Capítulo 1- Coriane

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Me viro e dou de cara com uma mulher alta, morena e extremamente bonita. Agora sei de onde Myk herdou sua beleza extraordinariamente exótica. Iris Cygnet é uma mulher jovem, com olhos cinzas e opacos que revelam pelo que aquela mulher passou. Ela está usando um vestido longo verde-mar que ressaltam seus olhos e sua pele, e na cabeça uma coroa de prata simples mas imponente, parecem ondas gravadas em um safira que ornamenta sua coroa.

Agora percebo porque meus pais tinham tanto receio da ninfoide a minha frente, tenho a impressão de que ela me afogaria sem precisar mover um músculo. A rainha de Lakeland exala esperteza e poder, uma combinação perigosa por assim dizer.

Sinto seus olhos passando por mim, me analisando, me medindo de cima a baixo. Fico um pouco desconfortável sobre seu olhar atento mas mantenho minha pose.

-Coriane, posso chama-la assim? Ou prefere majestade?

Seu tom um pouco afiado me faz lembrar da minha prima Clara, quando ela me fez a mesma pergunta no almoço dos Barrow, antes da minha coroação. Um leve sorrisinho me escapa com a lembrança.

-Coriane está ótimo, majestade.

Faço um leve aceno com a cabeça em sinal de respeito, afinal estou no seu reino e ela ainda é a rainha.

Ela acena com a cabeça em aprovação e seu olhar passa para Élia. Rapidamente dou um passo a frente, ficando cara a cara com Iris.

-Esta é Élia Samos, filha de Elane Haven e Evangeline Samos, minha conselheira.

-É uma honra conhece-la majestade.

Minha amiga faz uma reverencia perfeita.

-O prazer é meu Lady Samos.

No instante seguinte sua atenção vai para o garoto ao meu lado e eu vejo um sorriso genuíno surgir em seus lábios ao analisar o filho. Olho para o meu noivo e o vejo tentando conter seu sorriso também. Dá pra ver que eles tem uma relação especial.

-Meu filho, que bom que retornou inteiro.

Eu sei que não deveria, mas fiquei ofendida por ela achar que feriríamos Myk mesmo tendo um acordo oficial. Norta é um país honesto, e meus pais mais ainda. De certa forma isso foi uma ofensa ao meu país e meu reinado.

-Estou bem, mãe. Estamos todos cansados da longa viagem, os quartos da rainha Coriane e de Lady Élia estão prontos?

Nunca tive tanta vontade de abraçar Myk tanto quando ele disse aquelas belas palavras. E ao dar uma breve olhadela pra minha amiga, soube que não era a única. Iris arregalou os olhos por breve segundos, mas logo disfarçou sua surpresa diante a atitude do filho.

-Mas, Myk. A corte gostaria de conhecer sua futura rainha.

Ela diz entre os dentes, parecendo mais com um rosnado. Eu e Élia somente olhamos de um para o outro enquanto eles tem uma guerra de olhares para saber quem irá vencer esta batalha de argumentos. Eu não tenho autoridade para me meter, afinal eles que mandam por aqui, Élia muito menos. Corajoso como é, Lucca intercede a favor de seu rei.

-Sinto muito me intrometer, majestade. Mas o rei está certo, precisamos de descanso. A rainha Coriane precisa passar o máximo de credibilidade e confiança possível e temo que ela não passará uma boa primeira impressão se estiver cansada. E isso não seria bom, pois precisamos que a corte esteja a favor desse casamento para que a aliança dê certo.

Ás vezes me esqueço de como Lucca pode ser profissional. Em um piscar de olhos o garoto extrovertido e espontâneo dá lugar ao diplomata e profissional conselheiro.

A rainha de Lakeland parece pensar a respeito, mas logo cede devido ao argumento de Lucca.

Nós entremos finalmente no enorme castelo azul e verde. Por dentro ele é ainda mais impressionante. No centro do salão está uma fonte idêntica a aquela que foi construída no pátio, mais adiante à fonte repousam dois tronos de marfim com almofadas azul marinho nos assentos e estofados. Duas escadas ocupam a lateral da sala do trono, estas também são feitas de marfim e se encontram num mesmo corredor.

Seguimos Iris escada acima, quando chegamos no corredor noto que ele se divide entre esquerda e direita. Myk e Lucca seguem pela esquerda, quando eu e minha amiga íamos segui-los um braço nos interrompe.

-Seus quartos são por aqui meninas.

E nos dá as costas, seguindo pelo corredor da direita. Élia troca um olhar cúmplice comigo. Ela também se pergunta se isso é seguro. Iris Cygnet ainda é uma prateada poderosa, ela foi treinada para guerra. Élia é uma magnetron forte, e quem discordar só pode estar cego, mas ela não tem os anos de experiência que a ninfoide tem. Quanto a mim, acabei de descobrir meus poderes. Nossa conclusão é clara, não teríamos chances contra a rainha de Lakeland.

Mesmo com nossos receios nós a seguimos. Élia foi a primeira a ser deixada para trás, entrando em seu quarto com uma reverencia para as duas rainhas presentes. E assim seguimos pelo longo corredor de mármore azul. Paramos em frente a uma porta de madeira escura.

-Você é realmente a cara de seus pais Coriane.

Me surpreendo com sua fala repentina.

-Obrigada majestade, é uma honra pra mim ser comparada a beleza deles.

Faço um gesto de cabeça em sinal de agradecimento.

-Não foi isso que eu quis dizer. Você pode não ter falado muito, mas foi esperta e diplomática. Acredito que Tiberias e Mare lhe ensinaram bem.

-Desculpe majestade, mas receio não ter compreendido.

Ela revira os olhos como se eu fosse ingênua demais para entender. Isso mexe no meu íntimo, eu odeio ser subestimada.

-Você não me chamou pelo meu nome uma única vez, mesmo eu a tendo chamado pelo primeiro nome, uma intimidade que obviamente não temos. E não se recusou ou me enfrentou por isso, pois sabe que aqui é meu domínio. Não interferiu na minha breve discussão com meu filhos mesmo sendo sobre você. E teve cautela ao me seguir. Estou dizendo que você tem os instintos da sua mãe e a diplomacia de seu pai.

Por um breve momento fico chocada com suas palavras. Mas logo retomo minha postura.

-Obrigada majestade, é realmente muito gratificante ouvir isso. Meus pais são meu espelho, e ser comparada a eles é uma vitória para mim.

Iris faz um aceno de mão dispensando meuagradecimento e volta pelo corredor. Entro no quarto e fecho a porta soltandoum longo suspiro.

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