O DIA PROMETIA SER CORRIDO, mas enquanto caminhava foi surpreendida com um chamado de voz doce e limpa, aparentemente feminina.
— Ei, senhorita Keough! Está indo almoçar? Posso ir com você? — disse.
Carolina se virou a fim de reconhecer quem a chamava. Era Alice, uma de suas pacientes mais queridas. Então abriu um sorriso e respondeu:
— Ally, que surpresa te ver! Não era pra você estar na aula?
— É, tecnicamente sim. — retrucou e logo indagou novamente — Mas então, posso ir com você?
— Oh querida, sinto muito. Na verdade eu estou indo para casa.
— A essa hora? Você não deveria ficar até o fim da tarde?
Alice era, além de sua paciente, uma aluna do segundo ano na East Bladen High School. Era de fato uma boa pessoa, mas não ligava muito para os estudos, então passava a maior parte da manhã perambulando por onde pudesse na escola, sempre driblando os monitores. A realidade é que ela não era muito sociável e não era muito fã de fazer novas amizades (o que se associa ao fato dela ser um pouco rebelde), por isso há um ano fazia visitas semanais à sala de Carolina, psicóloga contratada da escola. Ex-psicóloga, na verdade.
— É o meu último dia aqui. Estou de mudança.
— Do que a senhora está falando? Vai embora da cidade?
— Mais precisamente do estado. Estou me mudando para a Califórnia.
— Ah... tudo bem então. — Alice logo esmoreceu. Não queria se desfazer dela.
— Mas não se preocupe, eu já falei com a diretora e quem vai ficar no meu lugar é uma grande amiga minha. Fizemos faculdade juntas. E além disso, eu ainda tenho o seu número de telefone.— Tá. Tanto faz. Até algum dia. — respondeu a garota, dando de ombros e caminhando de volta para dentro do prédio.
Carolina entendia muito bem o comportamento de Alice, afinal de contas ela não era apenas a sua psicóloga. Era uma confidente, uma amiga. E não se pode dizer que foi coisa do acaso. Sempre que lhes eram mandados novos pacientes, a doutora deixava de lado sua graduação e de início preocupava-se apenas em deixá-los confortáveis ela.
Após o caso, Carolina andou algumas milhas de carro até chegar na empresa de locação e fretes, onde fez a reserva de um caminhão específico para mudanças interestaduais. Foi para casa, a 2 milhas de onde estava. A grande maioria das coisas que ia levar já estavam separadas em caixas de todos os tamanhos possíveis. O problema era quando o caminhão chegasse, por isso, após algumas mensagens, conseguiu convencer o seu irmão mais novo a ir ajudá-la no trabalho braçal. Eram mais ou menos duas da tarde quando ele chegou.
— Achei que nem ia mais vir.
— Na verdade eu deveria deixar você se virar. Já está nos abandonando mesmo. — respondeu Vincent. Ambos sorriram e foram de encontro um ao outro, envolvendo-se em um forte abraço.
— Não diga isso, Vin. Não estou abandonando você. Apenas vou tentar alguma coisa por lá.
— Aham, sei.
Vincent era poucos anos mais novo que Carolina. Alto, porte físico mediano, os traços faciais bem que pareciam com o dela, mas não é como se ele botasse uma peruca conseguiria facilmente ser sua irmã gêmea. Ele fazia faculdade lá mesmo em Elizabethtown e tal como ela, possuía boas notas.
Os dois eram bem próximos. Durante a infância, brigavam bastante e quase sempre estavam de mal um com o outro. Contudo, quando estavam bem e o coitado se envolvia em brigas, sempre era ela quem resolvia. Mesmo que isso significasse ter que lutar com os encrenqueiros.Durante a adolescência, os dois eram cúmplices dos crimes um do outro. Quando Vincent levava garotas escondido para a casa dos pais, Carolina o acobertava. O mesmo servia para quando ela pulava a janela de casa e ia se encontrar com as amigas em algum bar por aí.
Os dois jogaram conversa fora durante algumas horas, até que o U-Haul reservado chegou. Demorou algum tempo até que tudo estivesse carregado.
— E pronto. — afirmou Vincent ofegante enquanto terminava de colocar a última caixa dentro do caminhão.
— Ufa! Você é um anjo. — e ambos sorriram.
— E então, você pretende ir ainda hoje?
— Mm... Não. Vou sair amanhã pela manhã.
— Quer ir naquele restaurante que sempre vamos? — ele ofereceu.
— Depende. É por sua conta? — Carolina questionou, ironicamente.
— Engraçadinha...
E eles foram. Era a última noite juntos antes que ela se mudasse pro outro canto dos Estados Unidos.
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Carolina Keough
General FictionCarolina é uma ex-psicóloga com estranhas ambições profissionais. Nesta obra em desenvolvimento, sua história começa com seu pedido de demissão da escola onde trabalhava, a East Bladen High School, e sua mudança de Elizabethtown, na Carolina do Nort...