O mundo dos desejos I

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Rafael tentava desferir golpes, com seu bastão, contra Vinícios, mas o garoto defendia-os sem muito esforço usando apenas a mão esquerda, enquanto segurava um bastão com a direita. Vendo que suas tentativas eram inúteis Rafael decidiu largar o bastão de lado e partir para os golpes de boxes, contudo, também inúteis contra a defesa precisa de Vinícios.
— Você já está com raiva! — anunciou Vinícios logo após segurar um direto de Rafael.
— Cala a boca Vinícios e luta! — Rafael desvencilhou sua mão e tentou acertar Vinícios com um cruzado, mas o garoto o parou com seu antebraço esquerdo.
— Então vamos acabar logo com isso! — Vinícios trocou o seu bastão da mão direita para a esquerda girando-o e partiu para cima.
Os golpes eram tão rápidos que Rafael os defendia a poucos centímetros de atingi-lo. Mas uma dessas defesas falhou e Vinícios acertou o pé do rapaz o fazendo perder o equilíbrio, mas antes de cair Vinícios segurou-o pela camisa, o puxou para mais perto, os rostos quase colados.
— Talvez da próxima vez você queira me contar o que está lhe deixando com raiva!
— Você sempre me diz isso...
Rafael ficou encarando Vinícios por um tempo, sentia sua respiração suave, o garoto não se esforçara nem um pouco; fitou aquela boca carnuda e quase falara o que sentia, mas voltou a si.
— Rafael! — Era o pai do rapaz, um homem engravatado, parado a porta da sala, pouco satisfeito com o que via.
— Até amanhã Vinícios!
Rafael pegou o bastão no chão, a mochila do outro lado da sala de luta e andou até a porta.
— Você acha mesmo que terá amanhã? — perguntou o pai num sussurro quando Rafael chegou mais perto.
— Pai, já conversamos sobre isso, eu...
— Sim, Rafael, já conversamos, eu disse que não queria ver você de gracinha com aquele garoto caso contrário você nunca mais o veria e parece que você não me obedeceu! — O pai de Rafael tinha a raiva queimando em seus olhos e estava prestes a colocá-la para fora.
O rapaz sentia saudade da mãe, ela sim era doce, engraçada e sempre entendia, e o apoiava, sempre deseja à felicidade para ele. Mas ela já não estava mais ali presente, não estava morta, mas nas condições que estava no hospital era como se fosse uma morte; o pai de Rafael era pouco paciente sempre fora assim, mas quando tivera de cuidar do rapaz o seu ódio aumentou consideravelmente, tudo o que a mãe de Rafael apoiava seu pai ia contra e aquela discussão era resultado de outras várias que eles tiveram.
— Mas só estávamos treinando!
— Aquilo parecia muito mais do que um simples treinamento! Venha, talvez você aprenda assim... — O pai saiu andando na direção da diretoria da escola.
— O que o senhor vai fazer?!
— Te tirar desse inferno, já achei uma escola melhor, um sem um tal de Vinícios!
Aquelas palavras foram como um soco na boca do estômago de Rafael, ele sentirá medo sentirá o desespero de nunca mais ver o garoto que enchiam seus dias de alegria, Rafael desejou que aquilo não fosse verdade mas sabia que a vida não funcionava assim, o pânico só fora aumento, as reclamações do pai foram se tornando quase que inaudíveis e o rapaz sentiu o corpo vacilar para trás, ele deixou-se cair e durante a queda tudo se apagou.

— Então... É pra ser assim mesmo? Ele deveria ficar parecendo um saco de carne largado no chão?
— Não seja tão indelicado!
Aquelas vozes eram estranhas para Rafael, mas ele nem ligou, começou a abrir os olhos esperando ver o pai ali gritando com ele, nem ligando para o fato de que o filho acabara de desmaiar, só esboçando seu ódio quando a Rafael e Vinícios, e falando que o rapaz não iria mais poder ver o garoto, contudo, não foi isso que aconteceu; quem estava ali eram duas pessoas, um homem e uma mulher, flutuavam e não tinham os membros inferiores.
O rapaz olhou ao redor e não viu nada além das pessoas, literalmente nada, estava escuro e ele não conseguia nem ver direito o lugar que pisava; a única luz ali era a que sai das duas pessoas, do lugar onde deveriam existir seus membros inferiores.
Demorou alguns minutos para que Rafael se desse conta de que aquilo era estranho e pulasse para longe assustado.
— O que são vocês?!
— Já era de esperar, eu sou pesadelo, muitos se assustam com a minha presença, você não é o primeiro e com certeza não será o ultimo! — disse o homem deitando no ar e rindo convencidamente.
A mulher sacudiu a cabeça mostrando o seu aborrecimento quanto ao que o homem falara, mas logo em seguida esboçou um sorriso e fazendo surgir uma nuvem de flores sobre a cabeça de Rafael, disse:
— E eu sou sonho!
— Eu só posso estar sonhando... — Rafael não estava acreditando no que os seus olhos estavam vendo, eles só podiam estar lhe traindo ou pior, criando uma ilusão para distanciar Rafael da realidade.
Pesadelo começou a dar risada, Rafael, parando com suas paranóias, e Sonho o encararam sem entender.
— Já gostei desse cara, acho que nossa escolha foi acertada! — Pesadelo ainda continuava a rir descontroladamente. — está sonhando... — completou o homem, repetindo o que Rafael disse, como se aquilo fosse uma piada.
— Não liga para ele... — disse Sonho se aproximando de Rafael, o rapaz se assustou, mas não se distanciou — Não gira muito bem da cabeça. — concluiu a mulher num sussurro. — Venha, vamos lhe mostrar o lugar!
Pesadelo e Sonho andavam em direção ao nada.
— Mostrar o quê?! — perguntou Rafael sem entender o que eles poderiam lhe mostrar além de toda aquela escuridão.
— O mundo dos desejos é claro! — disseram as duas pessoas em uníssono.

O mundo dos desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora