Soldier | jikook

1: Park Jimin

O bairro onde nasci continuava calmo e aconchegante, por ser um lugar antigo, e muitos velhos morarem, quase nunca se via crianças por ali. Casas no estilo coreano estavam por toda parte, algo que eu não tinha contato a anos, eu senti falta até do ar desse país.
As bombas, as mortes, os tiros, as dores, o cabelo rosado daquele homem na foto, tudo era rápido, em um piscar de olhos minha vida se tornou tudo isso, eu podia resumi-la. Guerra.

Eu caminhava para perto da casa que eu conhecia muito bem, o cachorro correndo em minha direção e me derrubando, ah sim, aquilo eu conhecia muito mais que bem.

— Hiro! Ei, amigão, venha aqui. Como você está? — o pastor alemão choramigava enquanto tentava lamber o meu rosto. — Eles cuidaram de você? — abracei o animal, sentindo a falta do mesmo por tanto tempo.

Parados estavam meus sobrinhos, que eu vi quando eram bebês, eu perdi muita coisa pelo contato escasso que tive com minha família, pelo menos o que sobrou dela. Dois meninos de traços americanos, como o pai deles, se entreolhavam, não era costumeiro visitantes estranhos passarem por uma área tão quieta e longe de tudo. Olhei os garotos ainda sentado no chão, como Hiro tinha me derrubado nada amigável, cai de bunda no asfalto quente do fim de tarde. 

Aquela casa era aconchegante e confortável, mas eu não me sentia bem vindo pela parte dos garotos, Hanguk o mais velho não gostou nada da idéia de deixar o seu quarto para mim, sempre fazia comentários com minha irmã sobre quando teria ele de volta, eu nunca tive muitos contatos com crianças, na verdade nunca tive, mas eu me dava bem com cachorros então eu acho que serviria.

— Você parece cansado maninho. — minha irmã super delicada me deu um tapa na testa. — Acorde garoto, está sonhando acordado? — a mais velha ria da minha expressão de confuso enquanto continuava a lavar os pratos.

Os barulhos altos de tiro me fizeram virar assustado para olhar de onde vinha, segurei o prato em minhas mãos fortemente sentindo toda sua textura por baixo dela. Acompanhei com o olhos minha irmã desligar o jogo dos garotos que se divertiam na sala, ouvindo a mesma pedir para eles irem brincar lá fora, pois era isso que crianças deviam fazer e não ficar presas a tela da tevê.

— Você está bem? — balancei a cabeça para a mulher em confirmação, mesmo nós dois sabendo que era mentira. — Sabe que o corpo de fuzileiros pode oferecer tratamento a você não é? 

Desde a primeira vez que a mesma disse aquilo eu sabia que ela tinha razão, eu quase matei o filho dela quando o garoto tentou me assustar, eu sabia que ela sentia lá no fundo todos ali tinham medo de mim.

[...]

— Por que eu sobrevivi quando tantos morreram? Mas sinto que eu tenho uma dívida a pagar. Eu sei onde te encontrar. 

Liguei a câmera me preparando para começar a falar, era a décima? talvez vigésima vez que eu tentava gravar aquele vídeo mas o nó na garganta não permitia, respirei fundo antes de começar novamente.

"Não sei onde é meu lugar. Acho que preciso descobrir. Sei que não há uma resposta simples noona, mas... talvez eu só precise de tempo"

Eu sei que minha irmã nesse momento já tinha visto o vídeo que deixei em seu computador, eu não queria deixar a mulher triste, mesmo eu conhecendo ela bem o suficiente pra dizer que a baixinha estava chorando igual uma criancinha. Talvez ela chore por causa de Hiro que andava ao meu lado na longa estrada e pelos enormes campos floridos que passamos rumo aquela montanha onde o garoto do cabelo rosa estava na foto, eu conhecia aquele lugar, já tinha passado muitas vezes com meus pais por ali quando íamos visitar uma tia que mora próximo. Se ele estivesse lá, era minha chance de agradecer a ele.

Noites chegavam, eu e meu eterno companheiro estávamos um ao lado do outro, o frio e a chuva que combriam o ambiente não impedia o cão de querer sempre me encharcar de água ou lama e brincar comigo. Bem, o resfriado que peguei por culpa dele também queria.