Capítulo 03

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Rio de Janeiro, agosto de 2014

 Flor de Liz Medina

— Não se surpreenda se o João Pedro te encurralar em algum momento do seu dia, Liz, ele estava enlouquecido ontem, quase me atacou pra que eu contasse onde você tinha se metido, por isso eu demorei tanto pra conseguir ir até o hotel, sério, ele estava de dar medo!

Quando Sara chegou com uma bolsa com as minhas coisas, eu já estava dormindo, exausta de tanto choro e tristeza.

Mas assim que o sol começou a ferver o Rio de Janeiro, eu me levantei, troquei-me e desci em direção à Universidade, queria chegar cedo pra ver se aquele aviso ainda estava no quadro e evitar ver João ou Paolla pela rua.

Sabia que não podia voltar para aquela república e não podia ficar contando com a Sara para me ajudar a pagar o hotel, mas queria conversar pessoalmente com a Dona Tereza e bem, se ele tivesse a cara de pau de me procurar, eu precisava estar inteira, não um trapo, como estive no dia anterior. Eu queria mostrar para o João que eu poderia sobreviver ao que ele me fez.

Sequer queria que minha família soubesse, tenho certeza de que haveria uma cisão entre nossos pais se os meus soubessem da traição.

Mas não era ele mesmo que se transformaria num pai em breve? Eu ia deixar para João Pedro Sales a responsabilidade de enfrentar o pessoal de casa.

Só contaria para Dona Gera o ocorrido depois que eu tivesse inteira e estabelecida. E isso podia levar um tempo.

Agradeci aos céus quando vi o aviso, ia pegar somente um telefone, peguei o papel todo, naquele valor, não podia arriscar muita concorrência.

Passei o primeiro período criando coragem para ligar e quando peguei o telefone no primeiro intervalo, vi as mensagens de Sara e resolvi conversar com ela.

— Ele pode até tentar, Sara, mas acabou. Não tem nem como dialogar com o que eu vi e ouvi.

— Mas toma cuidado, tá legal? Pra esse tipo de assédio, existe a lei Maria da Penha, sério, Liz, se você se sentir minimamente intimidada, eu vou com você em uma Delegacia da Mulher.

— Eu não tenho medo do João, Sara, e tenho certeza de que ele não seria capaz de algo assim.

— Assim como ele não seria capaz de te trair por três meses?

É, a garota tinha alguma razão, mas sinceramente, eu não estava preocupada com isso.

— Tá certo, prometo que vou ficar atenta e te procuro, ou a polícia, se precisar, dou minha palavra.

Ela suspirou aliviada.

— Minha aula vai começar, a gente se fala mais tarde, bonitinha, não some!

B.D.K.N. Blues - Partes 1 e 2 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora