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A faculdade me fez realizar algumas loucuras. Eu não tinha muitos amigos, mas conheci pessoas legais que me fizeram bem, durante um tempo. Eles me levaram para bares, festas, boates. Eu não era acostumada com aquilo, mas confesso que gostava. Gostava da agitação, de bebida e de algumas drogas ilícitas que eles usavam. Aquilo era bom o bastante para me fazer esquecer da minha vida.

Em uma das noites que saímos, eu bebi tanto que, no outro dia, além da dor de cabeça pela ressaca, eu tinha uma tatuagem no pulso direito.

Uma joaninha.

Eu gostava delas. Lembro que, quando eu ficava chateada com algo que acontecia no orfanato, eu corria até a grande árvore da frente, me sentava debaixo dela e chorava. E, quando eu desenterrava o rosto das minhas mãos e secava meus olhos, encontrava uma joaninha com as cores preta e vermelha pousada em meu joelho. Ela era linda. Aquela era uma das poucas lembranças boas que carreguei em minha infância. Acho que ficou em meu subconsciente e, quando eu estava mais alterada do que deveria, tatuei uma em minha pele. Aquela joaninha ficaria marcada em mim pelo resto de minha vida.

E também, estaria marcada no corpo das vítimas de um assassinato.

Pelo menos até elas não servirem de comida para os bichos debaixo da terra.

— Por que eu sinto que você está envolvida em tudo isso, Foster?

Levantei meu olhar para a outra ponta da mesa. Devan Caldwell estava de costas para mim, a cintura apoiada na mesa e os olhos no quadro, que continha todas as fotos, todas as pistas, todas as hipóteses ligadas por um fio de lã vermelho.

— Não é porque eu tenho uma tatuagem idêntica a uma das vítimas, Caldwell, que isso faz de mim uma assassina.

Caldwell soltou uma curta risada nasalada.

A sala de reunião da casa do prefeito era retangular e ampla. Uma mesa de madeira escura e doze lugares ocupava grande parte dela. Enquanto os outros descansavam do dia lotado de informações, eu e Caldwell não conseguíamos arrumar tempo para fechar os olhos. Nossas mentes funcionavam da mesma forma. E, apesar de nossas diferenças, nós tínhamos o mesmo objetivo: pegar esse filho da puta.

— É engraçado ver você argumentando. É quase como se quisesse me matar também.

Eu revirei os olhos.

— Esse eu assumo. Vontade não falta.

Devan se desencostou da mesa e levou seu olhar até mim.

— Está com medo, Foster?

Sim.

— Não.

O fato de coincidentemente o assassino ter rasgado a pele daquelas garotas desenhando uma joaninha exatamente igual a minha, definitivamente me assustou. Eu me fiz de inabalável, e ninguém nunca perceberia. Eu era ótima em fingir.

Pensei em não contar sobre aquela pista, mas eu não poderia fazer isso. Pessoas estavam morrendo e eu não mediria esforços para achar o culpado. Pensei também em passar o resto da viagem de mangas compridas, mas é óbvio que não daria certo. Eu estava cercada por investigadores. Os melhores detetives do departamento. Eles gravaram cada traço meu e, no momento em que falei sobre a joaninha, Blaine logo reconheceu.

Foi estranho. Todos me encararam de um jeito esquisito, até mesmo Robin. Mas logo cederam à hipótese de que era apenas uma infeliz coincidência.

E eu realmente esperava que fosse uma.

— Está sim.

Eu bufei.

— Por que não cuida da sua vida e me deixa em paz, Caldwell?! — disse entredentes, me levantando e apoiando as mãos na mesa fria. — Você é tão amargo que sente a necessidade de fazer com que os outros sejam também. Você não tem nada na vida além do seu trabalho e a necessidade de diminuir os outros. Você é ridículo, Devan.

D E A T H (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora