Capítulo 3.

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Por um momento, cheguei a pensar que pudesse estar morta, ou talvez eu estivesse em um limbo. Acordava várias e várias vezes, cada vez mais cansada do que antes, e ouvia vozes balbuciando palavras sem sentido. Até que o efeito da droga foi passando, e comecei a ter mais noção da realidade, e isso foi um castigo. Sempre acordava atordoada, pensando que tudo não passava de um sonho, e quando isso acontecia, eu os escutava dando risadas, que eu sabia que eram para mim. Como se eu não fosse nada, como se eu fosse um objeto, e aquilo nunca mais ia sair da minha memória. Eu estava amarrada em uma cadeira, com fome e com frio, mas com certeza eles não se importavam. Só o que eu queria é que atirassem em mim de uma vez, ou me drogassem novamente e eu nunca mais acordasse, pois a cada vez que isso acontecia, eu me sentia cada vez menor.

Tudo aconteceu muito rápido. Acordei com uma enorme dor no pescoço, provavelmente por apagar sentada na maldita cadeira desconfortável. Eu me sentia um pouco melhor, se assim posso dizer, sem parecer ironia. Mas, quando abri meus olhos novamente, observei o homem de cabelos escuros com um telefone nas mãos, olhando de um lado para o outro, impaciente. Em um átimo, começei a me balançar para tentar me soltar, naquele momento eu já não me importava se ele me batesse de novo. Ele se virou em minha direção, tentando entender o que eu fazia, e sua expressão passou de séria para demoníaca, mas mesmo assim continuei a me mexer. Percebi que ele vinha até mim em passos largos, o que fez meu coração quase pular pela boca, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele empurrou a cadeira, que caiu no chão como se fosse um pedaço de papel, e me deu um chute na barriga. Se eu ainda estivesse sobre os efeitos do remédio, talvez não tivesse sentido a dor avassaladora que me consumiu por inteira, mas ao invés disso, eu senti, e gritei como nunca achei que pudesse gritar.

Demorei a entender e processar todas as cenas em minha cabeça. Parecia estar tudo em câmera lenta, e mesmo assim eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo bem diante dos meus olhos. Ouvi uma mulher de cabelos escuros gritar em minha direção, mas não era comigo que ela falava, era com ele.

- Larga ela, agora. - Escutei ela dizer, antes do outro homem aparecer atrás dela e agarrá-la pelo pescoço, antes que eu pudesse gritar "cuidado."

Tudo que consegui processar depois disso foi o homem ao meu lado tentando impedir o que ia acontecer. E depois, eu apenas ouvi um tiro, que ecoou por todo o lugar.

O homem de cabelos castanhos caiu por cima dela, imóvel. E consegui ver de relance quando "Marcus" pulou pela janela, deixando a sala onde estávamos. Agora só restava eu, a mulher de cabelos escuros, e um corpo em cima dela, que a essa altura já se encontrava morto, pois não o vi se mexer outra vez. Começei a tremer, me arrastando como podia até um canto, ainda com uma dor insuportável.

-Você está bem? - Levei um susto ao reparar que a mulher de cabelos escuros estava agora a pequenos centímetros do meu rosto.

- Ele...ele.. - Tentei dizer, mas era muito difícil.

- Não consigo entender o que ela diz. - A mulher falou, olhando de relance para trás, e eu percebi que ela não falava comigo mais uma vez, e sim com outra mulher, de cabelos tao escuros quanto o dela, que eu não tinha visto chegar.

- Ele..fugiu, por ali. - Apontei devagar em direção a janela. A dor me consumindo mais forte agora.

-Verônica, vá atrás dele. - Ela disse, olhando para a outra mulher, que saiu voando pela porta.

Tentei levantar, sem sucesso, querendo mais do que qualquer coisa sair daquele lugar. Mas ao tentar fazer isso, escorreguei quase batendo no chão, se não fosse por ela, que me segurou pelos braços.

- Não se mexa, por favor. Eu vou ajudar você. Meu nome é Lauren, Lauren Jauregui, você está a salvo agora. - Ouvi ela dizer, calmamente, e depois disso, me carregar no colo até a porta.

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