Abby
- Como assim o Tom morre? – diz Jared entrando na livraria dois dias depois e batendo o livro no balcão – No filme ele não morre... eles não terminam juntos mas...
Eu seguro o riso por alguns segundos até que não consigo me controlar. Jared me encara feio e acho graça de sua raiva pela história. Ele definidamente é um bom leitor, que sofre pelos personagens.
- O livro é sobre cura e tem um final um pouco ruim... por isso elogiam tanto o filme. Você gostou?
- Esse não é o ponto... ele morre! Pelo amor de Deus, Abby... é uma morte estupida! – ele vai até seu bolso e pega um óculos e coloca desajeitadamente enquanto me encara e abre o livro – Aqui! Olhe!
- Você usa óculos?
- Há algum tempo... o sol fez alguns estragos na minha visão e uso óculos de leitura.
- Você está envelhecendo rápido, Jared – digo rindo e pego o livro na parte que ele me destaca enquanto ele me encara de cara feia pelo comentário – consigo ver sua revolta, tinha acabado de terminar quando apareceu lá em casa para esfregar bifes em seu rosto...
- Você ofereceu!
- E terminamos jantando macarrão! Aqueles bifes eram meu jantar! – eu me viro no balcão e pego alguns outros livros e entrego para ele – veja, esses podem te agradar mais.
- Você quer me fazer de um leitor?
- Não deve estar podendo fazer muita coisa na fazenda com esse braço... você veio dirigindo até aqui?
- Colin me trouxe... deve aparecer aqui a qualquer minuto.
- Vai... leva os livros e volta para me contar o que achou.
- Ahh... ok... vou fazer isso. Tenho mais um mês de gesso.
- Boa sorte com isso.
- Obrigada pelos livros, Abby...
- Se divirta!
Ele saiu. Mas voltou. Algumas vezes. Quando o gesso saiu ele continuou vindo. Seis meses depois, Jared era frequentador assíduo da livraria e passou a pagar pelos livros. Ele colocava seu óculos e me explicava porque gostou ou não do livro e começou a procurar na internet sobre eles. Eu fazia um café para nós dois e a falta de movimento da loja permitia que discutíssemos livros por horas. Era divertido. Meu coração começa a ficar confuso com aquilo, mas era fácil perceber que Jared me via apenas como amiga, sempre tão calmo e engraçado. Nada em mim o atraia, era fácil de ver. Com as borboletas no estomago e a cabeça confusa, ele começou a estar cada vez mais presente em minha vida: Jared aparecia o tempo todo na livraria, ele via filmes comigo em minha casa, nós riamos, jantávamos, conversávamos. Tinha certeza que ninguém me conhecia tão bem quanto ele, e sabia que estava me matando aos poucos.
Funcionava como um ritual. Jared aparecia ao longo da semana. Às sextas e sábados me ajudava a fechar, via alguma coisa comigo, as vezes jantava, e então saia e sabia para onde ele estava indo. A cidade inteira sabia. Jared e suas mulheres, as coisas que ele fazia. Todas as vizinhas fofoqueiras de Riverville sabia, era um milagre que ninguém tivesse começado um rumor sobre ele e eu. Era como se fosse tão indiferente, não atraente, que as pessoas não conseguiam nem mesmo me ver como uma concorrente ao coração de Jared. Era apenas a pequena dona da livraria em que ele aparecia todo o tempo. Suas mulheres estavam no Gibson's e em outros lugares fora da cidade.
Só me torturava percebendo que precisava acabar com aquilo. Não ia me declarar e ao mesmo tempo vê-lo partir me fazia mal. As coisas foram se encaixando e reparei: Jared tinha vergonha de ser visto comigo. Tudo começou quando tentei chamá-lo algumas vezes para fazer compras comigo para nossos jantares, depois percebi que nem mesmo ao meu lado ele gostava de aparecer, e era sempre um pouco estranho quando o encontrava pela cidade.
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O Coração do Cafajeste - Degustação
RomanceAbby se apaixonou por Jared quando tinha 12 anos, mas este primeiro amor está longe de ser uma lembrança de adolescência e continua a acelerar o coração da livreira de Riverville. Mas o cowboy é um cafajeste, que muda de mulher a cada noite e nunca...