Os registros

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Rafael estava atônito, olhava para todos os lados tentando entender o que acabara de acontecer, aquilo era mesmo real? Tudo aquilo estava mesmo acontecendo ou era uma grande ilusão da sua cabeça? Mas quando Pesadelo lhe tocou o braço ele voltou a realidade, saíra de seus devaneios e voltara para o ali e agora, embora quisesse acreditar de que tudo era falso, de que a qualquer momento ele iria acordar na Terra, em qualquer lugar que fosse, tinha uma pontada de realidade na sua consciência, não poderia evitar de admitir isso.

Pesadelo estava ofegante, como se fazer aquela magia tivesse lhe custado um esforço eu nunca fizera antes, mas Rafael achava que tinha algo haver com Sonho. O rapaz tentou olhar para o topo da montanha para saber se Sonho estava os olhando, os procurando, mas seus óculos haviam sumido, talvez na ora em que fora transportado.

— Não olhe por muito tempo! — alertou Pesadelo e Rafael abaixou a cabeça para olhar o homem. — Você... Você não... qu-qu-quer nos entregarrr... — Pesadelo estava ofegante.

— O que ela fez com você? — Rafael não queria admitir, mas estava sentindo uma pena de ver Pesadelo naquela situação.

— Estou enfeitiçado, estou proibido de lhe mandar de volta! — Pesadelo se espreitou por um estreio beco a direita, se apoiando nas casas, em cada lugar que tocava ele puxava um pouco da luz, que quase não existia. — E eu serei penalizado a cada vez que fizer uma magia para lhe ajudar, então é melhor irmos andando senão teremos de enfrentar minha irmã e isso seria lhe ajudar! — Pesadelo já não ofegava e estava andando sem precisar da ajuda das paredes das casas por onde passavam.

— Por que você está me ajudando? — Rafael dava tapas na frente do rosto, a fim de tirar as teias de aranha a sua frente.

— Muitas pessoas me jugam por criar situações pouco confortáveis em seu sono, mas nenhuma parou para se quer imaginar o que isso significa!

Um silêncio tomou conta da conversa.

— Que nos traumatiza?! — Rafael interrompeu o silêncio.

— Também... — disse o homem dando um sorriso de canto de boca. — Mas... Ninguém entende que eu as tiro dos lindos... — Pesadelo parou e virou para encarar Rafael. — Mas perigosos, sonhos... Eu zelo pela verdade, a vida é muita mais bonita do que uma simples ilusão...

Embora fosse duro para Rafael admitir, já que os sonhos eram os únicos lugares onde ele podia ser ele mesmo, onde podia ficar com Vinícios sem seu pai lhe ameaçando, onde não tinha correntes que lhe prendessem a nada, Pesadelo tinha razão, e agora ele estava vivendo aquilo, vivendo sua falsa felicidade saindo de controle.

— Esconda-se! — Pesadelo se jogou numas caixas, Rafael foi pego de supetão, mas com tempo de seguir o homem e se esconder entre as várias caixas.

— Encontre-nos agora! — berrou a voz de Sonho ao longe.

— Então quer dizer que você é tipo... o mocinho da história? — Rafael pensara em outro adjetivo, mas esse era o único que lhe via a cabeça naquele momento de tensão.

— Não disse isso! — Pesadelo fez surgir um quadro negro e um giz mágico escreveu: Realista! O homem tomou óculos e um jaleco, Rafael achara que aquela fosse a concepção de Pesadelo sobre um professor, mas parecia mais um médico. — Eu sou mais realista, eu diria isso!

Sonho passou na frente do beco onde Rafael e Sonho estavam escondidos, os dois se calaram imediatamente, a mulher, ainda na sua pior forma, parou, olhou para dentro do beco e teve a ideia de entrar; por debaixo das caixas Pesadelo estalou os dedos e um barulho, como som de passos, ecoou ao longe.

O mundo dos desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora