Cinq.

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Sexta-feira.
Ananda está embarcando agora pra São Paulo e eu não tive coragem de me levantar da cama para levá-la ao aeroporto. Seria cômico se não fosse trágico. Fazem algumas semanas desde que não temos nenhum contato íntimo e, para ser sincera, me sinto subindo pelas paredes.
Checo meu celular e vejo Dani na tela. Tenho quase certeza de que meu rosto fica vermelho e sinto as palmas da mão ficarem molhadas.

"Laura, podemos adiantar o encontro para hoje? Estou realmente muito ansiosa".

Acontece que não tenho mais certeza disso tudo. Não foi assim que eu aprendi, não é assim que eu acredito que uma pessoa deva agir. Eu não me sinto mal pela Ananda, mas sinto que isso é algo que eu não vou me orgulhar mais à frente.

"Dani, não sei se podemos. Acho até que já me envolvi com você mais do que deveria".

Sou direta e verdadeira. Nesses dias todos conversei mais com a Dani do que com qualquer outra pessoa. Trocamos fotos do nosso dia, nossas atividades e até nossos pratos de comida. Áudios, vídeos... tudo parece tão certo que vez em quando eu esqueço de que é completamente errado.

"Não aceito isso. A gente combinou, você me fez ter expectativas. Não é certo".

Droga! Eu acho que ela tem razão nisso, mas não posso simplesmente dizer "ok, então vamos".

"Dani, não é isso. Eu só acho que se sairmos, vamos acabar nos apegando. Ou pelo menos eu.

"Eu já estou apegada".

"Dani, não posso".

Travo o celular e respiro fundo, jogando-o sobre a pia do banheiro e indo tomar um banho quente pra ver se, de alguma maneira, a água me livra desse desejo absoluto de ir ao encontro dela. Escuto o telefone vibrar na pia e vejo o nome dela na tela. Não vou atender. Eu simplesmente não consigo fazer isso, por mais que eu ache que tenho motivos suficientemente fortes para tentar alguma coisa nova, meu coração me diz que isso é normal mas minha cabeça não aprova. Lavo o cabelo lentamente, massageando minhas têmporas que já doem de nervoso. Deixo a água quente deslizar sobre meu corpo e encosto a testa no azulejo gelado. Tudo que me vem à cabeça são pensamentos sobre a Dani. Não há 1 pensamento sobre Ananda, por mais que já tenhamos transado loucamente em diversas posições, lugares e fantasias possíveis. Imagino sempre a Dani, que jamais vi pessoalmente, nunca troquei uma mensagem sensual ou nude. Foi tudo tão de alma, tudo tão limpo, certo... não parece carnal. Penso nela e meu corpo fica quente, como se estivesse em um território seguro, em paz.
Chego no trabalho com a cabeça cheia e o peito vazio. Minha nova funcionária está me dando dor de cabeça e, sinceramente, hoje não é o dia em que me sinto paciente o suficiente pra tudo isso. Apenas sento na frente do meu computador e tento me concentrar o máximo que posso na tarefa, tentando fugir dos pensamentos e das mensagens que chegam no meu celular, sem parar.

"Não acredito que você vai fazer isso, Laura".
"Me responde, Laura".
"Você prometeu, Laura".

Por sorte, minha amiga Tati me chama para almoçar num quiosque bom na praia da reserva, o Cavalo Marinho. Aceito e num piscar de olhos ela me pega no escritório. No caminho, não trocamos uma palavra. Ela me conhece bem demais.

- O que foi, Laura? Dá pra ver na sua cara que tem algo errado.
- Tati, a Dani quer me ver hoje. Eu não vou.
- Mas você quer, não quer? Dá pra ver sua angústia.
- Certo, mas e depois? Você me conhece, sabe como sou. E se eu gostar demais dela? O que eu faço com a minha vida, com meu trabalho? Eu sou muito apegada, Tati...
- Tá, mas e "se não"? E se não for tudo isso? E se for só divertido? Se você conseguir só esquecer um pouco seus problemas? Isso pode até ajudar no seu casamento, Laurinha.
- Como isso iria ajudar, Tatiana? Beijar outra pessoa depois de tanto tempo me parece uma tentativa de suicídio. Até se não for bom, vai ser bom. Pelo menos é outra boca, outro gosto.
- Laura, sinceramente, você acha que esses casais que ficam juntos 20, 30 anos, não traem? Quem em sã consciência conseguiria manter essa fidelidade conjugal por tanto tempo? A gente é ser humano, minha amiga!
- Você fala isso mas não trai seu maridinho.
- Quem disse?

Meus olhos estão saltando da minha cara. A comida chega e junto com ela, o álcool. Vou ficando mais desinibida, mas sem passar da medida. Mando uma mensagem para um outro amigo de Nova Iguaçu, meu melhor amigo do sexo masculino.

"Guilherme, pega um transporte e vem já pra minha casa. A gente vai sair."
"Chego em 1 hora".

- Tati, chamei o Guilherme pra vir pra cá. Vamos pra noite com a gente!
- Não posso. Você sabe que o Marcelo chega às 6 da manhã do plantão. Imagina ele me encontra na rua?
- Tatiiiii, por favor! Vamoooooos! - quase imploro a minha amiga.
- Não vou mas te acoberto. Vai com o Guilherme e, se a Ananda perguntar, eu digo que fui junto.
Sorrio satisfeita. Já é o bastante pra me ajudar.

Chego em casa e já saio em disparada para pegar meu amigo no metrô. Viemos conversando o caminho todo e, como era de se esperar, contei todo o drama a ele.

- Faça o que você tem vontade, minha cara. Você é jovem, bonita, muito interessante. Os erros, de alguma forma, também são acertos. Depende do ponto de vista de cada um.

Essa frase dele me pareceu tão certa que liguei pra Dani na mesma hora.

-Alô.
- Oi, Laura. - ela diz com pesar.
- Quero te ver.
- Mudou de ideia?
- Não. Eu sempre quis. - digo com sinceridade.
- Hoje não dá mais.
- Hoje ou nunca, Daniela. Hoje ou nunca.

Desligo o telefone com um gostinho amargo na boca. Queria que ela estivesse tão louca pra me ver que nem questionasse. Não passa 5 segundos e recebo uma mensagem.

"Me pega na estação da Carioca, na saída do Teatro. Chego em 40 minutos".

Assim, começa minha saga. Pego minha carteira, minha chave e o Guilherme a tira colo. Hoje eu vou fazer tudo que eu quiser fazer.

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⏰ Última atualização: Dec 10, 2019 ⏰

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Dani -  a real date.Onde histórias criam vida. Descubra agora