Not Fair

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É mentira.

Tem que ser mentira.

Não pode ser real.

Elle olhou em volta, buscando ver Matt em algum lugar. Uma pequena parte dela continuava buscando por ele. Achando que ele saltaria de algum lugar e riria da sua cara de boba, chorando por causa de uma pegadinha.

Ela não conseguia sentir seu próprio corpo durante o funeral. Era como se estivesse flutuando, perdida. Sentia que falavam com ela, que a tocavam, mas ela não conseguia deixar a própria mente.

Queria prestar atenção ao funeral, queria ouvir a voz do monge que dizia palavras de apoio. Queria estar presente naquele instante, queria segurar a mão de Mia, mas não conseguia.

A realidade era dura demais.

Elle sentiu dedos entrelaçando aos seus. Olhou para o lado e viu que era Andy, os olhos marejados mas uma postura firme. Tentando ser forte pela irmã.

Prestando um pouco mais de atenção à sua volta, viu alguns funcionários da Muse, o próprio Sr. Muse, outros rostos que ela não conhecia, afinal Matt havia conquistado o coração de muita gente ao longo da vida, e por fim, viu Mia chorando copiosamente enquanto Jay a abraçava chorando também.

Desviou o olhar, vendo que o caixão já havia entrado na fornalha. Matt havia deixado um pedido por escrito para que seus órgãos fossem doados, se possível, e que seu corpo fosse cremado. Ele disse que não queria uma lápide com seu nome, que queria que sua vida tivesse valido mais do que apenas ser lembrado pelo seu nome em uma pedra. Ele sempre dizia que queria ser lembrado na memória das pessoas.

Elle conseguiu voltar a si, na medida do possível. Só queria ficar sozinha em casa e chorar até desidratar.

Não era justo. Não era justo.

A brasileira manteve os olhos abertos e a mente vazia, e viu quando um homem voltou, trazendo as cinzas de Matt em uma urna. Mia imediatamente ficou pálida e quase caiu no chão, se Jay não a tivesse segurado, ela provavelmente teria caído de joelhos.

Houve uma breve comoção em volta dela e Elle se virou para a sua mãe. A brasileira fez o que fazia de melhor: reprimiu seus próprios sentimentos, sua própria dor, e se forçou a falar mesmo que o nó em sua garganta parecesse sufocar.

– Mãe... – Sua voz estava rouca pelo tempo que passou em silêncio. – Pode levar Mia ao hospital? Eu acho que ela realmente precisa ver um médico.

– Eu... Claro. – Ela se assustou com as palavras da filha, que parecia em total estado de choque naquele momento.

Helena foi quem deu fim à cerimônia. Ela gentilmente agradeceu a presença daquela pequena multidão e disse que levaria Mia. Jay foi para perto de Elle, a abraçando.

– Eu levo vocês duas para casa. – Ele avisou, acenando para Andy também.

– Você pode dormir no nosso quarto de hóspedes se não quiser ficar sozinho hoje. – A brasileira segurou o braço do amigo, que assentiu.

– Eu aceitaria, mas não quero deixar a Mia sozinha hoje. Depois que eu levar vocês em casa, vou fazer companhia a ela. Você vai ficar bem? – Jay respondeu, encarando a amiga.

– É claro que sim. – Mentiu. – E eu tenho a minha família ao meu lado, já os pais de Mia estão na Coréia... – Elle deu ombros, seguindo o amigo para o carro. – Você não acha melhor que vocês dois fiquem um pouco lá em casa? Não quero mesmo que Mia fique sozinha, ainda mais no apartamento deles. E estaremos todos juntos.

– Acha mesmo que ela poderia fazer alguma... coisa prejudicial à si mesma? – Jay disse, como se tivesse medo dessa possibilidade.

– Não sei... Mas ela não está nada bem.

Play Me Harder [hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora