As horas passavam lentas e arrastadas dentro da estreita trilha na floresta do Bardon, o bêbado. Eu estava exausto. Havia andado o dia todo, desde que tinha saído pela ampla porta do orfanato, percorrendo as vielas e tendas de comerciantes que misturavam seus gritos ao rugido de carroças cheias de legumes frescos e crianças que corriam para lá e para cá.
Meus pés doíam e latejavam ao andar, rompendo antigas bolhas e criando novas, esmagando folhas mortas, que se amontoavam no chão como um grosso tapete. Uma longa temporada de chuvas de outono sedeu lugar ao frio do inverno que vinha surgindo aos poucos. As árvores em nossa volta eram nodosos troncos marrons e secos, com ramos e galhos nus e semi-nus, com poucas folhas pintadas de dourado e vermelho.
Quanto mais avançavamos mais a trilha se tornava estreita e perigosa. O piso da floresta estava cheio de rochas, com escorregadio, musgo e limo nascendo. A floresta havia se tornado selvagem e muito escura. Uma densa muralha de árvores se formavam a nossa frente. Suas copas cobriam a floresta, mas alguns frágeis raios pálidos de luz se infiltravam por ela, cobrindo a tudo com o tom escarlate do outono que era deixado para trás.
A floresta estava cheia de sombras que se projetavam nas árvores, fazendo parecer monstros retorcidos e cheios de braços, com diversas mãos feitas de madeira antiga, com longas unhas de folhas alaranjadas.
O vento gemia em agonia e uivava, fazendo farfalhar os galhos e as folhas dançarem um baile silencioso pelo chão da floresta. Mas não era só o vento que gemia e uivava. Ruídos surgiam de todos lados e eram sufocados posteriormente pelo silêncio. Esquilos serpenteavam árvores, passaros grasnavam, coelhos corriam de moita para moita, cobras silvavam ferozmente, sapos coaxavam e tantos outros, não muito amigáveis.
- Por aqui - anunciou Zack.
Ele era um garoto de dez anos de idade, esguio mas musculoso com seus ombros largos e braços apresentando escassas veias e músculos rígidos. Longos cabelos castanhos claro lhe caiam sobre seu rosto fino de uma certa beleza rústica, por baixo de toda aquela sujeira. Tinha grandes olhos azuis indico que mais pareciam grandes safiras embutidas em um rosto brincalhão. As suas roupas estavam sujas e esfarrapadas, os pés estavam cobertos por grandes botas desgastadas, que pisavam com força no solo de terra fria. Em sua mão direita empunhava um machado de cabeça dupla enferrujada pelo tempo, mas muito bem afiado e com um cabo curto feito de cipreste. Nas costas ele levava um pesado alforje de pele de urso, enorme, tão grande quanto o garoto que o levava.
- Tem certeza Zack? essa parte da floresta não parece muito segura. - disse eu preocupado, indo logo atrás dele.
Eu era um grande e magro garoto de oito anos de idade, com cabelos extremamente mal cuidados, longos e negros como pixe que caiam como uma cascata sobre os ombros, emoldurando meu rosto de feições bonitas - para um órfão pobre como eu -, com olhos verdes como esmeraldas lapidadas em um rosto fino, lábios gordos e pele pálida como geada. Eu estava igualmente esfarrapado e sujo, mas levando uma espada maior que a mim mesmo, embainhada em minhas costas.
- Sim Arthur - disse firmemente ele. -, Lisandra, Jihan e a Alana, estão na clareira do bêbado - ele fungou e pulou uma grande raiz, que mais parecia um tentáculo negro. -, eles estão esperando por nós - disse orgulhoso. -, eu também nunca me perderia nessa floresta, passei a maior parte da vida nela.
- iremos matar ratos - disse eu. -, isso a gente poderia fazer no orfanato. Lá está cheio deles - tropecei em uma raiz mas me mantive em pé. - e você só tem dez anos. Sua vida não é tão grande para se gabar desse tipo de coisa.
- Exterminar um ninho inteiro - ele me corrigiu. -, de ratos que estão espalhando doenças, comendo mercadoria e atrapalhando a vida de todos nós.
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O conto do herói de cabelos negros.
FantasiaDe algum lugar nasceu um pequeno garoto com cabelos negros como a noite. Foi encontrado por um homem, enrolado manto, com uma bela espada e uma amuleto sobre ele. O garoto fora levado a um orfanato a uma das vilas de Grezaor. Os cabelos negros eram...