Fate (myg + kth)

II

Os olhos castanhos de Taehyung voltaram a brilhar no momento em que viu o Alfa do outro lado da cela, mas não de esperança, tampouco de alegria.

Era um brilho de medo.

Taehyung nunca tinha visto um Alfa com o gene lupino antes, pelo menos não que se lembrasse... Exceto seu pai, obviamente. Mas a visão não foi nada agradável para si.

Mesmo com os olhos escuros do Alfa lhe dizendo o contrário.

Yoongi observou o rapaz no fundo dos olhos, surpreso e chocado demais para dizer alguma coisa. O aroma de baunilha e flor de cerejeira do rapaz era muito sofisticado para ser de um Ômega comum, e mesmo assim... Lá estava ele, maltratado naquele lugar horrendo.

– ... Quanto ele é? – Yoongi disse, relutante, a um dos Betas que havia lhe trazido para lá.

Isso fez Taehyung arregalar os olhos. Iria ser comprado por um Alfa... Um Alfa lúpus, para melhorar sua situação.

– Ah, isso podemos negociar. – O Beta disse, sorrindo, enquanto começava uma pequena discussão com o Alfa, que para variar, saiu na melhor, com sua posição natural de dominante... Que fazia cada osso do corpo frágil de Taehyung sentir vontade de se rachar em pedacinhos.

Então, após um tempo, um Beta abriu a cela de Taehyung, o puxando pelo braço, a protestos e súplicas do Ômega, e praticamente jogado para fora.

Isso aguçou os sentidos de Yoongi, que antes que o debilitado Ômega, que não usava nada além de um trapo sujo, caísse ou se machucasse, o pegou pelos braços, sentindo o corpo do pobre rapaz se contrair, com medo. Isso deixou Yoongi irado ao mesmo tempo que arrasado, saber que aqueles criminosos tinham o sangue frio de maltratar a classe mais frágil de sua própria espécie. Se virou para os Betas e rosnou baixinho, no máximo dando a entender que aquilo não era coisa que se faça com nenhum ser humano.

Tentando acalmar o pobre Ômega em seus braços, Yoongi sorriu fraquinho para ele, e o carregou gentilmente para seu carro, o acomodando no banco traseiro, tentando o deixar o mais confortável possível, já que o garoto provavelmente não dormia em uma cama há eras. Então, após ter certeza que o garoto estava seguro e confortável, saiu para resolver o que foi fazer ali.

Taehyung, que havia travado em todo o tempo que ficou na presença forte e quase esmagadora do Alfa, suspirou aliviado quando ele se foi, ao mesmo tempo em que não sabia como se sentir. O Alfa não parecia ser ruim... Mas não significava que seria assim. Ele poderia apenas estar querendo ganhar sua confiança para depois o usar como um brinquedo.

Após alguns minutos, Taehyung sentiu a forte presença do Alfa novamente, e se contraiu mais uma vez, enquanto o Alfa se sentava no banco do motorista e se acomodava ali.

Sentiu os olhos do Alfa em si pelo retrovisor, e novamente, a única coisa visível nos olhos dele era... Algo que Taehyung não conseguia identificar.

– Não se preocupe. – O Alfa disse, pegando Taehyung de surpresa com a voz grave, suave e rouca, totalmente diferente da voz clara e firme que o Alfa havia apresentado durante a... Compra. – Eu não vou te machucar.

"Foi o que todos eles disseram." Taehyung pensou, e encostou a cabeça no vidro escuro do carro, enquanto o Alfa dirigia.

Durante o trajeto, Taehyung ficou pensando em todas as formas de fugir do Alfa. O atacar não valeria a pena, ele era, além de Alfa, um lúpus, e estava muito debilitado para lutar. Correr não parecia uma boa opção, mas não via outra escolha. Só sabia que precisava sair dali, daquele maldito lugar.

Assim que o Alfa parou o carro e foi verificar algumas coisas, Taehyung aproveitou a chance e abriu a porta do carro, sentindo uma pequena pintada de liberdade lhe sendo injetada, e isso foi motivação o suficiente para ele arriscar correr.

Yoongi, que estava checando alguns papéis em frente ao condomínio, observou o Ômega correr completamente sem ritmo e quase caindo sob o próprio peso. Devia ter pensado que o garoto fugiria a qualquer custo.

Sem nenhum esforço, em alguns segundos já havia alcançado o garoto, que bateu com tudo em si, dessa vez caindo no chão.

A expressão que Yoongi viu no rosto do Ômega seria algo que nunca esqueceria na vida.

– Por favor não me machuque. – O Ômega soltou, numa voz vacilante, lágrimas de medo já lhe escorrendo pelo rosto, enquanto se afastava o quanto podia do Alfa. – Eu... Eu só quero voltar pra casa, pra minha família...

Aquelas palavras derreteram o coração de Yoongi. Em uma promessa silenciosa, disse para si mesmo que ajudaria aquele garoto no que pudesse.

– Não vou te machucar. Eu disse. – Yoongi novamente sorriu, usando sua voz mais suave possível. – Eu só quero te ajudar.

Taehyung, ainda com receio, ousou olhar nos olhos de Yoongi.

– Mas... Você me comprou lá...

Yoongi soltou um suspiro profundo.

– Não se preocupe. Vou ser reembolsado quando a polícia chegar.

Isso fez Taehyung arregalar os olhos novamente.

– Polícia...?

Yoongi sorriu, se sentindo finalmente um pouco mais orgulhoso.

– Levei meu celular com um rastreador para lá. A essa altura, a polícia já deve estar no mínimo a caminho. – Ele se abaixou novamente para perto do Ômega, que imediatamente se contraiu outra vez. – Não fique assim... Eu prometo que não vou fazer nada. E você precisa de ajuda... Olhe seu estado.

Taehyung, relutante, permitiu que o Alfa lhe pegasse nos braços e fosse... Sabe-se lá para onde. Provavelmente a casa dele.

Quando saíram do elevador (era a primeira vez de Taehyung em um) Yoongi acomodou o Ômega no sofá e se sentou ao lado dele.

– Como se chama?

Taehyung levou um tempo para responder.

– Kim... Kim Taehyung. – Sua voz saiu mais vacilante que o de costume.

O sobrenome "Kim" fez Yoongi se lembrar de seu passado. Mas rapidamente balançou a cabeça, afastando as lembranças dolorosas.

– Muito bem... Eu me chamo Yoongi. Min Yoongi. – Yoongi sorriu para o Ômega, que apenas assentiu, com uma expressão vaga no rosto. – Eu prometo lhe contar tudo, você deve ter várias perguntas. – Ele não sabia como estava certo. – Mas primeiro, você precisa de cuidados. Aqueles brutamontes não sabem nem como tratar um ser humano... Olhe só para você.

Yoongi não estava errado. O corpo magro, frágil e debilitado de Taehyung estava cheio de hematomas e arranhões, além da pele estar muito pálida, o que poderia ser uma grave deficiência de nutrientes.

– Irei pedir para Eleanor me ajudar. Eu vou... Preparar algo para você comer, enquanto ela te ajuda no banho e com esses ferimentos. Tudo bem para você?

Taehyung assentiu, não acreditando em nenhuma palavra do Alfa. Ele estava agindo como um cavalheiro, mas isso não significava absolutamente nada para si. E quem raios era Eleanor?

Um som de algo caindo espantou os dois, especialmente Taehyung.

– Um Ômega...!