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Yoongi acordou e ficou olhando para o teto durante um bom tempo, enquanto refletia. Ainda estava escuro, o que significava que eram mais ou menos cinco da manhã. Bem cedo, então Eleanor ainda não podia ter chegado.

Talvez até cedo demais.

Com um resmungo, se sentou na cama, sentindo o ar gélido da madrugada tocando seu peito nu, e respirou profundamente após checar o celular e ver que já tinha milhares de compromissos.

Quem disse que vida de "patrão" era fácil.

Yoongi, em seus 26 anos de vida (N/A: aqui eu usei a idade ocidental, "verdadeira" dele), era CEO de uma empresa de contabilidade. Ultimamente estava atarefado até o pescoço com o orçamento de um orfanato, mas seu coração pesava apenas ao pensar naquelas crianças, então não se importava de virar noites tentando resolver a questão.

Na verdade, aquela era sua primeira noite na semana em que dormiu por um tempo maior que três horas. Seu cio havia passado há pouco tempo, para melhorar sua situação, e havia passado sozinho novamente, culpa de seu gene lupino.

Yoongi era nascido de uma família tradicional, porém seus pais possuíam uma peculiaridade a mais: eram ambos sangue puro, então Yoongi era, além de um Alfa, um lúpus.

Enquanto uns na empresa o invejavam por sua posição tanto social quanto natural, Yoongi odiava ter que carregar esse fardo de dominante. Não podia nem sequer pensar em passar um cio com um Beta, que dirá um Ômega, as chances dele sair vivo eram mínimas...

E tudo o que queria na vida era isso, encontrar seu Ômega e ser feliz.

Sabia que as chances de encontrar seu predestinado eram mínimas, e a escassez de Ômegas ficava cada dia pior...

... Até ouvir sobre um mercado negro de Ômegas nos subúrbios.

Ao se lembrar disso, esfregou os olhos e se levantou. Precisava fazer algo, pois sabia exatamente onde era o tal mercado. Sendo o bom homem que Eleanor o ensinou a ser, Yoongi simplesmente não conseguiria suportar uma informação dessas sem fazer nada a respeito.

Enquanto colocava o uniforme de trabalho, basicamente um terno social, com gravata e etc, Yoongi se decidiu. Após o trabalho, iria até esse mercado e daria um jeito naquela bagunça.

Então, por volta das 6 da manhã, Eleanor, a velha senhora que trabalhava como sua governanta, chegou.

– Bom dia, Yoongi. – A doce senhora sorriu para o jovem adulto, com os cabelos agora loiros (ele os deixava assim porque Eleanor dizia que daquela forma ficava parecendo mais jovem, menos duro), e foi direto para a cozinha preparar o rápido café dele. Yoongi sorriu de volta, terminando de abotoar o blazer.

– Bom dia, ajhumma. – Yoongi soltou com sua costumeira voz grave e rouca, e subiu para terminar de se arrumar.

Como Alfa e CEO, Yoongi tinha sempre que andar com um ar de superioridade, o colocando em seu devido lugar, no trono máximo da sociedade. Possuía um apartamento na cobertura de um dos condomínios mais luxuosos de New Seoul, além de uma Lamborghini própria e uma fortuna em mãos. Porém, sempre fora um pouco mais rebelde, mais solto: descoloria os cabelos e ia para o trabalho usando brincos. Mesmo com todo o ar de poder que revirava em torno de si como um tornado, Yoongi não deixava isso lhe afetar. Era apenas um cara querendo ser feliz na vida, no fim das contas.

Ao finalmente descer, Eleanor já havia trazido seu pacote de rosquinhas recheadas e um prato de waffles lhe esperava junto a uma xícara de café.

Isso era algo engraçado em Yoongi. Adorava café, e seu cheiro era exatamente esse: café. Quer dizer, era mais como uma mistura de café e algo levemente tostado, como... Café sendo torrado. E cinzas. Esse era o aroma de Yoongi, considerado até mesmo enlouquecedor.

Sim, Yoongi era muito cobiçado. Era muito difícil um Ômega aparecer e lhe desejar, mas entre as mulheres Betas era extremamente famoso. Porém, nenhuma delas lhe interessava.

Suspirando, se sentou e começou a comer os waffles, decidido a ir àquele maldito mercado após o trabalho.

Longe dali, nos subúrbios..

Mais um dia se iniciava naquele maldito mercado.

Os aproximadamente 40 Ômegas presos receberam cada um uma pequena tigela de mingau de aveia, como café da manhã, sem açúcar nem nada, mas ou era isso ou era ficar com fome até a hora do almoço.

O único que recebia um tratamento ligeiramente melhor era a famosa joia da coleção, o Ômega mais caro dentre os outros: Kim Taehyung, um Ômega que carregava consigo o gene lupino, um Ômega lúpus.

Quase todos os dias, diversos Alfas iam até ele e tentavam o tocar em sua pequena cela, mas sempre se afastava, mesmo muito mais magro que costumava ser. Sendo o Ômega mais caro, estava ali há muito tempo... Quase 7 anos. Já havia até esquecido como era o mundo lá fora.

– Vamos, eu não tenho o dia todo, gracinha. – Um dos Betas donos do maldito mercado resmungou para si, que fingiu não escutar. Se recusava a comer qualquer coisa servida por eles, comia apenas o que os outros Ômegas lhe davam. Simplesmente havia perdido a confiança nas pessoas...

Ao mesmo tempo que queria sair dali, não queria ser comprado, pois sabe-se lá o que um Alfa poderia fazer consigo... Então... Talvez fosse melhor assim.

Taehyung, com seus poucos 23 anos de idade, cabelos de um castanho escuro como chocolate amargo, não poderia estar mais errado.

Como sempre fazia, se deitou em um canto de sua cela, longe das grades, e esperou até o anoitecer. Como sempre, vários Alfas iam até a cela, sentia o cheiro do turbilhão de hormônios de longe. Nada de anormal... Pelo menos usando sua visão do que era ou não normal.

... Até sentir o aroma fortíssimo de café torrado e cinzas.

O corpo frágil do Ômega praticamente colapsou ao sentir a presença forte e inconfundível de um Alfa, mas dessa vez, o gene lupino estava agindo como um cão uivando; estava claro que era um outro lúpus.

Chocado e com medo, Taehyung olhou para a figura imponente que estava do outro lado de sua cela.

Os olhos do Alfa eram de um castanho escuro, quase negros, afiados como uma navalha, contrastando com a pele pálida e os cabelos loiros. Estava usando um terno social finíssimo, que com certeza valia mais que todos os Ômegas do mercado juntos, e olhava fixamente para o jovem rapaz preso dentro da cela.

Porém, ao contrário dos outros Alfas, seus olhos não carregavam o mínimo de maldade.

Fate (myg + kth)Onde histórias criam vida. Descubra agora