Capítulo 1 - Quando só se vê os olhos.

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Ao perceber que havia sido enganado, não havia mais nada a ser feito. Seu corpo estava paralisado. Não de medo, não de raiva, - mesmo estando sendo corroído por ela. - era algo bem mais profundo e químico, uma droga. Não sabia o nome, mas era forte, tanto que não conseguia siquer mover um globo ocular. Se pudesse falar, estaria gritando. Se pudesse se mover, estaria se levantando e derrubando brutalmente a mesa de seu café.

Sua mãe o encarou, observou-o imóvel, viu que tinha funcionado. Finalmente pode parar o teatrinho, parar de fingir que aquele seria só mais um café da manhã com a presença de um elefante branco na sala a qual ninguém ousava mencionar.

Conferiu por mais alguns segundos se seu filho havia mesmo perdido todo movimento, pois mesmo sabendo da grande dose da droga, ela acreditava que ele poderia vir a ser mais forte. Nunca se sabe, pensou ela.

Em seguida olhou para seu marido, lá parado ao seu lado. Meio que incrédulo, atreveu-se a tocar nas bochechas do garoto paralisado. Nada. Nem um sinal de movimento.

O homem, ainda em estado de pura adrenalina, suspirou, não tinha melhor reação à isso. Alívio era apenas o que ele sentia.

Já sua mulher, caiu em lagrimas, desesperada, pondo as mãos entre o rosto. A dúvida que reinava era: eram lagrimas de tristeza ou alguma espécie de felicidade?

O dia se seguiu assim, a mulher, ainda com algumas lagrimas, tirou a mesa e deixou que seu marido levasse o garoto paralisado para o sofá e o deitasse. Olharam pela janela, lavaram a louça, olharam pela janela, limparam a casa, olharam pela janela, preparam o almoço, olharam pela janela, ligaram a TV para verem as notícias e, de novo, olharam pela janela.

Eram quase duas horas quando o som de uma buzina foi ouvido pela família dentro da casa.

A mãe se levantou assustada. O pai caminhou até a porta, enquanto observava Tales, a qual já conseguira novamente os movimentos de um globo ocular, com a qual olhava seu pai tentando demonstrar tristeza e ódio.

Tales ainda estava deitado no sofá, não conseguia ver o que se passava, apenas temia. Escutava os passos, escutava a porta abrindo, escutava a conversa, mas nada podia dizer, nada podia fazer. Uma voz bem grave era ouvida junto com a de seu pai, um homem adulto e com voz dominante e amedrontadora ecoava, perguntando onde ele próprio, Tales, se encontrava.

- Está no sofá. - Disse o pai. - Já estávamos ficando desesperados, com medo. E se a droga já tivesse sido eliminada pelo corpo?

- Pouco provável. - disse o homem da voz grave. - Se nos permite, vamos leva-lo agora, tudo bem?

Os pais concordaram.

Tales se encontrava com mais medo. Para onde serei levado? Estou sendo preso? E mesmo que eu esteja, que espécie de prisão tem essa tática bizarra para pegar seus presidiários? Pensou ele.

Com um pouco de receio, pois não queria que o portador da voz grave também tivesse um rosto que o perturbasse, fechou os olhos. Sentiu a presença das pessoas ao seu lado, e enquanto sentia mãos ásperas tentando levantar seu corpo, percebeu que a atitude de fechar os olhos era ridícula de sua parte.

Medo, abriu os olhos e logo se arrependeu.

O homem que estava à sua frente, tentando o posicionar numa maca, juntamente com outros dois homens, usavam máscaras. Não máscaras do tipo bem trabalhadas, eram apenas mascaras brancas, portando os furos para os olhos e um sorriso desenhado à mão, que dava para notar que eram feitos de qualquer jeito, todos tinham o sorriso um tanto diferente.

Simples, porém perturbador.

Tales tentou se mover, sair de lá e não voltar, mas o máximo que conseguiu chegar foi a fazer algumas microexpressões de ódio à todos ali presentes.

Foi colocado na maca, os homens nada falaram, levantaram a maca e o levaram em direção à saída.

Tales encarou a van branca que o esperava. Foi tão perturbador, parecia que estava adentrando em um daqueles filmes onde psicopatas o sequestram e o levam à uma van cheia de alicates, facas e até mesmo uma serra elétrica, quem sabe. Em seu caso, seus pais o doparam e o jogaram para os assassinos.

Era irreal. As máscaras, que agora notava que vinham acompanhadas de roupas totalmente brancas. Espere! Pensou por uns segundos... Notou que tudo era da cor branca: as roupas, as máscaras, a van, até a própria maca. - esse ultimo não foi de se adimirar mas de qualquer forma, faz parte do cenário. - Exceto o nome na van, NATAS, escrito sem nenhum tipo de informação ou nem mesmo uma representação em imagem, apenas o nome em letras maiúsculas vermelhas que se destacavam cada vez mais no mar branco.

A maca foi colocada dentro da van, e ele apenas observava enquanto escutava a música que vinha do rádio do alto móvel. Not Enough do FUR tocava, de alguma forna só deixava o momento mais perturbador. Tales tinha de fato ódio, ódio dos pais, ódio da vida, ódio de tudo. Mas naquele momento, ele estava com medo.

NATAS - Torne-se Alguém MelhorOnde histórias criam vida. Descubra agora