Quando olho para o céu,
Vejo o Sol e suas nuvens,
E penso que eu talvez não cuide
de vidas o bastante.
Mas logo o peso das responsabilidades,
me consome.
O levitar estranho
de sacos de areia por entre as nuvens claras.
Uma explosão, o fogo, o metal,
e o cheiro indistinto de pólvora.
Anunciam com grandeza a Guerra.
A Guerra que se combate
para adentrar os muros do mundo celestial.
Mas eu só fujo dela,
Aceitando sua permanência entre meus ossos.
Me fatigando mais ou menos com isso.
Deixando um pouco da minha vida
para trás a cada dia.
Porque ela são os sacos de areia
que flutuam na paisagem bela do céu.
Ás vezes a compreendo,
Ás vezes não.
E sempre há um tolo de espírito exaltado
me provocando com sua afeição pelo belo.
Quem bebe apenas da beleza,
não sabe nada sobre ela.
Eu cavo com minha alma,
para encontrar as raízes podres do belo,
sufocando em um lago de feiura e horror.
Que delírio é o belo!
Que delírio é o feio!
Que delírio é o bom e o mal!
Que delírio é a vida!
A vontade de viver se torna abstrata.
Um tom cinzento preenche todas as memórias.
E palavras viram sons inconscientes.
Para estar vivo não é preciso pensar,
Mas para viver,
Só se vive ao pensar.
Quanto tempo deixei de viver?
O tempo ao todo deixei de viver.
E um avarento banqueiro da vida,
joga as moedas de meus dias no lixo.
Mas meus olhos entendem a verdade disso.
Pobre o ladrão que roubar meus dias,
pois eles não têm valor algum.
Talvez devesse ser escravo de algo,
Para que meus dias tenham
o valor de meu trabalho.
Que delírio é dar valor à qualquer coisa!
O banqueiro que sufoque no luxo e na pobreza.
Minha alma fraca,
despreza todo conforto e toda dor.
Eu contemplo o espelho do não existir.
Porque minhas lágrimas de dor e de alegria,
se perdem igualmente na chuva.
A hora da morte não diz mais
do que a hora de acordar para um longo dia
vazio de compreensão.
O que é que mais poderia se querer?
Existem canções nunca ouvidas,
Mundos nunca descobertos,
E riquezas nunca tocadas.
Mas tudo isso nada vale,
se fizermos no apelo
de ser algo mais do que somos.
E somos efetivamente nada.
Um poço vazio que aspira
ser mais do que é.
YOU ARE READING
Eu contemplo o espelho do não existir
PoesíaUm poema com o niilismo da vida como tema central. Capa: GOYA, Witches Flight.