Um

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A neve caía sem parar, tudo estava branco e muito frio. Os carros se movimentava lentamente pelas ruas, e um Corolla prata parou em frente a uma casa com várias luzinhas pisca-pisca na frente.

Do lado de dentro, o dono da casa se apressou para ir até a porta e recepcionar sua visita. Iriam sair de casa em meia hora.

Lá fora a porta do carro se abriu e logo dois pezinhos ficaram no chão. A garotinha estava com muita roupa, uma bota, touca, luvas e um cachecol.

Estava preparada para o frio. Levava nas costas um mochila e foi logo abrindo o portaozinho que havia em frente a casa.

- Espera Liz! - Outra porta do carro se abriu e desceu uma mulher.

Não era muito alta, tinha os cabelos castanhos e algumas mexas em tons mais loiros. Também usava uma touca e estava sem luvas.

Dulce não queria estar ali, mas não teve opção. Ela e o pai de Liz estavam separados a quase dois anos, e desde então ela o evitava a todo custo.

Os dois brigavam muito, Christopher foi voltando a ser o irresponsável da adolescência, Dulce a ciumenta de sempre e a relação foi ficando insustentável. Porém ainda assim não foi fácil, após o fim Dulce chorou por semanas e sentiu falta da companhia dele.

Christopher curtiu a fossa de seu jeito, continuou irresponsável por mais um tempo, saiu para as festas, acreditou que ainda era jovem mas aos poucos também percebeu o quanto era difícil ficar sem sua família.

Quando tudo aconteceu Liz tinha um ano e meio e no começo ficou bem confusa. Não sabia porque o pai não estava mais em casa, porque não colocava mais ela para dormir ou assistia desenho junto com ela no sofá.

Tinham a guarda compartilhada da filha e aos poucos Liz foi entendendo que agora tinha duas casas, dois quartos, que o pai iria levar ela para sair final de semana e que a mãe adorava ir junto dela aos cinemas nas quartas-feiras.

Esse ano iria passar a véspera de natal na casa dos avós paternos e o dia de natal na casa dos avós maternos.

Dulce bem que tentou que alguém levasse Liz a cas de Christopher por ela, mas ninguém aceitou. Sua mãe estava enrolada com a ceia de natal, sua cunhada se atrasou nas compras e não atendia o celular por nada, seu irmão estava recepcionando os primos que vieram de fora. Sua última tentativa foi a ex-cunhada mas Annie estava grávida e passando mal.

Christopher abriu a porta e saiu para fora para recepciona-las. Estava usando um moletom, seu cabelo estava bem cortado e a barba por fazer. Mas Dulce decidiu não reparar em nada disso.

Abriu a porta traseira do carro e tirou mais uma mochila. Deu a volta e estava frente a frente com Christopher.

- Papai que saudade! - A garotinha correu para os braços do pai que logo a pegou no colo.

Liz deu um abraço forte em Christopher, e ele abriu um sorriso grande. Era impossível não sorrir ao estar do lado dela.

- Também estava com saudades amor! - Depositou um beijinho em um bochecha. - Oi Dulce.

- Oi. - Dulce deu um sorriso tímido e estendeu a mochila para Christopher. - Tem algumas coisas que ela pode precisar.

Pegou das mãos dela e colocou nas costas.

- Certo, obrigado. Amanhã antes do meio dia deixo ela na casa da Blanca.

- Obrigada. - Apertou os nós dos dedos totalmente sem saber o que fazer. - É isso né, se cuida filha.

Aproximou-se de Liz e lhe seu um beijo na pontinha do nariz.

- Te amo mamãe.

- Também te amo. - Se afastou sorrindo, e quando voltou a olhar para Christipher o sorriso foi embora logo. - Er... Feliz natal.

- Feliz natal, Dulce. - Respondeu ele.

Foi se afastando devagar até entrar no carro. Christopher e Liz não esperaram Dulce ir embora, estava muito frio e estava pesado segurar Liz e todas as suas mochilas.

Assim que entraram em casa puderam sentir a diferença do clima. Estava bem quentinho la dentro, e Liz logo foi tirando a luva, o cachecol e touca.

- Aqui dentro esta muito bom, papai. - Comentou Liz.

- Está quentinho né? Você quer comer alguma coisa? Está com fome?

Liz sentou-se no sofá e foi se livrando dos vários casacos que estava vestindo. Christopher colocou as mochilas ao lado dela no sofá e foi ajudá-la a tirar o casaco.

- Não estou não, eu comi com a mamãe antes de vir.

- Então tá, jaja estavamos saindo ta bom? A vovó disse que o papai noel vai passar na casa dela hoje.

- Mas o papai noel não é meu vovô Fernando?

Christopher gargalhou, ficou sabendo da história que um ou dois anos antes Fernando o pai de Dulce havia se vestido de papai noel, mas Liz havia descoberto assim que ele entrou na sala e ainda puxou sua barba branca para ter certeza.

- Acho que é outr papai noel, um de verdade. O vovô Fernando tava apensas fingindo.

- Não sei não, tenho um pouco de dúvida sobre o papai noel.

Estava achando graça do jeito dela, era muito esperta para a idade.

De repente a campainha tocou, achou estranho não estava esperando ninguém, pelo contrário logo estariam saindo de casa.

Olhou pelo olho mágico e estranhou ver Dulce do outro lado da porta, ele sabia que ela o evitava a todo custo.

- Dulce? - Abriu a porta.

- Você conhece algum guincho que estava funcionando agora? - A cara dela não era nada boa.

Christopher olhou para o relógio de pulso era seis e meia da tarde em uma véspera de natal, não havia quase nada funcionando.

- Acho meio difícil, mas posso ligar para alguns que conheço.

- Eu já liguei para vários nenhum atende, bati o carro em um banco de neve! - Estava frustrada era possível perceber por sua voz.

- Sério? Onde?

- Antes de chegar na esquina. Que raiva, vou me atrasar para o natal. - Reclamou.

- Calma, entra nós vamos dar um jeito.

Sem escolha acabou entrando, estava muito frio lá fora. Liz veio correndo para saber o que estava acontecendo, e Dulce logo a pegou no colo explicando o que houve.

Christopher tentou ligar para mais alguns números de ginchos e nenhum deu retorno. Ao que parece o carro de Dulce iria ficar por ali até o dia 26.

- Ninguém atende. É melhor deixar o carro lá, com essa neve não tem quase ninguém andando pela rua.

- E como vou para a casa dos meus pais?

- Posso te dar uma carona se você quiser, eu já estou de saída.

Dulce não queria de forma alguma ficar no mesmo carro de Christopher. Não queria nenhum tipo de aproximação, mas não haveria jeito precisava de uma carona.

- Tudo bem pode ser.

Ele pegou a chave em cima do balcão da cozinha e quando todos se dirigiam a saída para a garagem ouviu-se o barulho de algo quebrando.

Christopher correu para olhar a janela, não crendo no que via. Dulce seguiu para ver com Liz no colo.

- Não me diga que a neve do telhado caiu em frente ao seu portão da garagem. - Disse descrente, nada estava ajudando.

- Sim. - Apertou o controle da garagem e o portão não abriu nem 30 centímetros, emperrado pela neve.

- Estamos presos aqui?

Uma Nevasca no NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora