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Os pingos de chuva molhavam meus cabelos e minha pele. Minhas roupas e meus sapatos.

Estava gelado. Era como se várias agulhas estivessem caindo do céu e furando minha pele. Eu queria entrar no casarão e me enfiar debaixo dos cobertores, mas eu não poderia desistir de tudo só por causa de uma chuva.

Nós combinamos.

Ele prometeu que viria.

Onde você está, Chase?

A noite estava escura. A luz da lua era a única coisa que iluminava a rua, já que a tempestade fez com que toda a energia de Coolley acabasse. Os trovões eram tão estrondosos que eu me encolhia a cada um deles. A mochila em minhas costas já pesava, e o frio estava quase me congelando. Meus cabelos molhados caíam sobre meu rosto toda vez que eu abaixava a cabeça para olhar meus sapatos e o vestido quadriculado em meu corpo.

Ele estava demorando, mas eu tinha certeza de que ele viria.

Ele nunca me deixaria.

Ele prometeu.

As grades do grande portão me separavam da rua. Poucos carros passavam de cinco em cinco minutos. Eles eram dirigidos com cuidado pela curva que ficava bem em frente ao grande casarão.

O orfanato Coolley abrigava trinta e cinco crianças deixadas pela família, ou que ficaram sozinhas no mundo.

Eu era uma destas crianças que ficaram sozinhas no mundo.

Não há um dia que passe sem que a diretora esfregue isso em minha cara.

Os Foster's. A família marcada pela morte.

Meus avós morreram em um incêndio na casa onde moravam. Pelo menos foi o que ela me disse. A casa era um pouco mais isolada da cidade, e só perceberam que ela estava ardendo em chamas quando viram a fumaça subir pelo céu escuro. Minha mãe estava grávida de mim. Disseram que depois da morte deles, ela desenvolveu hipertensão gestacional. Eu não sei exatamente o que isso significa, mas sei que fez minha mãe também ser tirada de mim.

Quando eu nasci, Elisabeth Foster morreu. Complicações no parto. Disseram que sua pressão subiu muito e ficou difícil reverter.

E apesar de ninguém se lembrar do meu aniversário, eu sabia que ele era exatamente no mesmo dia e exatamente na mesma hora em que minha mãe morreu.

Éramos só eu, minha irmã mais velha e meu pai. Nós íamos embora desta cidade, íamos para longe e nunca mais voltar.

Um caminhão bateu em nosso carro, na rodovia principal.

Eu fui a única sobrevivente.

— Sadie!

Levantei minha cabeça e meus olhos encontraram o garoto correndo em minha direção, pela calçada da rua.

Meu corpo instantaneamente relaxou e eu pude respirar melhor.

Eu sabia que ele viria.

Eu abri um sorriso largo saí do meu esconderijo, atrás da árvore. Corri até o portão e agarrei suas grades.

— Chase...

O garoto parou a minha frente. Seus cabelos negros estavam caindo sobre sua testa, grudando-se a ela. Ele estava completamente encharcado, assim como eu. Seus olhos verdes tinham um brilho preocupado, enquanto ele tocava minhas mãos presas às grades.

D E A T H (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora