O novo Sonho

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Quando Rafael sumiu Pesadelo sentiu um alívio, significava que a mãe do rapaz tinha conseguido, de alguma fora ela o acordara, o homem se sentiu privilegiado por ter ajudado Rafael a ser a primeira pessoa a sair do Mundo dos desejos. Contudo, Sonho não ficou nada satisfeita, a mulher não ficou ainda mais nervosa do que já estava, só ficou ali parada sem reação, se lembrou da conversa com os pais na biblioteca, se lembrou da profecia e naquele momento ela percebeu que não tinha mais o que fazer; o destino iria alcança-la se ela não fizesse algo imediatamente.

— Isso não é mais necessário, irmã; ele se foi... vamos consertar tudo, perdoar as magoas um do outro... vamos ser uma dupla...

Sonho soltou um riso e olhou para o além, para fora do Mundo dos desejos, para o morro dos desesperados.

— Mamãe, no final das contas estava certa, eu deveria tê-la ouvido, eu poderia evitar isso se tivesse coragem de fazer o que deveria antes...

Pesadelo não sabia do que a irmã estava falando, mas percebeu que ela tinha certeza de que faria o certo.

— Espero que me perdoe por isso irmão, mas é muito mais complexo do que ou você ou Rafael ou até mesmo Thomas... — Sonho estalou os dedos e sumiu.

Pesadelo e os fiscais ficaram ali sem entender, até o homem percebeu onde a irmã pôde ter ido.

— Eu preciso que vocês tirem as algemas... — Sonho se virou para encarar os fiscais, mas eles estavam tão atônicos que não sabiam se deveriam obedece-lo. — ISSO É UMA ORDEM! — Os ficais se alertaram e tiraram as algemas do gestor.

Pesadelo sentiu a magia percorrer todo o seu corpo, ele não tardou a estalar os dedos e se transportar para a frente da casa do portal, a porta estava escancarada e lá dentro Sonho estava com um sugador, quase em cima de Thomas, que se espremia na parede.

— Não é nada pessoal, eu sempre apoie você e meu irmão, mas você me ameaça, você nos ameaça...

— Sonho para com isso! — Pesadelo entrou na casa, tentou estalar os dedos, mas não funcionou.

— Saia Pesadelo, eu não quero que você veja isso... Já vai ser suficientemente triste perde-lo!

Pesadelo quase chorava, naquele momento ele se sentiu humano, sentiu a dor da tristeza humana, sentiu-se inútil sem sua magia, se pulasse sobre a irmã ela iria ativar o sugador, não podia arriscar, tinha que convencê-la de que tudo aquilo era uma loucura.

— Eu sei que perdemos a amizade durante os anos, eu sei que depois daquele teste você sentiu que eu fosse uma péssima dupla, mas não precisa machuca-lo, não seja a mamãe! — suplicou Pesadelo.

— Eu preciso... — Sonho encarou o irmão; Pesadelo viu a loucura soltar dos seus olhos, viu a insanidade tomar conta das decisões que Sonho estava fazendo, o que havia acontecido com ela? — É justo que você saiba... Você sempre achou que mamãe não aprovasse seu relacionamento, mas não era nada disso, ela nos amou tanto que faria tudo para nos proteger...

Ouvindo aquilo Pesadelo teve certeza de que a irmã estava fora de si, o homem sabia que Sonho era a preferida da mãe, mas nunca ouvira a irmã dizer que a mãe os amava, nunca a ouvira repassar um elogio direto a mãe.

— ... E ela fez, ela tentou te fazer parar de amar, mas quem é ela para mandar no coração? E eu percebi isso depois! Ela tentou te fazer focar somente em ser o gestor do Mundo dos desejos, esquecendo de Thomas, mas você sempre foi cabeça dura... — Sonho ria, como se tivesse lembrando dos seus bons momentos da infância. — E com papai te passando a mão na cabeça o trabalho da mamãe se tornava ainda mais difícil...

— Onde você quer chegar irmã? — perguntou Pesadelo um tanto receoso.

— A questão é que nós não demos o devido valor ao esforço da mamãe, ela morreu, para você, sendo a mãe chata, a mãe que sempre reclamava de tudo; devo admitir que os métodos que ela usou para nos ajudar não poderiam ser mais cruéis, mas ainda assim eram uma forma de nos alertar sobre o perigo inevitável que estava a nossa frente... — Sonho respirou fundo, uma lágrima descendo do seu olho esquerdo. — Há uma profecia irmão, algo que não podemos evitar e ela está acontecendo nesse momento, quando você me perguntou o porquê eu queria que Rafael ficasse era essa a resposta, eu precisava da magia dele para reestabelecer o equilíbrio entre nós dois, mas você o libertou e agora eu terei que recorrer a última saída, eu tenho que tirar toda a alegria de Thomas, você deve parar de ama-lo Pesadelo, essa é a única forma de romper o ciclo...

— O quê?! — Pesadelo não podia acreditar que a irmã estivesse falando sério, ele não acreditava que ela estivesse se levando a sério com tudo aquilo sobre profecia e morte. — Mas o que aconteceu com você Sonho? Como chegou a esse ponto?

— Eu também não queria acreditar, também achei que fosse alguma loucura de nossos pais, mas há livros falando disso irmão, e há provas... — Sonho engoliu em seco. — O irmão do nosso avô, a irmã da nossa mãe... Todos morrem quando seus respectivos irmãos se apaixonaram, e suas paixões tomaram o lugar dos seus irmãos, isso sempre aconteceu desde os primórdios, mas mamãe queria evitar, ela sabia que podia evitar e confiou isso a mim, eu posso parar com isso, somos uma dupla irmão, os dois devem pagar pelos erros que um cometeu; seu erro foi se apaixonar e o meu foi não lhe contar sobre a profecia!

Por mais que Pesadelo não quisesse aceitar já fazia um pouco mais de sentido, ou a irmã estava encenando muito bem, passando toda aquela confiança na voz, assim como no seu olhar. A irmão quase não piscava enquanto falava e também não desviava o olhar, se mantinha firme, com o sugador em mãos apontado para Thomas, que agora escorregava pela parede.

Pesadelo estava com os olhos lacrimejando e Sonho se sentia culpada por tudo aquilo, por não ter contado como o pai pedira, por culpar o irmão por se apaixonar, não assumir os erros dele como uma dupla.

— Eu espero que você me perdoe de verdade! — Sonho apertou o sugador, sem nem olhar, Pesadelo fechou os olhos, não queria ver o corpo de Thomas caído no chão.

Contudo, Pesadelo e Sonho perceberam que não ouve gritos, nem uma contorção. Quando Pesadelo abriu os olhos viu que Thomas não estava mais na parede agora ele estava pulando sobre Sonho, tinha um sugador na mão, o mesmo sugador do dia em que quase morrera para a mãe de Pesadelo. O sugador tocou o braço de Sonho, não ouve gemido de dor, só o corpo de Sonho caindo no chão, parecia uma múmia, a pele justa ao osso e os olhos arregalados para Pesadelo.

O homem ficou ali imóvel, não sabia se avançava para Sonho ou se abraçava Thomas ou se chorava, fora um momento onde Pesadelo se sentiu fraco, queria gritar pela morte da irmã, queria culpar alguém, mas não conseguia, além de ser a si mesmo, sentia que depois dos testes ele nunca sentou para conversar de verdade com a irmã, eram desconhecidos dentro da própria casa.

— Desculpa... — Thomas quebrou o mórbido silencio que se sucedeu.

— Não... Você estava se salvando, ela...

Mas antes que Pesadelo pudesse terminar o sugador começou a tremer e rodar.

— O que é isso? — Thomas deu passos relutantes para trás.

O sugador explodiu e uma aura de poder rosa pegou o rapaz e o içou no ar, a aura de poder parecia se fundir a Thomas, quando o brilho cessou ele voltou ao chão.

— Isso foi...

— Pensa em alguma coisa... Imagina que ela estará na sua frente e estala os dedos! — pediu Pesadelo interrompendo Thomas.

O rapaz pensou e depois estalou os dedos meio descrente com a situação, mas foi surpreendido quando um buque de flores pousou na sua mão.

— Isso quer dizer que...

— Thomas, você é o novo sonho...

Thomas olhou para o buque de flores e depois abraçou Pesadelo.

— Me diz que finalmente eu vou poder sair daqui e viver com você! — O rapaz estava a ponto de chorar.

— Você vai poder ainda mais...

Os dois ficaram ali abraçados.

O mundo dos desejos - concluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora