LUNA
O imbecil era legal demais. E bonito também. Ele até cheirava a flores. Mas eu não o queria por perto.
Depois do espanto do primeiro dia, passei a acreditar em vários seres fantásticos. Só assim para explicar como o Tomás Toledo se transformara em algo melhor. Sério. Eu nunca pensei que dava para deixá-lo ainda mais bonito. Tudo bem que Normal e Toledo eram pessoas diferentes, mas, pra mim, Normal sempre seria primeiramente o meu ator favorito.
Eu tinha inúmeros afazeres durante o dia, porque estava gravando uma novela e um filme ao mesmo tempo. Dessa maneira, quase não tinha tempo de fazer outra coisa, mas meu Anjo da Guarda continuava no meu pé e parecia bem feliz em me acompanhar naquilo tudo. Talvez o lugar onde ele morava não era tão legal quanto a Terra. Ele me fazia mil perguntas retardadas. "Para que serve um microfone?", "Por que você tem que passar essa coisa colorida na pele?", "Como fazemos um caldo da cor laranja?", "Vocês andam tão devagar. Não tem como voar ou algo assim?" Eu estava quase dando na cara dele. Mas, pelo menos, ele não ficava me paparicando como a maioria das pessoas ao meu redor. E ele também respondia todas as perguntas que as pessoas faziam para mim. Ele realmente me conhecia.
— Ela gosta de pastel de camarão. Traga dois. E mais suco de laranja — dizia Normal para minha equipe.
Mamãe o estava adorando, porque ele era bastante prestativo e a elogiava a cada cinco segundos, mas quem trabalhava para mim não estava entendendo nada como um novato podia ter tanto poder em pouco tempo. Eu só deixava, porque ele estava me poupando um trabalho grande.
Eu também sequer sabia o propósito daquela sua "missão" que ele tanto falava. Acredito que ele não podia contar em detalhes. Eu tinha medo de correr algum perigo naquela gracinha, mas ele estava muito animado para quem estava esperando o outro simplesmente cair duro no chão e morrer.
No final das gravações, Normal beijou as costas da mão de mamãe e praticamente me arrastou para longe de todos. Eu, sem saber o porquê, apenas o obedeci. No fundinho do meu coração, conseguia confessar que estava interessada naquela quebra inesperada de rotina. Ele podia não ser o Tomás Toledo, mas era uma boa imagem para se admirar. Sem grandes esforços, porque eu parecia uma patinha atrás dele, fomos para uma zona mais agitada da cidade. Eu tive de chamar um Uber, claro, por mais que ele houvesse tentado nos fazer pegar um ônibus. Imagina se uns paparazzis me vissem pegando transporte coletivo? Quanta vergonha!
— Eu andei pesquisando muito, sabe? E estudei bastante antes de vir pra cá — Normal falava em tom muito animado para quem havia passado o dia inteiro fazendo o seu trabalho de ajudante. — Você tem algumas atividades. Eu planejei tudo.
— Eu não estou muito feliz com isso, Normal — admiti. O cheiro de cidade grande entrava em minhas narinas e queria sair em forma de vômito. — O que vamos fazer?
— É surpresa. Se vamos fazer a nossa amizade funcionar, você precisa confiar em mim.
— Eu não confio em você — pisei duro.
— Oras, Luna, deixe de ser sem graça — ele bateu gentilmente em meu ombro e continuou me guiando. Eu esperava de verdade que ninguém me reconhecesse. — Você vai adorar. Eu passei o dia inteiro te ajudando mais cedo. Agora você me ajude!
Só paramos de andar dez minutos depois. Por que ele não me dera o endereço exato do local para onde estávamos indo? Assim não precisaríamos gastar nossas energias caminhando naquelas calçadas sujas. Eu teria de jogar meus tênis no lixo, porque não colocaria as solas encardidas no meu piso laminado de jeito nenhum. Entramos em um estabelecimento de segunda e o odor de óleo repassado me alcançou. Outra ânsia de vômito. Enquanto isso, o meu querido Anjo da Guarda estava radiante.

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Para Normal
Romance[Embaixador Secreto 2019] Normal é uma criatura divina, mas ele não é normal. Enviado à Casa de Gaia a fim de manter o equilíbrio entre o Bem e o Mal, a Potência de natureza negativa precisa criar um itinerário de boas ações para uma menina má. Lun...