Do outro lado!

Lembranças

Estava escuro, muito escuro, mas eu não queria abrir os olhos. Mesmo sabendo que o cristal estava curado, eu tinha medo de abrir os olhos e dar de cara com aquele aengel novamente.

Respirei fundo. Eu já havia passado por coisas piores. Lentamente, abri os olhos, e me vi em um corredor.

"Ok, por essa eu não esperava."

Eu achei que estaria na enfermaria ou, pelo menos, no meu quarto, mas eu estava em um corredor de paredes brancas e cheio de portas azuis, todas trancadas com correntes. Havia apenas uma que não estava trancada, uma vermelha.

-Essa... é a minha mente. - Deduzi, me lembrando de quando eu entrei na mente da Karin e da Tsunade.

-Sim, essa é a sua mente. - Disse uma voz atrás de mim. Ouvi o barulho de asas batendo e me virei lentamente, para ver um aengel pousando no chão de madeira polida.

Olhei para ele com curiosidade. Algo nele era estranhamente familiar. O calor e a bondade que ele exalava eram reconfortantes, e me lembravam muito do Obito. Me aproximei.

-De onde eu conheço você? - Ele sorriu e enrolou uma mecha do meu cabelo antes de colocá-la atrás da minha orelha. Por algum motivo, não recuei.

-Você já vai descobrir.

-Como você está na minha mente?

-Cada mente tem uma linha de defesa... Eu sou a sua. - Franzi o cenho, mas não disse nada. Ele estar aqui... fazia sentido... Eu só não sabia por que.

-Você não é real. - Constatei. - É apenas uma lembrança... Mas como você pode ser minha lembrança se eu não o conheço?

-Como eu disse... Você já vai descobrir. Sua mente guarda mais segredos do que você sabe, pelo menos o você de agora.

-O "eu" de agora? - Ele não respondeu, apenas sorriu novamente e assumiu sua forma "humana". Ele era alto e, mesmo com o hakama e o kimono preto, dava para perceber que ele era musculoso, tinha longos cabelos negros e olhos da mesma cor. Ao todo... ele era extremamente bonito... E estranhamente familiar.

-Vamos. - Ele pegou minha mão e começamos a andar pelo corredor. - Por onde quer começar?

Olhei para ele, e como se estivesse no automático, fui em direção a uma das portas. Como se fosse um colar de pérolas, eu puxei a corrente e ela se partiu. Passei pela porta e fui sugado para uma lembrança... Uma que eu nem sabia que tinha.

Ao contrário do que aconteceu quando entrei nas mentes da Tsunade e da Karin, desta vez eu não era um observador na história... Eu era o protagonista.

***

Acordei com o barulho de pedras batendo na janela. Me levantei e abri as portas da varanda, olhei para baixo com um sorriso, antes de correr para dentro, vestir um casaco e colocar os sapatos.

Voltei para a varanda e desci pela pequena escada de cordas que eu havia colocado ali a alguns anos.

-Por que demoraram tanto? - Perguntei para os morenos na minha frente, dando um soco de leve no ombro do mais alto, que se esquivou.

-Ei! A culpa é dele... - Apontou. - Não bata em mim.

-Tsc, tanto faz. - Revirei os olhos. - Vamos logo. Quem vai me levar?

-Eu te levo. - Ofereceu o mais baixo. Sorri e fui até ele, passando os braços em volta do seu pescoço. Ele segurou minha cintura e fez suas enormes asas cinzas aparecerem, antes de começar a voar. Olhando para trás, vi o outro fazer seu par de asas negras aparecer e nos seguir.