Um Momento Mais

ᶜ ʰ ᵃ ˡ ˡ ᵉ ⁿ ᵍ ᵉ

Edifício Santari.
Dia 20 do mês 10, domingo
23 horas da noite.

Minha respiração estava ofegante. Eu mal poderia respirar mesmo estando no topo do maior prédio da região sentindo o vento bater em meus cabelos e mesmo que o frio tocasse minha pela neste momento, eu realmente mal podia respirar.

Eu sou aquela típica garota jovem.
Que está sempre sorrindo.
Fingindo ou mentindo
Para os outros ou
para mim mesma

Nunca demostrando sequer um sinal de fraqueza. Quem diria que por trás do meu sorriso forçado eu ainda assim poderia esconder tantos segredos sombrios? Simples, eles não diriam. Afinal ninguém questiona o que se passa na vida dos figurantes da história.

Eu olho para cidade daqui do alto e vejo as luzes e os carros que passam rápido pelas ruas pela falta de movimentação a essa hora da noite. Eu olho para baixo pensando se estou certa do que estou prestes a fazer. Nunca me vi como uma suicida até estar na beira do precipício. A morte me soa como o caminho mais fácil para superar tudo isso, para chegar até eles, para não estar mais sozinha e para ser finalmente livre dessa dor.

Ao menos até ouvir a sua voz.

— Ei, o que faz aí? não se jogue... aí é muito alto mesmo. Por favor não faça isso, têm soluções melhores que essa

Ele soava destemido e apreensivo, olho para trás e vejo o menino de casaco preto com uma touca cinza sobre a cabeça a me encarar quase como um anjo mas eu já conhecia bem a sua voz 

— Não haja como se você se importasse.  respondi insegura —Eu me importo, vamos saia daí... não sei o que ouve, não sei porquê você pensa em fazer isso mas tenho certeza que posso te dar motivos para não fazer

Eu sorri ironicamente voltando a olhar pra baixo 

— E quais seriam, Colore?

O seu nome soava um tanto doce na minha voz mesmo que meu tom tentasse ficar azedo 

— Eu te desafio a não fazer, é claro... você pode muito bem se jogar daí mas se aceitar meu desafio você vai ver que isso acabaria com sua vida mas os problemas jamais você resolveria. Posso te mostrar se quiser, seu desafio é tentar viver e o meu é te provar que vale a pena. Vamos, como todo mundo da nossa sala eu tenho certeza que você adora um desafio. Se dê uma chance, não vai desistir tão fácil ou vai?

Eu o encarei novamente pensando no fato de estudarmos a tanto tempo juntos e após tantos anos duvido que ele sequer saiba o meu nome. Colore, ou Cole, como chamam seus supostos amigos, é um garoto tímido mas até que tenta ser legal com todos e de fato não é perfeito mas não se importa por ser diferente. Porém quando se passa tanto tempo só sorrindo a existindo sem socializar com seus colegas de classe em algum momento eles desistem e perdem o interesse em você. Não duvido que com ele seja o mesmo. De toda aquela escola enorme, eu só tenho um amigo e com certeza Colore não se parece em nada com ele.

— Se estou aqui tentando fazer isso, eu tenho meus motivos. 

— Tenho certeza que têm, porém, eu adoro desafios

Ele disse sem tirar os olhos de mim como se caso passasse uma sombra de vento eu fosse despencar dali de cima, porém, eu só cairei por vontade própria.