Numa tarde de verão ensolarada na divisa de nenhum lugar com lugar nenhum um pequeno menino caminhava em direção ao topo de uma montanha.
De cima, o menino admirava os cenários que a natureza lhe propunha, plantas, animais e o grande reluzente sol.
Circular e prepotente brilhava o maior astro de nossa galáxia, iluminando uma parte de cada vez até trazer os dias a cada extremo do globo.
O sol fazia seu trabalho silenciosamente, muitas vezes passado despercebido pelos habitantes daquele planeta, a não ser pelo menino que ali estava, o admirando do pico da montanha mais alta daquele lugar cujo nome não nos importa.
O menino, inocente e curioso, tinha perguntas a fazer. Perguntas essas, não normais e cotidianas, mas ousadas, questionamentos considerados audaciosos se não fossem deferidos por aquele pequeno garoto com anseio por aprendizado.
O garoto chegava ao topo extremo da montanha, caloroso e verde assim como desde sua base. Olhou em direção ao grande astro em sua frente, mais perto do que nunca havia chegado, pensando em como atrairia sua atenção.
Cogitou por um momento gritar para conseguir que o grande astro o notasse, pensou até em jogar pequenas pedras que encontrou pelo caminho e armazenou em seu bolso, porém desistiu das ideias quando percebeu que ele era grande demais para ter sua atenção tomada por uma mera criança.
Porém, como era de se esperar, ele não desistiu, se sentou ao chão e aguardou pacientemente, sem nenhum tipo de ideia mirabolantes ser formada em sua cabeça, apenas esperando as coisas acontecerem como deveriam.
Passou-se um tempo. Não sabia quanto determinadamente até porque o tempo em si é irreal, porém sabia que ele havia passado. Permaneceu sentado, se atentando à magnitude da grande bola flamejante que a sua frente se encontrava.
Seu aspecto quente afastava outros seres, se escondendo dos raios que ele emitia, o poder da estrela ofuscava tudo em sua volta, nada era páreo para aquele abundante astro.
O tempo passava e o menino não se movia, apenas fitando intensamente o precursor dos dias de cada parte do mundo onde morava, esperando de alguma forma ter sua atenção.
Ao contrário de desistir, o menino continuou ali, porém ele percebeu que não estava sozinho.
Ao seu lado descansava uma flor que, assim como ele, estava voltada para o sol. o que queria, afinal, aquela flor? Ela estava a mais tempo ali? Tinha o mesmo objetivo do menino?
As questões rondavam a cabeça do garoto curioso quando ele finalmente decidiu se comunicar com aquele ser.
- Você está aqui a muito tempo?
Esperou pacientemente a flor responder. ele tinha tempo.
Esperou.
Um pouco mais.
Tempo?
- O que é tempo? - respondeu a flor, sequer assustando o menino pelo retorno repentino, afinal ele havia esperado por essa resposta, porque temê-la?
- Pelo o que está esperando? - respondeu à flor com outra pergunta, sem parar em nenhum momento de fitar o sol. Era ele o curioso aqui, não tinha que responder perguntas.
- Sol - respondeu a flor com apenas uma palavra, porém com o significado de um texto para o menino.
Se calaram.
- Ele não costuma perceber quem o espera, não é mesmo? - questionou o menino, não por falta de paciência, mas pela curiosidade da intenção daquela flor ao seu lado.
- Não costumam esperá-lo muito por aqui. - respondeu prontamente pela primeira vez.
- Não costumam esperá-lo?! - o menino indagou indignado.
- Não, costumam temê-lo.
- E ele não desiste de brilhar? porque, se o temem, é porque não o querem próximo, então seus esforços poderiam ser poupados para algo que apreciem - disse o menino inconformado, como as pessoas poderiam temer um astro tão magnífico?
- Apesar de temerem-no, ele é necessário e ele tem noção disso. O sol não é egoista, sabe que precisam de seu brilho - disse a flor calmamente.
O menino se calou, processando a informação que havia recebido. Como aquela mera flor sabia disso? Mais questões se formaram na cabeça do menino.
- Como a senhora sabe disso? Já conversou com ele? - perguntou o menino eufórico, ele precisava de respostas.
- Eu sinto. Sei que suas intenções são boas. Não acho que seja possível falar com ele, afinal, por qual motivo eu o faria?
- Talvez para ter certeza sobre suas suposições!? Você tem certeza de que ele é bom? - perguntou o menino, finalmente se voltando para a flor ao seu lado. Suas grandes pétalas amarelas contrastavam com seu centro áspero marrom destacavam sua beleza descomunal, juntamente com seu longo e verde caule tendo folhas brilhantes da mesma cor adornando-a, o deixando maravilhado sobre o quão simples e magnífico poderia aquela planta ser.
- Porque um ser que mantém vivo não só quem o aprecia como também os que o temem, nunca deixando de brilhar porque reconhece sua importância, sem exigir algo em troca, teria intenções maliciosas? - questionou a flor ainda fitando o sol que refletiam suas pétalas
O silencio do menino foi sua resposta. O nada significou tudo para os dois seres na ponta mais alta daquela montanha localizado em um lugar que não necessariamente precisa ser mencionado para ser imaginado.
O menino se levantou e caminhou para longe.
Tinha todas as respostas que precisava.
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Perguntas ao Sol
PoetryA curiosidade do pequeno menino não o permitiu poupar suas perguntas, até quando presumia que o único hábil a respondê-las seria o astro que nos ilumina, no entanto, não imaginava que as respostas ele já tinha dentro de si.