Capítulo 2

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Em vinte um anos, eu experimentei a dor duas vezes. A primeira vez foi quando o olhar de decepção dos meus pais caiu sobre mim, e a do coração partido.

Eu tinha dezesseis anos quando papai me pegou na cama com um garoto qualquer que eu tinha conhecido na escola. Eu estava naquela fase de adolescente rebelde, e era a única virgem do meu grupo de amigas, e eu queria porque queria ser descolada, então num súbito de loucura, eu fiz uma aposta que eu teria coragem de ir pra cama com o primeiro garoto que falasse comigo. O resultado foi: meu pai surtou quando me viu deitada com o carinha, eu continuei virgem e demorei anos pra reconquistar a confiança dos meus pais.

Alex e Julia poderiam ser as melhores pessoas do mundo, e eles eram. Sempre me criaram com todo esmero, amor e carinho. Eu tinha de tudo. Não, eu não era uma menina mimada, nunca fui. Eu sabia como meu pai lutou pra conquistar tudo o que tinha hoje. Sua vida tinha sido difícil, pois conheceu a dor de perder a minha avó muito cedo, e seu pai, ele nunca conheceu. Minha mãe era outra história. Ela sempre gostou de ser independente, mesmo com meus avós podendo proporcionar uma vida boa a ela.

E agora, aos vinte e um anos, eu experimentava a dor do coração partido.

Meu coração estava partido por causa do meu melhor amigo. Benjamin sempre foi o meu melhor amigo. Eu não consigo lembrar uma época da minha vida em que eu não o tinha do meu lado. Eu nunca escondi que gostava dele, mas, acho que ele nunca correspondeu aos meus sentimentos, ou se correspondia, eu era muito lerda pra notar. Ele sempre esteve rodeado de mulheres bonitas. Mesmo com tantas namoradas, eu ainda continuava sendo prioridade em sua vida. Ele era lindo.

Benjamin agora tinha vinte e seis anos e era um colírio pros olhos. A minha parte favorita nele era seu olhar, ele conseguia dizer muitas coisas apenas com os olhos. Seu sorriso era sedutor, e quando ele ria... Ele ria com vontade, era como se o mundo parasse para ouvir seu sorriso. Ele havia se mudado pra Califórnia para assumir uma parte dos negócios dos nossos pais e meu avô.

— Eles chegaram. — Deixei meu pensamento de lado ao ouvir Rose gritar do outro lado da porta.

— Estou saindo.

— Não demora, temos companhia e você sabe que Ben odeia esperar.

Sim, eu sabia. Se tinha uma coisa nessa vida que eu odiava mais que tudo, era a pontualidade de Benjamin Adams.

Respirei fundo. Era hora de encarar Benjamin. Eu não tinha falado com ele desde a nossa noite juntos.

Ajeitei meu cabelo e sai do quarto. Enquanto eu ia em direção à sala, parecia que eu estava indo até a forca. Pude ouvir sua risada e meu estomago revirou. Eu amava sua risada.

— Apareceu quem faltava! — Danny falou sorrindo e me puxando para um abraço. Eu adorava Danny, havíamos crescidos juntos e agora ele namorava minha prima.

— Elizabeth. — Benjamin falou, e acenou com a cabeça e saiu em direção a cozinha.

Ele nunca me chamava de Elizabeth, só quando estava puto comigo. Bom, tem alguém muito puto aqui.

— Oi gente. — Falei sorrindo e andei até a cozinha.

Eu não queria clima ruim entre nós dois, então, fui até Benjamin e o abracei pela cintura, colei minha cabeça em suas costas e suspirei fundo. Ele tinha um cheiro delicioso, loção pós-barba e sabonete. Era um cheiro masculino e forte. Eu o amava. Senti seu corpo ficar tenso e em seguida relaxar.

— Oi Ben — Sussurrei contra suas costas, ele se virou e me encarou. Seu olhar era carinhoso e triste ao mesmo tempo.

— Oi Eliz

— Eu... — Comecei a falar, mas fui interrompida pelo furacão Rose que entrava na cozinha e pegava um saco de batatas no armário.

— O filme vai começar, vamos!

— Eu só preciso falar com Elizabeth e nós já vamos. — Benjamin respondeu e me puxou em direção à pequena área de serviços.

Nós sempre fomos muito agarrados e ninguém desconfiava do que rolava entre nós dois, especialmente hoje.

— O que vai acontecer entre nós dois agora? Porque eu sinceramente não consigo parar de pensar na outra noite, pensar em nós dois, em você... Eu só quero uma luz, Eliz. — Ele falou me encarando, seu olhar parecia implorar por respostas. Respostas essa que eu não tinha.

— Eu não sei. — Falei sincera. Eu queria apenas o abraçar e morar ali. — Eu não sei. Eu quero nós dois, mas, temos a nossa família... Eu não sei como eles iriam reagir a isso, eu não quero outro olhar de decepção nos olhos dos meus pais. Eu não posso. Você sabe como eu fiquei na primeira vez que eu os decepcionei. — Eu sussurrei e senti lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas.

Eu estava entre a cruz e a espada.

Benjamin estava comigo quando tudo aconteceu nos meus dezesseis anos. Ele, Rose e Ellery, foram os únicos que não me olharam com os olhos julgadores.

— Você sabe que eles fariam a maior questão, não sabe? Mamãe diz que planeja nosso casamento desde que éramos pequenos. — Ele rir e passa a mão entre os cabelos. — Nós podemos tentar... Talvez em segredo, e se as coisas realmente fluírem entre nós, podemos contar pra eles... Eu não sei, me ajuda Eliz. Eu tenho vinte e seis anos, mas, no momento eu estou me sentindo um adolescente que não sabe o que fazer da vida. — Benjamin suspirou e me encarou.

— Vamos fazer assim, podemos começar sendo amigos com benefícios. — Eu falei sorrindo e ele me olhou como se eu tivesse uma cabeça a mais. — E quando eu me acostumar com a ideia, ai sim podemos dar um passo maior. — Sorri. — O que acha? — Perguntei em expectativa.

Isso poderia funcionar.

— Me deixa ver se entendi. — Ele deu uma risada forçada. — Eu e você como amigos coloridos, mesmo depois de termos transado em quase todo meu apartamento. É isso mesmo? — Ele perguntou agora sério.

— Sim. — Respondi simplesmente.

— Não. — Ele rebateu.

— Sim, é o que eu posso no momento.

— E não é o que eu quero no momento. Se for pra ser assim, prefiro continuar sendo seu amigo e só. — Ele falou e saiu, mas, dei meia volta e voltou a ficar na minha frente. — Lembre-se, é a sua escolha. Eu não posso te obrigar a ficar comigo, mas, também não posso parar a minha vida por você. — Ele suspirou. — Eu sei que você tem um pouco de trauma com o que te aconteceu há muito tempo, mas, você sabe mais do que ninguém que a nossa família faria maior gosto de nós dois, isso nunca foi segredo. Quando você começar a agir como uma mulher de verdade, talvez a gente possa conversar como dois adultos. — Dito isso, ele me virou as costas mais uma vez e me deixou sozinha.

Depois de um tempo fui até a sala e avisei que não ficaria pro filme. Rose reclamou, Danny tentou argumentar e Benjamin apenas me ignorou.

Peguei meu celular e sai do apartamento.

A verdade era dolorida, e era mais dolorida ainda vinda da boca de quem amamos. Benjamin tinha razão, nossa família fazia gosto, com certeza ficariam felizes, mas, eu tinha medo. Meu medo era tão grande que eu inventava desculpas pra tudo de bom que poderia vir a acontecer na minha vida.

Enquanto eu caminhava pela praia, eu pensava em comoeu era sortuda e mesmo assim, eu continuava estragando as coisas. Eu não queriaestragar tudo com Benjamin, mas, meu medo ainda era maior que tudo. Eu ia darum jeito nisso, eu faria tudo, menos perder o meu melhor amigo.


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E aí, gostaram!?

DE REPENTE ACONTECE - EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora