Parte 3

13 2 0
                                    

Cada passo dado diante do imenso corredor do andar em que estou, é angustiante, não tenho forças para encarar todos aqueles rostos, então me prendo aos meus pensamentos.

Como está o mundo exterior? O quanto as coisas mudaram nesse tempo? O quanto eu perdi?

Após uma curta caminhada, pegamos o elevador e descemos até o estacionamento. Ao entrar no carro sinto um certo medo e então travo minha respiração por alguns segundos. Jay percebe e agarra minha mão com carinho, me devolvendo de alguma forma o ar que a pouco era tomado.

O carro acelera e conforme seguimos consigo ver a iluminação da parte de fora, saímos da cobertura e meu olho arde um pouco com a intensidade da luz solar.

— É bizarro falar isso, mas tudo parece tão diferente agora. É como se eu estivesse em um lugar novo.

— Infelizmente poucas coisas realmente mudaram nesse meio tempo. 

— Como anda no trabalho?

— Olha, não queria que fosse eu a contar, mas a "naja" assumiu seu lugar e está se sentindo a poderosa.

— Kelly sempre quis o que é meu, vamos deixá-la sentir um pouco do gostinho de achar que não voltarei…

— Com certeza.

— E a Ruth? Por que não veio hoje?

— Ela teve que ficar estudando para uma prova da faculdade, está exausta.

— Entendo…

O percurso até a casa de minha mãe durou por volta de uma hora e meia, e assim que chegamos, fomos recebidos por meu padrasto e meu irmão.

— Olá, bela adormecida, sentimos muita saud… desculpa, piadinha fora de hora! 

— Henry, você é um sem noção! — minha mãe o reprime, dando uma olhada brusca.

— Evve, não queríamos que se sentisse sozinha e trouxemos algumas de suas coisas para cá, para que pudesse passar um tempo com a gente! — Diz meu padrasto.

Vejo um certo receio no olhar de todos eles e não consigo esconder meu incômodo. Caminho em direção a Henry e o dou um forte abraço para mascarar meu pedido de socorro.

"Me tira daqui, por favor!", sussurro antes de soltá-lo e seguir para a sala, onde encontro Bart, o cachorrinho de minha mãe, correndo em minha direção para me cheirar, tentando me reconhecer.

Há tempos não venho aqui…

A casa parece tão diferente, mas ainda tem um gostinho de infância.

Lembro bem de quando eu era pequena, e ficava pulando pelo quintal o dia inteiro, como um moleque, junto de meus primos.

Aliás, foi aqui mesmo que ganhei minha cicatriz na perna, quando estava brincando de lutinha com Levi e fui acertada com o zíper do seu casaco, me fazendo cair com tudo e arrastar minha perna num prego da parede.

Chorei horrores e na outra semana, lá estava eu, fazendo o mesmo.

São tantas lembranças… 

Tantos momentos.

Observo com atenção cada um dos cômodos, até chegar em meu antigo quarto, onde paro e fito a porta por alguns segundos.

Abro a porta e me emociono ao ver tudo tão organizado, quase intocado, a não ser pelos pertences atuais agora em cima da cama. 

Minha prateleira cheia de livros românticos e fantasiosos; meus rascunhos de poemas; meus desenhos… tudo! 

Não consigo evitar que uma simples lágrima escorra pelo meu rosto. Uma lágrima saudosista e curiosa, um misto de uma Evangeline do passado com a atual.

Efemeridade de um Eterno AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora