Capítulo 1

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O barulho insuportável atinge meus ouvidos. Com força e insistência. Eu me viro de bruços, ponho o travesseiro sobre a cabeça e lamento a minha dor com o rosto contra os lençóis.

Que horrível. Eu não estou reclamando, longe de mim. Gosto do meu trabalho, mas o irritante é ter que me levantar às seis, cinco dias por semana. Sou uma pessoa noturna. Só funciono bem à noite. E talvez também depois de comer algo gostoso – um caso à parte.

  — Desliga isso! — Gabriel grita sua advertência, o que me faz levantar a cabeça e estender a mão até encontrar meu celular na cabeceira da cama, que é meu criado-mudo também.

Minha vista está ofuscada e talvez eu demore um pouco mais para achar onde desliga porque não tenho certeza se já acordei ou o quê. Mas consigo, mesmo com a maldizência do meu irmão caçula.

Meu cérebro me aconselha a sentar, o que só obedeço depois de minutos. Percebo estar toda dolorida, além de morrendo de sono e com a minha boca seca. Quero ficar na cama porque parece que uma roda de caminhão fez a festa sobre mim. Talvez dormir por mais umas dez horas ou até meu corpo querer se levantar sozinho. Manhã para mim é madrugada.

Olho para a porta do quarto, vendo por baixo uma sombra passar rapidamente. É o meu pai e ele já deve estar acordado há mais de uma hora. Não entendo gente mais velha. Adora acordar cedo sem precisão. Ele nem trabalha mais, devia ficar na cama.

Puxo o edredom do corpo e jogo para o lado, me levantando na marra. Vou ao interruptor e ligo a luz para poder escolher a roupa do dia.

  — Apaga isso, Gisele! Caramba! — Gabe continua a reclamar. — Que merda!

  — Pera aí, estou procurando uma roupa — digo como uma morta-viva. — Está na hora de você também se levantar.

  — Está na hora de eu ter um quarto, isso sim!

Eu riria se não estivesse desligada. Não tenho culpa se nossa casa só possui dois quartos. Ele poderia dormir na sala, mas fui benevolente em oferecer o meu.

  — Desculpa. Eu já desligo — estou encarando minha parte do guarda-roupa, que possui as mesmas peças do restante da semana. Já não há mais combinações diferentes.

Puxo uma saia preta e uma blusa vinho de botões pretos. Usei na última segunda, mas quem se lembra? Abro a gaveta e recolho uma calcinha e um sutiã qualquer. Eu nem tenho peitos quase, então tanto faz qual for.

Me viro para sair e encontro meu irmão já sentado em sua cama, a boca aberta enquanto encara a parede.

  — Vamos sair hoje? — o convido e demoro a receber sua atenção. A parede parece muito mais interessante para ele.

  — Quando você chegar? — sua voz está distorcida e embolada.

  — Pode ser. Eu devo chegar mais cedo porque meu chefe vai viajar com a namorada, então eu vou escorregar pela garrafa.

Ele faz uma careta, então maneia a cabeça.

  — Falou. Te espero.

Apenas assinto, seguindo à porta e abrindo-a, indo direto para o banheiro. Os barulhos de panelas caindo indicam que, sim, meu pai está de pé.

Sou rápida no banho, mas me enrolo na maquiagem. Preciso ser ágil, porque demoro vinte e dois minutos para chegar à estação do metrô e mais quinze em viagem. É um chão pra caramba. Todos os dias.

Só que, repito, não estou reclamando. Eu tenho um chefe maravilhoso, fiz amizades maravilhosas e tenho um salário maravilhoso que me permite ajudar em casa. Por que eu reclamaria?

Rendição sob Amor #3 (NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora