57. Fuego.

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Foi logo após o almoço, durante a sobremesa, que eu toquei no assunto do fim das nossas férias. Eu ainda não conseguia acreditar que só faltavam duas semanas, parecia tão pouco...

Mas antes de qualquer coisa eu precisava parar Kimberly e Erick, que brigavam por uma caixa de doces.

— Erick, para, seja legal com a sua irmãzinha — falei, esticando o braço e pegando a caixa da mão dele.

Kim virou o rosto e me olhou com a testa franzida, mas eu a ignorei e abaixei a tampa da embalagem, indicando que não comeriam mais. Ela ficou ainda mais brava, e Erick pareceu chateado.

— Precisamos conversar.

Chris largou a colher de bolo e me olhou com a boca aberta, os olhos arregalados.

— Vai terminar com a gente?

Franzi a testa, pronto para dizer algo, mas simplesmente o ignorei.

— Não sei se notaram, mas já faz cinco semanas que estamos em Byron Bay, e nosso planejamento de férias é ficarmos oito semanas.

— O QUE?

— Já tá acabando?

— A gente vai ter que voltar?

— Mas a gente nem fez metade da lista de coisas para fazer em Byron Bay.

— Tinha uma lista?

— E a gente fez alguma coisa dela?

Respirei fundo e olhei para cima, esperando eles terminarem de falar. Eu sabia que não iria acontecer tão rápido, por isso abaixei a cabeça e examinei minhas unhas, que precisavam ser feitas. Talvez eu devesse ir ao salão. Meu cabelo também precisava de uma hidratação, de um retoque, de um corte...

— Então saibam que em duas semanas estamos voltando aos Estados Unidos — disse, me levantando. — Essa semana eu começo a arrumar nossas coisas. E aconselho que comecem a fazer o mesmo.

Eles ficaram quietos me olhando enquanto eu andava pela mesa recolhendo os pratos. Ninguém falou nada e eu estava começando a me sentir levemente desconfortável com os olhares, que me lembrava de filmes em que alguém morria ou ia embora por muito tempo.

— Por que estão me olhando assim?

— Porque a gente vai voltar pra casa sem você — respondeu Kim.

— Mas... Eu vou embora também. Não tenho planos de ficar por aqui, garanto.

— Eles estão chorando porque vão perder a babá — respondeu Richard. — E não adianta dizer que você não é, porque é.

Encarei Richard e só não mostrei a língua porque seria muito infantil. Contentei-me em mostrar o dedo do meio embaixo dos pratos. Sem saber o que dizer a eles, levei as coisas para a cozinha e voltei para terminar de arrumar a mesa.

Aos poucos todos foram saindo, sobrando apenas Chris e Lara. Enquanto eu passava um pano na mesa, Chris encarou Lara de uma forma tão intensa e profunda que eu parei o que estava fazendo só para poder olhar indignado para aquilo. Ele ficou diversos minutos fazendo isso, com a mão na boca e um olhar reflexivo, parecendo estar se lembrando de algo.

— Cara... — começou, bem lentamente, ainda pensando — tava lembrando aqui... Barbie disse que era você na caixa negra.

Arregalei os olhos e joguei o pano em Christopher, que me olhou chocado.

— Olha a boca, caralho. — Apontei para as escadas, afim de indicar que alguém poderia ouvir.

Nós não tocávamos no assunto da caixa negra desde que aconteceu, mas hoje as pessoas pareciam estar se dedicando a isso. Não era nada legal, e nem bom. Eu não queria nem pensar em como seria ruim se as amigas de Lara — especialmente Natálie — soubesse que ela me enganou e me beijou. Eu mesmo levei um bom tempo para ficar okay com isso.

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