Jogador 51 [jjk+pjm]

01 • o mundo de lâmpadas fluorescentes

#51Girassois 🌻

Música do Capítulo:
Feel It All - Vinyl Theatre
"quebre-me, mas eu não vou cair
tem loucura nessa alma flamejante"

O alarme toca e as luzes acendem pontualmente às 6 da manhã no Complexo todos os dias, sem exceção.

Jimin joga o braço por cima dos olhos na tentativa de continuar no escuro, mesmo sabendo que voltar a dormir não é uma opção. O barulho no dormitório aumenta gradativamente à medida que os outros começam a acordar para dar início às atividades programadas, levantando de acordo com o número de identificação de seus respectivos beliches. Jimin suspira e finalmente abre os olhos, acostumando-os às lâmpadas fluorescentes antes que ele seja chamado, sem vontade alguma de sair da cama e sobreviver mais um dia naquele lugar.

Caminhando em direção ao seu sexto aniversário no Complexo, Jimin não conhece mais o mundo lá fora. Sem sequer um calendário para identificar a passagem do tempo, ele não tem noção de quando a semana começa ou termina, sabe apenas o que lhe foi imposto: o toque de recolher às dez da noite, o despertador às seis da manhã e a celebração de ano novo que, para o cérebro confuso de Jimin, parece acontecer em diferentes intervalos toda vez. Ah, e a data de comemoração de sua primeira vez como Jogador, durante a qual ele tem o direito de tirar o dia de folga e que é considerada entre os jovens ali mantidos como o novo aniversário depois que foram tirados de suas vidas normais.

Para Jimin, não existe nada além da rotina já marcada em seu cérebro: ele sabe o que deve fazer ao acordar, quando deve se apresentar no Centro Médico para exames costumeiros, quando precisa ir até o Centro de Imersão para suas Partidas, quais alarmes indicam cada atividade cuidadosamente planejada de modo a manter a ordem dentro do Complexo, e como se comportar para não receber punições. Mas fora isso, Jimin não sabe de mais nada.

Lembra-se vagamente de como vivia antes do acidente que o trouxe para esse confinamento, dos pais e do irmão que não sobreviveu, mas tudo isso lhe parece mais um sonho que não consegue detalhar. Sabe que estão em 3035 apenas porque era o que dizia o telão durante a última celebração e que está na porta de seus 25 anos de idade porque é o que consta em sua ficha médica.

Mas não tem certeza de nenhuma dessas coisas de verdade, e não se importa em tentar descobrir. Porque desistiu de viver de verdade no mesmo momento em que parou de contar os dias, cinco anos atrás.

"Bom dia, raio de sol." Jimin olha para cima, de onde metade do corpo de Taehyung está pendurada do beliche acima do seu, um sorriso em seu rosto como se estivessem em um acampamento de férias e não presos sem uma passagem de volta pra casa. Acaba sorrindo também, ainda que não com o mesmo entusiasmo, afinal é Taehyung e não há quem resista seu bom humor, mesmo ali. "Já acordou?"

"Estou de olhos abertos." Responde à sua típica maneira, a voz ainda rouca do sono, e o outro solta uma risadinha antes de sumir de seu campo de visão.

Jimin não conta nem um minuto até que Taehyung salta de sua cama até o chão, completamente ignorando a escada feita para descer em segurança e parando bem ao seu lado, puxando-o pela manga da camisa até que ele ceda e force o corpo a sentar-se. Por um momento se encaram sem falar nada, apenas compartilhando entre si forças para passar por mais um dia, então Taehyung ri enquanto bagunça o cabelo já emaranhado de Jimin e dá a volta no beliche para pegar seus pertences de higiene matinal e o uniforme que é usado por todos.

Jimin o observa cantarolar algo que ele não tem certeza ser uma música de verdade e sente o peito pesar por ele também estar ali.

Porque Taehyung é tão jovem, recentemente passando aos dezoito anos completos, e merece muito mais do que esse mundo terrível o oferece; não há, no Complexo e Jimin sabe que fora dele também não, alma mais brilhante e bondosa que a de Taehyung — seu motivo para estar ali já denuncia o quão altruísta ele pode ser — e Jimin não consegue aceitar que todos que os assistem durmam com a consciência tranquila sabendo que colocaram alguém como ele naquele lugar.