Capítulo 04

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Rio de Janeiro, agosto de 2014

Flor de Liz Medina

Bernardo só soltou a minha mão quando parou em frente a um portão alto de metal trabalhado e pintado de ouro velho, os muros eram cercados por uma bonita cerca viva.

Eu só percebi quando perdi o seu calor e nem deu tempo de refletir sobre como me senti confortável andando por aí, de mãos dadas com um completo estranho.

— Essa é a entrada de pedestres, tem um acesso a garagem no final do muro, mas não possui garagem coberta, apenas vagas ao ar livre.

— Tudo bem, eu não tenho carro... – balbuciei ainda fora de órbita.

Quando adentramos o amplo jardim de entrada, arfei. Era impossível que ainda estivéssemos no Centro do Rio!

Havia uma alameda, curta, mas ainda assim, uma alameda cercada de carnaúbas até a entrada do prédio de quatro andares, estilo art déco, grandes janelas de vidro em todos os andares, sacadas nas laterais, um luxuoso hall de entrada com, pasmem, mármore branco e preto por todos os lados.

— Boa tarde, seu Zé, essa é a Flor de Liz, minha possível roommate.

— Donzela! – Ele fez uma saudação formal e Bernardo caiu na risada.

— Não se deixe levar por essa simpatia, em pouco tempo, Seu Zé mostra a sua verdadeira face e rouba a sua comida a cada entrega que ousar adentrar seus domínios!

— Você nunca vai esquecer esse deslize? Foi apenas um burrito, você tinha mais três só pra você!

Sorri com a interação entre o senhor negro de cabelos totalmente brancos e o rapaz de vinte e poucos anos com cara de roqueiro rebelde.

— Vem, Flor de Liz, não se contamine com essa fachada inocente, ele é o mais perigoso por aqui!

Segui Bernardo pela escadaria sem dizer nada, ele chegou em frente ao número 102 e abriu a pesada porta de madeira maciça.

A sala era mais ampla do que eu tinha imaginado, havia tábuas de madeira brilhante no piso, um balcão que dividia os ambientes e poucos móveis, apenas um sofá grande e um rack baixo com TV e vídeo game — homens! — e três banquetas coloridas desse lado, uma cozinha com uma bela bancada de madeira praticamente vazia, no outro lado. Só uma cafeteira ultramoderna decorava o ambiente.

— Bem, como eu disse, mudei tem pouco tempo, não deu ainda pra deixar isso aqui com cara de casa, apenas o básico, vídeo game, cafeteira, meu violão. Prioridades, sabe?

Fui receptiva ao seu tom jocoso.

— Infelizmente, não temos suítes, então, teremos que dividir o banheiro, mas sem perigo de ficar sem água quente, o aquecedor foi trocado recentemente e confesso: meus banhos são bem rápidos.

B.D.K.N. Blues - Partes 1 e 2 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora