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As passadas no chão do corredor do hospital poderiam ser escutadas de longe. Eram completamente ritmadas. Quase seguiam um padrão, como soldados de um exército prontos para a guerra.

Eu e a equipe caminhávamos em direção ao elevador, que nos levaria até o andar onde ficava o necrotério do Hospital Coolley.

Era difícil dizer que aquilo era realmente um hospital. Era pequeno demais. Haviam poucos quartos para internação, um pronto socorro que estava completamente vazio e o centro cirúrgico só realizava exames invasivos, como endoscopia e colonoscopia. Não havia sequer uma cirurgia marcada. Literalmente nenhuma.

O pior de tudo era a unidade de terapia intensiva. Não havia nem ao menos um monitor cardíaco.

Era quase desesperador.

Acho que as pessoas não ficavam doentes em Coolley. Talvez eu esteja tão acostumada com a correria dos hospitais de Detroit, que um hospital no interior me deixou levemente assustada. Não que eu ache ruim, ainda bem que não haviam doentes na cidade, eu não era uma mulher gelada com o coração de pedra. Menos mal para todos eles. Só que eu percebi tantos erros naquele hospital, que meus dedos coçavam para alcançar meu celular, ligar para assistentes sociais e denunciar toda a lista de falhas que comecei a fazer desde que pisei aqui.

O xerife Bloom conduzia a equipe, um pouco mais a frente. Ele vestia um uniforme verde musgo e andava sempre com a mão no coldre e de peito estufado, como se soubesse que era a autoridade máxima naquele lugar. Não sei se ele sempre foi assim, ou se estava fazendo aquilo só porque estava intimidado com a presença da melhor equipe do melhor departamento de segurança do estado. Eu poderia fazer uma análise completa do comportamento dele, mas estava ocupada observando os funcionários do hospital.

Todos eram esquisitos.

Tudo neste lugar era esquisito.

Robin estava um pouco nervosa. Eu sabia disso porque, conforme andávamos, ela desabotoava e abotoava um dos botões de seu jaleco a todo momento. Eu não tinha certeza se era porque estávamos prestes a dissecar cadáveres, pelo menos desta vez.

Acho que ela também se questionava o porquê daquele hospital estar às moscas. Não duvidava de que ela também estava reparando em todos os itens que já estavam em minha lista.

Nós descemos até o andar do necrotério e caminhamos pelo corredor largo. Avistei duas macas encostadas à parede, ambas de lados diferentes. As coisas aqui em baixo eram bem diferentes do subsolo do D.I.M.. As luzes iluminavam perfeitamente bem. Não era tão sombrio, apesar da imensidão branca, que cobria do chão ao teto, incomodar meus olhos.

— Vocês duas podem entrar. O resto de nós pode ficar na outra sala, para dar mais conforto à vocês. Aí dentro é meio apertado — o xerife disse quando paramos em frente à porta dupla azul escuro, no final do corredor.

Eu assenti. Robin foi a primeira a entrar na sala do necrotério, provavelmente para arrumar os materiais e querendo acabar logo com tudo isso

Thomas me lançou um sorriso encorajador e puxou Katherine pela mão, até entrarem na porta ao lado. Blaine foi logo em seguida, não sem antes passar seu olhar observador de detetive por todo o local. O xerife o seguiu, e Devan, que permanecia calado como sempre, enfiou as mãos nos bolsos e me encarou.

Me inspecionou.

— Faça o que faz de melhor, Foster — sua voz rouca soou.

Eu soltei um sorriso amarelo e assenti.

Pelo menos ele reconhecia que eu era boa.

Me dando as costas, Caldwell passou uma das mãos pelos cabelos dourados e entrou pela segunda porta.

D E A T H (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora