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Dam Silva morava no interior do Rio de Janeiro. Adorava batucar nas coisas a procura de som desde criança. Seu pai, Juvenal, um pedreiro desempregado, vivia fazendo pequenos serviços pela vizinhança para prover o sustento da família composta por ele, a esposa, Marlene, e os três filhos, Damião, Mariana e Luciano, com quinze, dezessete e vinte e três anos, respectivamente.

— Não quero você chegando em casa tarde, Damião. E se não estiver em casa na hora do jantar, vai ficar sem comida. — disse Marlene ao ver o filho se arrumando para sair.

— Tá bom, mãe, eu volto cedo. Só vou tocar com os meninos. Não vou ficar na rua... — explicou e saiu.

Dam tinha um talento nato para música, compunha desde criança e tocava bateria e guitarra sem nunca ter tido aula, apenas observando os amigos tocando. Estava no ensino médio e queria se formar logo para que sua mãe saísse do seu pé.

Não era raro ouvir a mulher dizer que fazia de tudo para que ele e os irmãos tivessem o que ela não teve: estudo para poder ter uma vida melhor que aquela que ela e o marido ofereciam. Com aquele pensamento, Dam se esforçava, tirava boas notas na escola, mas enquanto os irmãos já sabiam o que queriam fazer da vida profissionalmente aos olhos dos pais, ele queria apenas tocar e cantar. Ser reconhecido por seu talento. Mas isso estava longe de ser visto com bons olhos pela família.

— Tem que estudar pra ser alguém na vida. — Juvenal vivia falando para os filhos e se orgulhava de Luciano, que estava iniciando o curso de enfermagem na capital. — Essas coisas de tocar, cantar, isso é coisa de filho de gente rica que não precisa melhorar de vida.

Mesmo com toda aquela falta de apoio, Dam ia todo final de semana para a casa de Javier, seu melhor amigo e colega da escola.

Os dois ensaiavam junto com Malu e Tercio, ela tocava teclado, e ele, saxofone. Os quatro formavam a banda Téssera. Tocavam e cantavam pop rock, misturando R&B com soul.

Escondido dos pais, Dam se preparava para mais uma apresentação, que aconteceria na festa de aniversário do filho de um fazendeiro da região. Javier era bem relacionado, dono da maioria dos instrumentos e do local dos ensaios, por isso líder da banda, mas Dam se destacava pelo talento.

Enquanto o jovem Javier tocava apenas guitarra e contrabaixo, Dam se saía bem em qualquer instrumento que se dispusesse a tocar e tinha a voz marcante.

— Ele é genial! — disse um amigo do pai do aniversariante ao ver a apresentação da Téssera, na festa.

— São amigos do meu filho. Se quiser coloco você em contato com eles.

Dam cantava enquanto tocava a guitarra de Javier, que fazia acompanhamento com o baixo.

Depois da bela apresentação do grupo, Dam ficou junto com Malu e Tercio desmontando tudo enquanto Javier conversava com o pai do aniversariante.

— Esse é o Amarildo Pedrosa, ele ficou impressionado com a apresentação de vocês.

Javier apertou a mão de Amarildo sorrindo.

— Você é produtor musical? — indagou empolgado.

— Não, eu sou empresário. E vocês têm um futuro brilhante, menino!

— O senhor acha mesmo? — perguntou com um brilho intenso nos olhos.

— Tenho certeza, quero conhecer o som de vocês. Quem sabe possamos fazer uma parceria. Eu conheço muita gente.

— Ah, meu Deus! — exclamou emocionado.

— Quem é o guitarrista?

— Aquele é o Dam. O moleque manda bem pra caramba. Vou chamar o pessoal! — avisou já saindo numa felicidade que não cabia em si.

Amarildo observava os quatro se aproximando. Jovens, bonitos, talentosos:

Máquina de fazer dinheiro! — pensou sorrindo.

O empresário conversou com os adolescentes e marcou uma reunião para o dia seguinte. Avisou que morava no Rio, mas iria embora só depois de conversar com eles.

— Levem seus instrumentos, pois vamos fazer um som.

Amarildo deixou duas câmeras preparadas e recebeu os quatro jovens. Dam estava suado e usando uma camiseta de Javier. Marlene proibiu o filho de sair depois de ter chegado quase de manhã em casa, mas o garoto fugiu para encontrar com o empresário.

— Como você vai fazer se a gente precisar ir pro Rio, cara? — Javier perguntou preocupado enquanto pegava uma camisa para o amigo.

— Eu dou meu jeito. — avisou vestindo a peça de roupa enquanto já saía do quarto amigo, que o seguia segurando um violão.

— A gente precisa mandar muito bem, brother. Vamos decidir nosso futuro hoje. — disse empolgado e abraçou o amigo de lado.

— Eu sei, mano, por que acha que enfrentei a dona Marlene e pulei o muro?

Amarildo apontou apenas a cadeira que Dam deveria se sentar. Os demais escolheram e ele começou a falar, a perguntar e pediu que cantassem.

Depois de tudo, Amarildo apertou todas as mãos e disse:

— Eu entro em contato com vocês!

Deixando os quatro muito ansiosos, Amarildo sumiu. Passou três meses sem dar notícias, sem aparecer naquela cidade.

Javier que estava prestes a se formar no ensino médio e ir para a faculdade que escolhera para também tirar os pais de seu pé, chamou os amigos para conversar em um dia de ensaio.

— A gente deu uma surtada quando aquele cara apareceu e ficamos achando que íamos ser famosos, aparecer na TV, mas não rolou, galera. Em menos de dois meses o ano acaba e eu vou sair daqui. Vou fazer faculdade. Quem ainda vai ficar por aqui para concluir é o Dam, mas o resto de vocês eu sei que vai embora também. Então, como não temos nada agendado, eu queria avisar que vou parar por aqui.

Acordes de Um SonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora