempre era nossa.

- O Kim não vem buscar você hoje, filha? – perguntou papai, com ar de insinuação.

- Eu acho que ele brigou comigo ontem. – pus a mochila de um lado do ombro e só queria sair daquela sala.- Vamos mamãe ?

- O que aconteceu? Você e o Kim sempre se deram tão bem, o que você fez ? – Mamãe tratava como se fosse santo e talvez fosse.

- Só falei com um cara e ele chateou. – Aquela conversa parecia não ter fim.

Alan ria de canto enquanto roubava alguns biscoitos da mesa do café. Tomei iniciativa e sai pela porta enquanto todos me olhavam julgando-me , desnecessário, eu sei, a minha família tem uma tradição estranha de se casar uns com os outros, toda a minha família, os meus pais são primos e os pais deles também e assim por diante, logo o meu irmão estará se casando com a Madaleine, nossa prima, e o meu futuro estaria destinado ao Kim. Estava atrasada para o colégio, motivo? Eu gostaria de dizer que passei a noite estudando algo como física ou biologia, mas a verdade é que fiquei vendo vídeos de como ser uma garota mais sexy sem ser vulgar e conquistar os meus objetivos, se é que me entende. Sim! Eu estava interessadíssima por aquele cara, que nem me falou o nome. Chegando na aula, lá estava ele, mas algo estava errado, ele não era aluno e sim auxiliar do professor de história, que veio de outro colégio, havia se formado há um ano, o que significava que ele era mais velho, pode parecer estranho, mas esse fato só o deixou mais interessante.

- Sentem-se todos! quero um minuto da atenção de vocês. - O professor disse berrando e batendo o apagador na mesa. - Este jovem rapaz é o meu novo auxiliar, ele já se apresentou e é isso, ficará conosco até o fim do semestre.

Para melhorar a aula foi sobre o tal Morse, que é um código onde os pontos e traços combinados formam letras e assim palavras. Isso de ser mais velho tornou o "jovem rapaz" muito mais atraente, e não fui só eu quem pensou assim, todas as garotas da sala não tiravam os olhos dele, apenas uma não curtiu o recém chegado, Gretta, mas eu suspeitava que ela gostasse mais de meninas. No final da aula não perdi tempo e fui falar com o auxiliar mais gato que essa cidade já viu.

- Agora já pode me contar. – Disse o encarando enquanto ele arrumava as coisas do professor.

- Do que você está falando? – Fechou a maleta do senhor Romén e me olhou fixamente.

- A tatuagem. – Toquei em seu braço e recebi um quase sorriso. – Me disse que só valeria a pena falar se eu soubesse ler "Morse", agora eu sei.

- Quem sabe. – Foi uma boa resposta, confesso. Ele disse com um quase sorriso malicioso, então estava valendo.

- Espera, eu nem sei o seu nome. – Eu cheguei atrasada lembra? Não o vi se apresentando graças aos vídeos de sensualidade.

- Marcos. É o meu nome, Marcos Vinci para ser mais exato. – Disse ele olhando para trás com o mesmo ar sério do bar, e o charme impecável também.

- O meu é ... – fui interrompida por ele, que disse – eu sei quem você é, Lua.

Obrigada colégio ,era a oportunidade que eu precisava para me aproximar do Marcos gato misterioso Vinci. Mas ao encontrar com o Kim no corredor do colégio, lembrei daquela noite estranha, onde nada fez sentido e lembrei da bronca que ele me deu, ele sabia de algo e eu precisava descobrir.

- Hei, K! – Pulei em suas costas como sempre. – Preciso de você só um pouquinho.

- Oi, Lua. Está animada hein? – Disse ele enquanto guardava seus livros gigantes de biologia. – O que aconteceu? Só um pouquinho ?

- Desculpa, K! Eu preciso que me conte. – Me encostei em seu armário e ao longe eu o vi, sentado numa mesa no canto fazendo anotações. – De onde você conhece o...?

- Lua, eu ... ai meu Deus, você já conheceu ele – parecia que estava sem palavras, e olhou para trás encarando o misterioso – Olha, depois conversamos está bom? Eu tenho prova de biologia.

O Kim não era como os outros caras, ele se importava com as suas notas e o seu desempenho acadêmico, o seu sonho era ser médico e por isso era fascinado em estudar essas coisas, diferente de mim. Mas naquele momento o que importava era saber o que estava rolando, e se o meu melhor amigo não me contasse, eu tiraria a resposta do desconhecido, como a primeira opção não deu certo, coloquei em pratica o que aprendi nos vídeos na noite anterior.

- Oi, é..de novo! – Disse sentando a mesa de frente para aqueles olhos negros, mas não me deixei abalar. – Tem um minuto?

- Olá, senhorita, no que posso ajuda-la? – Sem olhar para mim, apenas escrevendo em seu diário ou sei lá o que, completou – Novamente?

- Pode me chamar de Lua. – Continuei, mesmo sem atenção. – Olha, eu preciso saber de onde você conhece o Kim e por quê ele se incomoda com a sua presença.

- O Kim se incomoda com a minha presença? – Desta vez olhando para mim e esquecendo o maldito diário.

- Não foi exatamente isso que eu quis dizer. – Percebi o quão sem noção eu fui e aquele olhar penetrando a minha alma me deixava desconcertada – De onde se conhecem?

- Nunca pensei que ele ficaria feliz com a minha visita. – Disse levantando-se da mesa.

- Sério? Vocês eram amigos ou algo assim? – Tentei retirar toda informação que podia e atenção também, claro.

- Não. – Disse sorrindo pela primeira vez. E que sorriso! – Eu sabia que ele não ia gostar, mas não foi por isso que vim, então não me importo. – recolheu suas anotações e saiu sem se despedir.

Confusa, foi assim que essa situação me deixou e com certeza cheia de dúvidas e perguntas, quem era esse cara? Por que o Kim não gostava dele? Eles já foram amigos? E se eles eram amigos, por quê o K nunca me apresentou esse ser tão maravilhoso? É obvio que se conheciam. Sem respostas.

O Código da LuaWhere stories live. Discover now