Capítulo 4- Coriane

490 49 1
                                    


Quando me recupero do choque que foi ver o alvo totalmente derretido percebo que não deveria ter ficado tão surpresa, afinal sou filha de Mare Barrow e Tiberias Calore VII, a garota elétrica e o legitimo rei de Norta. Era de se esperar que eu fosse poderosa ao ponto de destruir um simples boneco de treino, eu herdei os poderes dos salvadores do meu reino, se não conseguisse fazer uma coisa mínima dessa tenho certeza que teria falhado como... como o que Coriane? Eu não sou uma prateada e muito menos uma sangue-nova.

Mas Myk usou um termo para me definir, não, ele usou um termo para NOS definir. Ele é como eu, e Lucca também. Meu noivo usou o termo "Celestiais", gostaria de saber como isso surgiu.

Olho para Myk que parece ter se recuperado do choque e agora olhava para mim.

-Bom, acho que tem poder em mim pelo menos.

Digo dando de ombros e com um daqueles meus sorrisos falsos em uma tentativa de piada, mas Myk não ri. Ele apenas levanta a sobrancelha e me responde.

-Você é poderosa Coriane, só estamos treinando há 15 dias. E nesse período você conseguiu manter o ritmo, todo dia, durante três horas. E além disso tem mantido o controle sobre seus poderes, consegue focá-los e libera-los no momento e direção corretos. Você consegue dominar bem dois dos poderes mais destrutivos, foi por isso que seus pais esconderam seus poderes de você. Acho que tinham medo que você fosse pirar, não é fácil ser um eletricon e nem um ardente, você é a junção dos dois. Me surpreende que já não tenha queimado seu castelo em um ataque de raiva.

Tento não acreditar muito nas palavras de Myk, mas ate que elas fazem sentido. Enquanto aos meus pais... bem, não vou pensar sobre isso agora. Por isso só concordo com a cabeça.

-Certo. Myk, você acha que podemos acabar o treino por hoje? Isso realmente me cansou e...

Quando eu fui continuar senti o liquido quente e metálico sair do meu nariz e pingar no chão.

-Você está sangrando.

Faço que sim, enquanto me levanto e Myk vem pro meu lado. Ele coloca suas duas mãos no meu rosto e me encara, olho no olho. Sinto meu sangue parar de escorrer, e o olho confusa. Reparando na minha duvida ele sorri, mas sem tirar seu olhar do meu. Como se quebrar aquela conexão pudesse destruir algo muito importante.

Seus olhos castanhos sérios são totalmente o oposto dos azuis sarcásticos que conheci no centro de Summerton. Esse pensamento me fez sentir uma leve pontada na cabeça.

Pare Ane! Você não deve pensar no misterioso de Montfort, Kaion.

Myk se afasta assim que essa repreensão me passa pela cabeça. Ele olha para o chão e respira fundo várias e varias vezes como se tentasse se controlar.

-Myk, você está bem? O que você fez?

Ele se recompõe e dá um sorriso forçado. Um mentiroso reconhece o outro.

-Sim, eu estou bem. Só fiz com que sangue continuasse a correr pela veia rompida.

Faço que sim com a cabeça e o vejo se aproximar, me dar um beijo na bochecha e seguir seu caminho para seu quarto.

Olho mais uma vez para a poça de metal derretida que agora está adquirindo um tom cinza fuligem e penso sobre as jornadas dos meus pais. Lembro que quando era criança, perguntei a minha mãe o porquê dela ter seguido um caminho cheio de perigos, ela me respondeu que por um tempo queria vingança contra Elara, mas que depois percebeu que aquilo era o certo a se fazer. Pelos vermelhos e sangue-novos, ela lutou e passou por perigos imensos.

Sinto que algo vai acontecer, mas tenho medo de que não seja tão certa dos meus objetivos quanto meu pai era, ou então tão solidaria quanto minha mãe. Sou apenas uma garota de quinze anos que não queria ser rainha, mas se tornou para honrar suas cores e casa. Sou apenas uma garota que se casará em dois meses com um cara que conhece há apenas um mês e que começa a nutrir sentimentos por ele.

Isso não parece certo, as pessoas deveriam poder escolher sobre seus destinos. Deveriam poder decidir sobre ser da realeza ou não, sobre casar ou não, sobre ter poderes ou não...

Não Ane! Pare de pensar nisso, é errado. Você é uma rainha, haja como tal e case-se com Myk pelo bem do seu povo!

Esse pensamento trouxe de volta aquela leve pontada nas têmporas que eu estava começando a me familiarizar.

Volto para meu quarto e vejo uma camisola de seda azul com alguns detalhes prateados rendados, com um bilhete na mesma caligrafia do anterior.

Olá majestade,

Dessa vez resolvi lhe presentear com algo mais adequado para uma rainha, de não um, mas de dois reinos.

Ouvi dizer que gosta de seda, espero que goste tanto de suas novas cores quanto gosta do tecido, futura rainha de Lakeland .

-M,K

Sinto um tom cortante no bilhete, e uma ironia. Mas Myk não seria irônico se tratando de suas cores, ele leva isso a serio tanto quanto eu. O que me deixa muito confusa e em dúvida. Eu tinha tanta certeza de que era Myk que me mandava esses bilhetes, mas e se...

Pare com isso Ane! Não é certo pensar sobre isso, vamos somente esquecer.

Tomo um banho e contra todos os meus instintos eu visto a camisola nova, afinal é só um tecido com uma tintura diferente.

Me deito na cama, e me reviro muito na espaçosa cama, até perceber que não conseguiria dormir naquela maldita camisola.

Qual o meu problema?! É apenas uma cor estupida!

Olho no meu relógio e já vai dar duas da manhã. M e sento na cama para tomar um copo com água que eu sempre deixo em cima do criado-mudo para casos de insônia, como hoje. Quando peguei o copo percebi que toda água tinha se movido e saído do copo, a água estava se movendo em forma de letras bem na minha linha de visão.

Eu definitivamente fiquei muito assustada, mas fiquei apavorada quando percebi que a água tinha formado uma palavra.

-Biblioteca.

Eu sussurro enquanto ela se move para formar uma frase, ou melhor um titulo.

"CAELESTI PROPHETIAE"

A Próxima Escolha Onde histórias criam vida. Descubra agora