Prólogo

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Não saberia explicar como tudo se tornou real. Apenas permitiu que seus olhos abrissem e entrassem em contato com a clara sala desconhecida, nunca havia frequentado uma mas mesmo assim poderia afirmar que se tratava de uma sala hospitalar.

Sabia que aquele corpo não deveria lhe pertencer, sentia como se vestisse uma roupa congelada: mal poderia se mexer de tão desconfortável, era como se aquilo o envolvesse e o prendesse em um espaço tão pequeno e miserável. Porém, desde quando apenas uma roupa poderia lhe proporcionar o tato? Uma mão trêmula, porém tão macia que tinha vontade de acaricia-la, envolvia a sua em um aperto fraco após perder sua força.

Não ousou direcionar seu olhar até quem supostamente esperava tal ato, se contentou em fixar sua visão no teto, tão branco que se a confusão não lhe fizesse ficar trantornado o bastante para não conseguir assimilar mais nada, poderia jurar que alguém já teria ficado cego ao olhar por tempo demais.

- Talvez ele esteja precisando de um tempo. Pacientes suicidas costumam acordar muito deprimidos e confusos para qualquer conversa. - Uma voz masculina,porém suave, ecoa pelo quarto frio- um elemento que só notara após o som lhe desespertar os sentidos- e o faz parar para pensar.

Sabia que isso havia ocorrido, era como se fosse um instinto. Por alguma maldição ele se lembrava que não fazia parte daquela vida, pertencia a outro local, era como um reserva. "Almas suicidas são substituídas após a primeira tentativa" era o que repetia em sua mente, sua única certeza.

- Ele nunca mostrou nenhum sinal...Nunca...Meu filho...Por que? - Uma mulher ditou, sabia que a pergunta era para si, assim como sabia que não iria responder. Como saberia? Senhora, este homem não sabe nada além de seus próprios instintos sobre seu filho! Por que não poderia falar e acabar logo com essa tormenta? Ele morreu, é isso, agora poderia voltar logo para sua antiga e esquecida vida?

- Por favor, senhora Jeon, peço que não o force a falar. O paciente claramente está em processo de aceitação, ele precisa de tempo, a senhora consegue entender? - Por Deus, que conseguisse, a única coisa que queria era poder puxar o ar que nem percebia que lhe faltava, mas para isso precisava que aquela aura chorosa o deixasse só.

- Eu não consigo mas talvez seja o melhor. - Graças aos céus, pode até mesmo finalmente piscar os olhos com a notícia de que ficaria sozinho -mesmo que o surpreendesse o fato de que não os piscava a um tempo considerável-.

- O senhor Jeon a espera, quando seu filho estiver melhor garanto que será avisada. -

- Claro. - O aperto suave porém sufocante em sua mão foi desfeito, porém logo sentiu seus pelos se eriçarem com a proximidade da moça. "Saia, por favor!", gostaria de suplicar, mas nem mesmo sussurrar foi possível. Se mover não era uma opção, pelo visto. - Eu amo você, Jeongguk, venceremos isso juntos. Nunca mais vai pensar nisso, é uma promessa.

Pobre moça, mal imaginava que a morte passaria a ser almejada pela nova pessoa que se apossou daquele físico obrigatóriamente. Mesmo que não se recordasse de sua vida antes daquela material, sabia que deixa-la não era um desejo.

A mulher o deixou sozinho e assim seus ossos pararam de estar tão tensos. Buscou o ar que não conseguiu ter por longos segundos e assim o soltou em despedida. "Adeus eu verdadeiro, agora estou tomando a vida de alguém que nunca gostaria de conhecer", e definitivamente não gostaria mesmo.

- Pois então, Jeongguk, - ditou o nome crispando seus lábios- eu nunca poderei ser você totalmente. Não sou egoísta o bastante para entregar o fardo da minha vida para outro filho da puta. Vou ter que me contentar com o nome de alguém tão insensível.

O Reflexo De Um MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora