Carta de suicídio pt. I

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Dedico essa carta para ninguém. Não há ninguém que eu dedique isso, nem uma alma sequer.

Afinal, quem quer ver seu nome em uma carta de suicídio?

Escrevo essa carta sem ter o propósito de despedida, mas sim o propósito de me ouvirem.
Eu não culpo ninguém pela minha morte passada, de fato não culpo, seria ruim culpar alguém por algo que não fez, seria injusto. Não seria? Sabe, aquela lâmina não era grande coisa, porém, significara mais do que qualquer pessoa que eu conhecera, pois ela que me trouxera alívio quando eu mais precisei, porém, não dedico essa carta à ela. Não mesmo.

Uma carta sem dedicatória.
Sem destinatário.
Sem precedentes.
Sem arrependimentos.
Sem sentimentos.

Uma carta cheia do vazio, um vazio avassalador, pertubador, um vazio escuro e vazio.

Sabe, eu certamente lembrei de desligar a água daquela banheira que meu corpo boiava, mas eu vi que não havio o feito, acabei dando trabalho para minha mãe, ela provavelmente brigaria comigo por estar gastando água ou por estar demorando muito no banho, mas eu não á vi ali, ela nem sequer estava em casa, quanto mais no banheiro.

Eu fiz aquilo sozinha

Sabe, isso certamente não é um poema, mas sim, uma carta feita com o passado para ser entregue pro futuro mas estaria sendo lido pelo presente, esses irmãos sempre arrumam confusão.

Agora me vem a cabeça... Eu lembro daquele café que frenquentava todas as tardes frias e chuvosas, eu lembro também do barulho do sino quando eu entrava, chegava a pensar que ele me adorava, pois com os outros ele não tocava, ficava emperrado e dificultava a entrada, também lembro dá planta ao lado do balcão que estava sempre seca e eu ia escondida agua-la, lembro-me também dá velha máquina de chocolate quente, ela estava sempre quente e as vezes pifava, por sorte nunca aconteceu comigo.

Lembranças que naquela hora eu havia me esquecido, elas provavelmente faria me arrepender do meu ato, porém as tarjas pretas que tomei, mataram meus pensamentos.

Nossa, essa é a última folha do meu antigo papel jogado no lixo? Tenho que parar por aqui e esperar acharem as outras cartas.

(Assinado: Dentro da banheira)

Rosa PisadaOnde histórias criam vida. Descubra agora