Acabo por dormir sem responder a ruiva e, acordo terça feira com Ananda enrolada em mim. Não posso negar que é bom sentir o calor do seu corpo, isso não acontece tão frequentemente. Ela se ajeita em meu braço, olha o celular e levanta num pulo só:
- Estou atrasada! - diz, se vestindo rapidamente.
Ela tem o hábito de deixar sua roupa de trabalho separada para não perder tempo no outro dia. Para tudo que seja relacionado ao trabalho, Ananda é absurdamente metódica e regrada. Para o resto, não há regras: gosta de beber e passar do limite e, vez em quando, me deixar envergonhada com suas atitudes enquanto ébria. Tá aí, mais um ponto negativo nessa relação.
Observo Ananda se trocar e ajeitar seus cabelos volumosos. Ela também é linda, mas totalmente oposta a Dani: é uma mulher da pele marrom, cabelos enrolados armados, com 1.70m e, olhando para ela, da para sentir a aura de poder que a ronda. Ela é realmente muito querida pelos seus clientes e, como eu disse anteriormente, ela é nossa máquina de fazer dinheiro. Obstinada. Teve um tempo em que eu a amava por toda essa força absurda. Hoje eu detesto essa coisa superpoderosa, esse controle que ela tem de tudo.
As terças não costumo ir ao escritório, a não ser que seja algum tipo de diligência urgente ou algum cliente realmente especial. Me levanto devagar, lembrando de responder a ruiva enquanto escovo meus dentes."Eu estou bem. Vem cá, você existe ou é só alguém zombando da cara dos outros?"
Não pude conter a ansiedade em perguntar isso , pois a mensagem da minha amiga rondava insistentemente minha cabeça e Dani é interessante demais pra ser de mentira.
Não demorou muito e meu celular apitou."Sou real. Você que parece de mentira"
Ok, esse é um diálogo estranho. Digo isso pois sei que sou bonita mas não sou nada fora do comum. Branca, 1.67 de altura, cabelos ondulados pretos, com algumas várias tatuagens sempre escondidas pelas camisas sociais de manga longa. Me sinto lisonjeada pelo pseudo elogio, vindo assim nas entrelinhas. Me sinto tentada em perguntar mais, quando a porta do apartamento abre e Ananda entra como um furacão.
-Esqueci as chaves! - ela diz depressa, mas pausa ao ver o sorriso um pouco bobo no meu rosto. - Está sorrindo do que?
- Nada, assustei com a sua volta repentina. - não era de todo mentira, mas o sorriso era por perceber que Dani esta on-line e não demoraria a responder todas as mensagens. Ananda ri genuinamente e eu me sinto um pouco culpada pela mentira, mas não arrependida. Ela beija minha testa e sai em disparada.
Ao longo do dia, descobri que Dani também é da área jurídica mas não é advogada. Trabalha no centro do Rio e almoça toda sexta-feira no mesmo restaurante. Eu sei onde é e já até comi por lá. Descobri que ela ama cachorros, música e artes no geral. Ela é tão parecida com o que eu sou e gosto que eu diria que ela podia ser minha alma gêmea, mas não se acha alma gêmea em aplicativos de encontro, certo? Descobri que ela é péssima em esportes mas que aceita ser minha dupla no vôlei de praia, e que, enquanto eu tocar violão, ela canta. Parece mesmo que eu e a Dani nos conhecemos há muito tempo, pois a conversa fluiu rápido e em pouco tempo estamos falando de nossas vidas particulares, como família, filhos e tudo mais.
Pedi o telefone da Dani e estava certa de que nesse momento ela iria recuar. Ainda não tinha certeza de que ela era ela, ainda mais com tantas qualidades que me deixavam de pernas bambas, coração palpitando e boca seca. Ela é TUDO que eu já tinha imaginado em uma mulher perfeita. O português dela é impecável, o gosto musical é parecido com o meu e ela é brega sentimentalmente. Quem é que não gosta de uma boa breguice sentimental? Músicas, flores, mensagens inesperadas....
Passaram-se 2 horas sem nenhuma resposta dela. Estou certa de que a Tati não mentiu para mim: ela não é ela e, mais do que isso, ela não está realmente interessada em mim.
Resolvo ir à praia tomar água de coco, o dia está absurdamente quente e não aguento mais ficar trancafiada dentro de casa. Coloco uma biquíni e uma saída de praia soltinha e vou em direção ao meu carro. Meu celular apita mais uma vez e eu corro os olhos pela tela.
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Dani - a real date.
Non-Fiction. * uma história baseada em fatos reais* . Conheci a Dani num aplicativo de encontros. Estava numa má fase no meu relacionamento atual, com idas e vindas intermináveis, falta de diálogo e empatia. Não foi a decisão mais saudável, mas resolvi sair co...