Meus olhos estavam focados no homem que observava o carro partir com um olhar demoníaco, nada nele escondia o monstro que ele era, ele gostava que as pessoas percebessem isso, ele gostava de ser temido.
Giuseppe não era diferente, seu sorriso maroto não escondia o que ele era, mas evidenciava mais. No curto período de tempo que passei com Enrico eu percebi que ele não é um homem em que temos que ir na base da esperança, ele só se importava com a Famiglia, isso estava em seu sangue desde o nascimento. Não havia resquício de bondade ou até mesmo pena em seu modo de agir, seus movimentos, seu olhar. Tudo nele gritava perigo.
Eu odiei ter mostrado algo por Paul, apesar de ter escondido isso de mim ele foi o meu único amigo, o único que me ajudou quando eu achei que ninguém nem papai se importava comigo.
- Você precisa se controlar com Enrico. - A voz de papai me tirou de meus pensamentos.
Olho para ele atordoada, não acreditando que ele ainda acha que tenho coragem para isso. Eu sei me colocar no meu lugar, sei quando é hora de ficar quieta, só não podia deixar Paul pagar por algo que não era culpa dele.
O jeito que Enrico perguntou ao meu pai não deixava dúvidas do porque ele estava atrás de Paul. Ele não queria ter uma conversa amigável com ele, até as mais tolas das mulheres perceberia isso.
- Eu não o desrespeitei.
- Não para você, ele não vai pensar da próxima vez, homens como ele não toleram desrespeito.
Desvio meu olhar do meu pai e olho através da janela, as ruas de pedras da Sicília fazendo o carro chacoalhar sob meus pés. Eu não precisava ser ensinada respeito agora, descobri isso sozinha, sem a ajuda de ninguém.
- Eu não vou desrespeita-lo - Murmuro olhando para o chão acarpetado do carro.
Papai fica calado, peguei isso como uma brecha para o fim do assunto. Não queria me lembrar do meu casamento agora, não preciso me lembrar, quero aproveitar o tempo que ainda me resta como uma jovem.
É estranho ver como minha vida mudou tão rapidamente. Ontem eu estava com Paul, conversando e acreditando que teria uma vida normal apesar dos pesares, e agora estou na Sicília, minha terra natal, lugar que mau conheço e já estou prometida a um homem que conheço menos ainda.
- Porque terei que me casar com Enrico?
Papai me olha com os olhos arregalados e depois verifica se o motorista estava ouvindo. Não é como se ele fosse entender o que estou falando de todo modo.
- Você é minha filha mais velha.
Observei, esperando alguma explicação, mas quando percebi que ele só falaria isso resolvi não entrar nesse assunto. Ou eu aceitava ou meus pais morriam. Isso estava em minhas mãos.
Treinei mentalmente algumas palavras em italiano que eu não sabia pronunciar direito, tentando tirar esse peso de cima de mim, tentando esquecer que minha vida estava nas mãos de um homem ao qual provavelmente não se importava comigo. A minha infância toda passei cercada por desconhecidos, pessoas que nem sequer olharam para mim como uma criança que precisava de amigos. Eu já tinha me acostumado a ficar sozinha, mas agora percebo o que a solidão vai me fazer falta, era preferível do que viver uma vida que não escolhi para mim.
O carro parou em frente a uma enorme casa, três andares com as paredes de pedras e janelas de madeira. Ela ficava mais afastada da área urbana da Sicília, olhando a frente, além do Jardim e atravessando a rua de pedra estava o mar, tão azul e cristalino quanto pensei que poderia ser. Parecia que ele transbordaria e alagaria todo o local, engolindo tudo que estivesse perto.
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Gaiola Dourada | Série "Donos da Máfia" | Livro 1
Roman d'amourDegustação - Em breve físico pela editora Cabana Vermelha. ATENÇÃO! - Esse livro contém cenas de sexo explícito e agressão. +18 (Maiores de dezoito) Pietra viu sua vida e seus planos indo abaixo bem diante de seus olhos desde o momento em que se vi...