Três.

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Estação de Metrô, New York; 24 de Agosto; 22:13

— Eu nunca fiz isso. – Any diz com olhos brilhantes, observando cada detalhe da estação.

— Nunca fez o quê? – Josh pergunta com a voz abafada devido ao amontoado de pipoca na boca, esta que acabaram de comprar na entrada da estação. – Fugiu de um casamento com um cara que acabou de conhecer?

   A garota gargalha, revirando os olhos.

— Também. – Ela enche a palma da mão de pipoca também, enfiando tudo na boca de uma vez. – Andar de metrô.

— Anga gi getô? – Beauchamp imita a voz abafada da garota, fazendo-a gargalhar.

— Andar de metrô. – Ela diz depois de alguns segundos, agora com a boca limpa.

— Sério? – Ele diz surpreso. – Burguesa safada!

— É sério! – Any ri. – Mas eu nunca precisei em São Paulo porque nunca saía do meu bairro e, quando precisava, usava o carro da minha mãe. E aqui... É, ainda não me acostumei. Fico com medo de me perder.

— Então parece que estou te fazendo viver loucamente. – Josh provoca, fazendo-a rir.

     O barulho alto do trem invade o local e para segundos depois. Josh corre para a porta e abre os braços, apontando para dentro do mesmo.

Voilà. Bem-vinda ao metrô, senhorita Any. 

— Obrigada. – Ela curva-se, puxando o vestido como se fosse uma princesa, e eles entram rapidamente, acomodando-se em um dos bancos vagos.

— Porque? –  Josh pergunta, depois de alguns segundos em silêncio. Any o observa confusa. – A promessa. Porque a fez?

— Já parou pra pensar que o que sempre estraga as boas memórias de uma noite, é o dia seguinte? – Ela começa a dizer enquanto o garoto a observa com olhos atentos. – Eu me dispus a não deixar que isso acontecesse. Se eu fosse viver algo em uma noite, eu não queria deixar as memórias boas se estragarem depois. Aí o cara não liga, ou acaba se revelando um bosta, ou me trai... Sei lá. – Ela ri. – Agora, se não houver o dia seguinte, aquela noite sempre vai ser perfeita. Sempre vai ser uma memória boa, um friozinho na barriga gostoso. – Ela respira fundo. – Mas nenhum cara insistiu. – Ela ri. – Eles sempre fogem ao descobrir que não irei nem mesmo beija-los e, no fundo eu fico feliz, porque vejo que acabei me livrando. Não que isso signifique que esses caras não são boas pessoas, mas que, de certa forma, acreditam que o beijo ou levar a garota pra casa são fundamentais pra curtir uma noite ao lado de uma pessoa. E não é. Tem mais que isso.

     Josh a fita com atenção, enquanto a garota respira fundo para recuperar o fôlego depois de tanto falar. Ele reverbera suas palavras na mente, encontrando pureza nas suas afirmações e sente, involuntariamente, os lábios abrirem um sorriso.

— Desculpa, eu falo muito. – A menina diz de repente, tampando o rosto com a mão. – Juro que não acredito em conto de fadas e que não sou louca.

— Ei, eu não te acho louca! – Josh ri, empurrando-a de leve. – Mas a parte do conto de fadas eu desconfio. – Ele brinca.

    Any descobre o rosto e revira os olhos, o observando.

— Então eu poderia considerar que agora é a parte que a princesa passa por uma tragédia depois de ser ingênua e acreditar em um vilão disfarçado de bonzinho em uma festa de casamento? – Ela provoca, o encarando com olhos cerrados.

— Ou a parte que um príncipe encantador cai nas armadilhas da rainha má que usa feitiço pra ser a mulher mais bonita da cidade e engana-lo. – Ele diz, rebatendo a provocação. 

Por Hoje Nós. | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora