•Prólogo•

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Minhas mãos tremem enquanto seguro o lápis em cima da folha do caderno. O dia de mandar a carta para papai chegou e eu não tenho ideia do que lhe escrever. Talvez falar que desisti da aula de língua italiana porquê está muito chato, ou talvez escrever que eu amei o presente que ele me mandou no meu último aniversário, quando completei quinze anos. Mas tudo parece muito tolo para mandar, isso não é o que papai quer.

Ele quer saber se eu estou bem, se vi alguma movimentação estranha, ou se ainda estou viva. A pergunta que não paro de me fazer é, porquê tanta preocupação? Seria possível alguém me pegar nessa mansão cercada de seguranças?
Tenho quase certeza que não, a quantidade que cerca a casa é imensa, mas isso não impede que aconteça um possível ataque.

Mas o que essas pessoas iriam querer comigo?

Sou apenas filha de um homem qualquer, que vive em trabalho, e minha mãe o segue para onde quer que ele vá. Eu os amo, claro, são meus pais, mas sinto tanto a falta deles, a última vez que o vi fora a quase dois anos atrás.

Olho para o envelope branco com a carta que ainda não li, estou com medo, esperando algo de ruim. Mas é claro, eu sou uma menina de apenas quinze anos que precisa de segurança demais, mas que morre de medo de tudo - e todos. Com razão. Minha irmã - que eu ainda não conheço, - escreveu-me algo a três anos atrás, e até hoje não li sua carta, não consegui. O peso da raiva sempre está em mim ao pensar que ela está lá com eles tendo uma vida normal, e eu estou aqui, isolada.

- Tudo bem, Pietra, agora abra essa carta. - Murmuro para mim mesma, tentando me encorajar.

Largo o lápis e pego a carta, assim que a abro vejo uma fotografia. Nela esta mamãe, papai e Mariá, minha irmã. Os cabelos dourados da minha mãe caem em ondas suaves ao redor de seu rosto magro, os olhos do meu pai estão vazios, como sempre, e minha irmã, que nada se parece comigo, sorri alegremente.

Os olhos verdes de Mariá me observam através da fotografia, como olhos de onça, mas eles são tão amorosos, me pergunto se ela iria gostar de mim, sua única irmã.

Depois de alguns segundos, pego a folha perfeitamente dobrada e começo a ler.

"Pietra,

Papai está com muita saudades de você, a distância está acabando com todos nós, algo que não podemos evitar, não agora. Se pudessemos voltar no tempo deixariamos você aqui conosco, seria uma vida diferente, entenda, não é uma vida que pude tirar de sua irmã, pois não teve como. Você teve a sorte de se afastar, ir para longe de nós, assim você tem uma chance de viver a vida normal que eu e sua mãe sempre sonhamos.

Não fique triste por estar longe, filha, fique feliz, é uma dádiva para você, aproveite, minha ragazza.

Sua irmã e sua mãe escolheram com muito carinho seu presente de aniversário de quinze anos, imaginamos que queria uma festa, mas isso não será possível, quem sabe um dia? Esperamos que goste!

Sua irmã espera ansiosa uma resposta a carta dela, ela está triste, Pietra, tanto ela quanto nós queríamos lhe ver, mas Mariá está mais aflita, porquê nunca viu você.

Eu espero que você entenda, um dia iremos ter a chance de explicar isso a você, e você saberá de tudo, é inevitável.

Imagino que não esteja gostando das suas aulas de Italiano, mas acredite em mim, um dia, talvez, você irá precisar, espero que esse dia nunca chegue.

Papai te ama ragazza."

Olho para a carta, como todas as vezes que leio uma carta sua, é sempre a mesma ladainha, ele escreve tanto, mas nunca sei de nada. Fico irritada por ter que ficar aqui enquanto Mariá está lá com eles, mas não é culpa dela, acho que já chegou a hora de amadurecer e, enfim, entender o lado deles, talvez se eu ocupasse a mente não teria tanto tempo para pensar em besteiras. Eu só queria ter uma vida normal.

Gaiola Dourada | Série "Donos da Máfia" | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora