Assessora de um Rockstar

First Impression

    Johnny encarava a garota de cima a baixo com indiferença. Logo notou a enorme diferença entre ela e sua antiga subordinada, que trabalhava com o mesmo até algumas horas atrás. Ketlyn era uma mulher extravagante de pele bronzeada e cabelos tingidos de loiro, tinha uma astúcia invejável e sabia das piores coisas sobre o vocalista. Mas acima de tudo, era sua amiga companheira. Brigavam a todo momento, pelas besteiras feitas por Johnny. A que houvera naquele dia, foi definitiva. A loira não aguentava mais ve-lo correndo atrás de um relacionamento que não valia apena. A todo momento, ela alertava de como aquilo o consumia, de como estava o transformando e o afastando das pessoas. Mas aquela paixão doentia o deixava cego, fazendo até mesmo ele perder uma amizade de tantos anos. 

A sua frente, tinha uma figura assustada. Uma moça de estatura mediana e pele branca que pedia urgentemente por sol. Seus cabelos escuros estavam soltos, e a mesma usava uma camiseta um tanto amarrotada e um jeans com os famosos rasgos no joelho. Depp não sabia se quer seu primeiro nome. Quando perdeu sua assessora, apenas pediu a Abel uma substituta o mais rápido possível. Nunca soube como lidar com a agenda de shows, sessões de autógrafos e muitos menos a imprensa. Precisava de orientação, a mais simples que fosse. 

Do outro lado, Angelica suava frio e sentia seu rosto quente. Não sabia o por que de seu corpo reagir daquela forma. Sua mente tentava assimilar as coisas, mas estagnou no momento em que resolveu retribuir o olhar de Johnny. Se encaravam enquanto faziam inúmeras perguntas para si mesmos. 
Os dois nem se quer notaram o estranho silêncio que tinham instalado naquele ambiente, ignorando completamente as quatro pessoas que acompanhavam cada movimento deles. 
O produtor não aguentando mais aquela tortura, sem obter nenhuma resposta, decidiu-se por intervir na situação. Puxou os dois para mais perto um do outro.

- Depp, meu anjo, essa é Angelica. Não precisa se preocupar com essa cara! É o choque de conhecer um grande ídolo. - Dizia descontraído enquanto a mesma arregalou os olhos e imaginou todas as formas possíveis de matar aquela praga de mechas loiras. Só percebeu que Johnny a estendeu a mão quando o ouviu pigarrear. Se deu conta do papel que estava prestando e tratou de assumir outra postura. Seu lado adolescente estava a consumindo. Retribuiu o cumprimento tentando parecer o mais natural que pudesse.

- Prazer em conhece-lo senhor Depp! - soltou-se de sua mão em segundos. Aguardava uma resposta enquanto Johnny pensava coisas sobre a palavra "prazer". Ainda cogitou em fazer alguma piada, mas olhando bem para quem estava a sua frente, achou que não valia o esforço. 

- Minha querida, ainda não sei se posso dizer o mesmo sobre você. Mas espero que faça um bom trabalho. - Angelica ficou boquiaberta com a resposta inesperada , estava prestes a xinga-lo quando foi interrompida. 

- Johnny que isso! Você mal a conhece. - Leonardo aproximou-se dela gentilmente. - Eu já me apresentei Angelica? - Deu um beijo rápido na bochecha da garota, fazendo o seu colega de banda revirar os olhos.

- Não precisa! Eu não sou tão fã, mas conheço cada um de vocês. - Disse com um breve sorriso olhando para cada um que estava a sua volta, ignorando Johnny.

- Não sei o motivo para tanta melação! Está apenas em uma fase de teste. Tenho certeza que mais dia menos dia Ketlyn volta! - Todos estavam se perguntando o por que de Johnny estar se comportando daquele jeito, o problema é que nem o próprio sabia. 

- Meu amigo, esquece a oxigenada! - Robert interviu enquanto tomava sua inseparável cerveja. 

- E a sua ex também! Por tudo que é mais sagrado. O que você fez hoje foi impagável. - Brad também entrou na discussão debochando de seu amigo. 

- Desse jeito vocês vão assusta-la seus brutos. - O produtor disse fazendo os se lembrarem do ponto central daquela conversa. 

- Parem! - Depp chamou a atenção de todos para si. - Se você realmente quiser esse emprego, apareça amanhã na produtora as 8h em ponto. Abel te vai te explicar melhor. - Virou as costas fazendo pouco caso e foi em direção ao outro compartimento do ônibus. 

Já do lado de fora, Angelica ainda se perguntava o que tinha acontecido. Sua primeira impressão foi a de um cara egocêntrico, arrogante, sem o menor pudor. Saiu dali sentindo uma energia péssima. Era completamente diferente por trás das câmeras e holofotes. Fez com que se sentisse a pior pessoa do mundo. Pegou as instruções com Abel, mas ainda tinha sérias dúvidas se iria ou não.

🎸

Quando chegou em seu apartamento, que dividia o aluguel com a amiga, se sentia extremamente cansada e seu corpo gritava pela cama. Já se passavam das 2h da manhã e tratou de fazer o menor barulho possível para que Megan não acordasse. Queria fugir de suas perguntas a tudo custo. 

Tomou um rápido banho e comeu qualquer besteira que havia encontrado na geladeira, enquanto mexia em seu celular. Abriu o navegador, e a primeira coisa que viu foi uma notícia sobre a "homenagem" que Johnny havia feito a Sthefany. Em instinto, leu a matéria e procurou entender melhor a relação dos dois. Já estava na décima página, bolando mil teses diferentes, como um teórico da conspiração. Era algo realmente difícil de se entender. Cada site contava uma história diferente, onde Johnny hora era bom, hora era mau. Só se deu conta do tempo que passou ali, quando ouviu uma voz familiar a assusta-la.

- Então quer dizer que a senhorita achou mesmo que podia escapar de mim? - Praticamente polou do sofá enquanto ouvia as risadas da ruiva a sua frente. 

- Você quase me mata criatura! - Ainda tentava regular a respiração descontrolada. 

- Posso saber o que tanto você vê nesse celular? Não vai me dizer que já está de caso com o bonitão! - Megan estava com sua curiosidade a mil aguardando uma resposta positiva. 

- Claro que não sua louca! Não sei de onde você tira essas coisas.

- Então me conta! - Bateu a mão no sofá, indicando para a amiga sentar-se e começar a fofoca. 

Angelica contou absolutamente tudo, com riqueza de detalhes, desde o desespero para entrar no local, a apresentação sem nexo de Johnny e a forma como foi tratada. 

- Eu juro que tô abismada! Esse homem não precisa de assessora e sim de uma psicóloga! Você ainda vai ir amanhã? - A mulher de olhos verdes ainda tentava assimilar tudo que acabou de ouvir. 

- Acho que sim. É melhor do que ir cuidar dos filhos da vizinha não é? - Ficou triste ao se lembrar de todo esforço que fez para se formar, mas não encontrava nenhum emprego na sua área.

- Angie, olha pra mim. Só fica com esse emprego se realmente gostar dele. Não fica se humilhando! Você é inteligentissima e não merece passar por nada disso. Se não de certo, você encontra outro, tudo bem? 

Abraçou Megan na mesma hora, segurando a lágrima que queria sair de seu olho esquerdo. Sabia que seria difícil, mas tentaria.