Prólogo

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Era uma noite silenciosa. As nuvens cobriam totalmente a lua cheia. No meio de toda aquela escuridão, dois seres agitados se destacavam. Suas aparências estavam ocultas pela falta de luz, contudo, dava para perceber um deles fazendo uma estranha pose com as mãos próximas aos cabelos, enquanto o outro parecia tentar recriar a imagem daquele em um quadro.

- Está quase pronto, Sr. Lotus... – diz timidamente o pintor, trocando olhares entre seu modelo e o quadro.

- Não me chame de senhor! Não vê que sou jovem e belo?! Tem certeza que consegue enxergar toda a minha beleza nessa escuridão? – questiona tentando manter sua peculiar pose.
 
-...Ah, sim! Meus olhos são um pouco especiais – afirma distraidamente.

- Ótimo. Lembre-se de captar bem cada detalhe. Qualquer erro seria uma afronta a minha perfeição – ameaça presunçosamente.

Cerca de dez minutos se passaram. Com estes, mais alguns diálogos e ameaças.

- E....acabado! – afirma o Pintor, com uma provável expressão satisfeita.

- Finamente! Meus belos braços precisam de descanso. Agora como hei de enxergar teu trabalho? quer que este belo ser busque lenha para uma fogueira? – questiona peculiarmente.

- Não é necessário. Eu usei minha tinta luminosa especial – dito isto, o pintor realiza um pequeno estralo de dedos. De súbito, o seu quadro se transforma em uma fonte de luz, mas que, de alguma forma, apenas iluminava o mesmo.

O quadro retratava um ser humanoide extremamente belo de cabelos longos e rosados. Dois pequenos chifres saiam de sua cabeça. Suas pupilas pareciam duas flores. A escuridão da noite estava no lugar de suas roupas e, ao mesmo tempo, parecia absorver-lhe. Como se toda aquelas trevas o estivessem devorando.

O modelo observa, estático, aquela curiosa obra.

- Eu irei confiscar isto – diz enquanto agarra o quadro e o ergue no ombro.

- Anh? Por que, senhor Lotus? – questiona tristemente o pintor.

- Este ser é o único que pode possuir tamanha beleza. Não deixarei nem mesmo um quadro copiar tal – diz com seu familiar semblante superior.

- Mas o senhor pediu para não esquecer nenhum detalhe! – aponta o pobre escritor roubado.

- De fato. Festes um magnífico trabalho – elogia enquanto encara novamente o quadro-, porém mantenho minha escolha.

- Mas eu quero muito colocá-lo em um museu! – sibila o artista.

- Um museu? Não tem nenhum desses aqui no submundo. Não me diga que...

- Eu vou para o mundo terreno! – interrompe confiante.

- Não faça piadas, garotinho. Estamos todos presos aqui. E não existe nenhuma forma de deixarmos esse lugar – diz asperamente e, de alguma forma, majestosamente.

- Não! Eu certamente vou sair! Eu vou sair daqui! Eu vou encontrar o meu avô! E eu vou fundar um museu no mundo terreno! – diz o pintor com um olhar determinado.

- Ho, interessante – Uma  pequena ideia vem a sua mente-. Então que tal fazermos um acordo?

- Um acordo?

- Sim. Me prove que você consegue fazer tudo isso e quem sabe eu te deixe possuir meu quadro – oferece, já deixando claro que o quadro agora é seu.

- Eu aceito, senhor Lotus! Mas como eu vou te mostrar caso eu acabe saindo sozinho? – questiona intrigado.

- Quê? Não seja tão lento. É claro este ser belo ficará ao seu lado até você realizar tudo isso. E nem pense em trapacear! – responde.

- Ao meu lado? Você promete? – Um leve brilho parece preencher os seus olhos.

- Eu não acabei de falar isso? – questiona com um pequeno bocejo.

- Você vai mesmo tresmo ficar ao meu lado? – insiste.

- Ahn? Certo, certo – diz resfolegando. - Eu vou mesmo tresmo ficar ao seu lado. Feliz?

- Sim! – de alguma forma, o sorriso largo do pintor brilhava em toda aquela escuridão.

- Você é um garotinho estranho Scrib – informa Lotus.

- O quê? Você que é o esquisitão aqui, senhor Lotus! – responde gargalhando.

- Você deve querer dizer “estranhamente belo” – diz com seu tom presunçoso. – Bem, que seja. Vamos dar o fora desta escuridão. Eu preciso de meu sono de beleza – diz ao soltar mais alguns belos bocejos.

- Ok.

Os dois seres logo seguem seu rumo e desaparecem na noite.

A Masmorra do Caos - EternizadosOnde histórias criam vida. Descubra agora