Capítulo 2

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Acordei com a minha cabeça doendo, levanto e vou pro banheiro tomar banho, quando volta pro quarto, Valentina ainda está dormindo. Começo a olhar pra os objetos que tinham nas prateleiras da parede, globos de neve de Paris, Roma, NY, alguns livros e fotografias minhas com pessoas que não reconheço, nenhuma com o homem desconhecido do hospital. Mas dentre essas coisas, encontro algo que chama minha atenção, parece um diário, será que é meu ou da Valentina? Minha curiosidade aumenta e eu abro o livro, "escrito por Livia Merino, não ler se não for a donatária", bom, então acho que tenho direito de ler.

- Lívia, Valentina, o café já está na mesa! - ouço minha mãe gritar
- Estou indo - respondo enquanto vou para a sala de jantar
- Onde está sua irmã?
- Dormindo ainda
- Fátima fez um lanche especial pra você: croissant recheado de queijo e frango com ovos benedict e suco de laranja
- Uau - respondo impressionada com a mesa montada - mas quem é Fátima?
- É a nossa empregada, querida, cuidou de você por muito tempo

(...)

Minha mãe foi revisar alguns produtos na loja e eu voltei para o meu quarto, afinal, não tenho muito o que fazer, desconheço a cidade na qual eu cresci, olho para a minha cama e vejo o diário que encontrei

Diário de 2014 - 16y

E começou mais um ano nesse colégio, ainda bem que ano que vem é o último, enquanto que pro Eduardo esse é já é o último, espero que ele me espere e que eu possa realizar meu sonho quando terminar o Ensino Médio: estudar veterinária e cuidar de animais de rua, quer dizer, eu sei que não é isso que o meu pai deseja, mas vou persistir

Chego no colégio e começo a procurar meu namorado, vamos lá, não é tão difícil achar aqueles olhos azuis nessa multidão

- Oi, meu amor
- Edu - dou um abraço nele
- Você está linda
- Você sempre está lindo
- Quer almoçar lá em casa hoje?
- Claro - sorrio e nos despedimos pra ir para a sala

(...)

- Ah, é que você sabe, eu não gosto de debater essas coisas sociais - exclama Edu - tenho coisa mais interessante pra fazer - ele diz me puxando pra cama

Isso me irrita nele, a vida é muito mais que festas e azaração, muita gente sofre fora da nossa bolha, por problemas reais e ele ignora tudo isso, fica cego pro mundo, mas o que eu vou falar? Eu o amo, quero casar com ele, não teria transado com ele se não tivesse confiança nisso

- O que você está fazendo? - exclama Valentina interrompendo minha leitura
- Eu achei um diário antigo meu e estava lendo
- Nossa, eu lembro bem como você amava escrever nos seus diários, já viu os outros? - aponta para a prateleira
- Só tem até 2017, estão faltando os de 2018 e 2019 ou eu não escrevi, não sei
- Que estranho
- Estranho é você acordar nesse horário- sorrio - já passou a hora do almoço
- Ainda não me reacostumei com o fuso daqui
- Como assim?
- Já faz uns anos que eu saí do Brasil, Liv, trabalho e moro em Barcelona
- Nossa, que incrível
- Incrível mesmo é estar longe do controle do papai e da mamãe - ela gargalha - inclusive, já viu o papai?
- Ainda não... - digo tristonha
- Ele deve estar dobrando o plantão, amanhã deve estar aqui. Mas e aí, vamos sair?
- Claro - sorrio

(...)

Eu e Valentina, quero dizer, Tina (ela disse que eu a chamava assim) passamos o dia rolezando por São Paulo, as ruas grafitadas, o céu cinza, não tem como se esquecer disso. Ela me contou sobre seu trabalho, sua vida em Barcelona, ela não contou muito sobre mim, disse que os médicos aconselharam eu tentar descobrir as coisas para não ficar confusa com outras pessoas falando sobre a minha própria vida.

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