II

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Dois dias se passaram, desde a fatídica morte de Jefferson. Ainda sem solução, o comitê dos pais da escola decidiram que três dias é o suficiente para superar a morte de um aluno nota 7. Hoje é o enterro dele e tudo o que se sabe, é que uma seringa cheia de veneno de cobra foi injetado em sua veia. Estou amedrontada e com receio de voltar pra escola, mesmo sabendo que ninguém de lá teria a coragem de fazer isso. Só em quem confio é em meus amigos. Não, eu não tenho idéia se levar em consideração que Jefferson tinha muitos segredos. Ele usava drogas atrás da escola, achando que nunca seria descoberto, a diretora Michelle o viu quatro vezes repetindo o ato. Ele passou duas semanas num centro de reabilitação, dizendo que estava viajando com a família em Madrid ou seria Dubai? Sou péssima em geografia.
-Jenna, foque por favor. -diz o detetive em voz alta me tirando de meu devaneio.
-Sinto muito. Ainda estou assustada com tudo o que aconteceu, mas eu vou ficar bem.
-Você poderia dizer o que estava fazendo no momento do ocorrido?
-Mas eu já disse, eu que chamei a ambulância. Estava com todos os meus amigos na frente da escola, onde sempre nos vemos para ir de ônibus. Já posso ir no enterro do meu amigo?
-Mas por que estavam parados? Diz aqui no meu documento que ele caiu exatamente às 16:43 e o ônibus passa na frente da escola de 16:41.
-Estávamos esperando ele chegar. -minto. Não posso falar sobre a mensagem, pois irá pedir para ver meu celular. -Posso ir agora?
-Pode sim.

    Me levanto e saio andando sem pensar muito, apenas estou me sentindo mal em mentir para a polícia. Desde que aconteceu tudo que não falo com os meninos, mas sinto que é o melhor a se fazer. Me afastar pode ser a resposta atual que preciso. Ao sair da delegacia, vou a biblioteca de sempre, tomo o café de sempre lendo "Quinze Dias" do Victor Martins. Estava na cena do beijo de Felipe e Caio quando uma mão gélida que arrepia minha espinha dorsal, toca meu ombro com firmeza mas ao mesmo o tempo o toque é delicado. 
  -Tem alguém aqui? -diz um menino com aparentemente a minha idade, cabelos castanhos, olhar fofo da mesma cor do cabelo, sardas por todo o rosto e sorriso com dentes perfeitamente alinhados. Eu morri e isso é o paraíso? -Oi?
  -Não, não tem ninguém. -certo, eu aceito que fui grossa. Fala serio! quando que um deus grego de tal patamar olharia para mim? Jenna, a menina branca, gorda, do cabelo pseudo cacheado, do sorriso amarelado, míope e hipermetrope do olho castanho escuro o suficiente pra ver o próprio reflexo com nitidez? -O que tá esperando? pode levar.
  -Na verdade, prefiro sentar aqui -fala ele sentando.
  -Ah, claro. 

   Sorrio sem graça de finalmente estar sendo notada e ao jogar o cabelo para o lado para tirar o óculos, ouço risadas distantes. Ao me virar para ver o que era, Jonas e Lucas simplesmente estavam olhando para mim gargalhando. O menino misterioso, estava gargalhando também.
   Jonas e Lucas foram os dois meninos que destruíram minha vida no ensino fundamental, jogaram meus livros pela janela, batiam em mim, me trancaram no banheiro e eu não sabia como reagir. Tirei meu óculos, peguei minha bolsa, meu livro e corri o máximo que pude. Não aguentaria ser humilhada novamente, eu não aguentava sentir isso. Corri para o lado de fora enquanto ouvia a voz do menino bonito gritando "Volta aqui gorda podre." Corri o mais rápido que pude, não pensei no vento atormentador que soprava em meu rosto ou nas gotas de chuva que ousavam cair em meu rosto sem maquiagem, pois minha mãe não me deixa usar. Talvez um pouco de maquiagem me ajudaria a mascarar minha ininterrupta vontade de acabar com todo meu sofrimento e destruir tudo o que conheço como meu. Não aguento mais tudo isso, mesmo que não pareça, é difícil se manter de pé quando tudo ao seu redor desmorona. Meninos bonitos como eles só são meninos bonitos e esse talvez seja o maior insulto que conheço, mas seria bem usado se pessoas ignorantes soubessem o que isso significa.
   Chego em meu quarto me sentindo sufocada, como se tudo estivesse em preto e branco num filtro bizarro do Snapchat. Minha dor no peito aumenta, minha respiração para, meu coração acelera, minha boca seca, minha janela é aberta e alguém com roupas estranhas que parece um macacão verde escuro entra. Não vejo seu rosto, além de estar envolto num saco de pano branco, eu estou sem meus óculos. Apesar de não enxergar bem, reconheço o objeto em sua mão. Uma faca com lâmina brilhante, está diante de mim. Não sei reagir, apenas sinto todas as partes de mim se desfazendo, como se toda matéria do meu corpo fosse em bora. Não sinto mais nada. Ele levanta a mão com a clara intenção de me desferir um golpe, quando fecho os olhos, Gordon solta um miado alto, o que me faz abrir os olhos novamente. O meu gato dócil está na cabeça do assassino, arranhando seu rosto através do que enconde sua identidade. Em um momento de desespero ele tira o que o mantinha um segredo gritando "Sua Puta" e bate com o pé muito forte na minha cabeça que me deixa inconsciente. Tudo o que vi foi seu cabelo curto, o que deixa como suspeito só 98% de todos os homens da cidade. 
    Abro os olhos e estou na mesma posição de antes, mas deitada na cama e meu quarto está intocável, sem vestígios de nada. Nem uma gota de sangue sequer tem no piso, eu acharia que foi tudo um pesadelo se não fosse a dor forte na minha cabeça. Pego meu celular e faço uma chamada de vídeo com todos, o primeiro a atender foi Pedro, mas todos os outros atendem em seguida, um atrás do outro. 
   -Algo muito estranho aconteceu gente. -falo pondo os óculos novamente no rosto, ele estava na minha mão quando entrei no quarto e agora estava sobre minha cômoda repousando suavemente suas astes azul claro. -O assassino, ele esteve aqui e eu vi o rosto dele.
   -Espera, tá brincando né? -diz Millena com tom de raiva em sua voz
   -Não Mi, ela não brincaria com isso. -responde Gaby demonstrando-se convicta com sua fala 
   -Tá tudo bem? O que aconteceu? -Pedro indaga junto com Letícia que fala ainda mais assustada
   -Ele entrou aqui, bateu em mim e fugiu depois de Gordon ter atacado ele. Tudo o que consegui ver foi seu cabelo curto e mais nada, estava tendo outra crise de ansiedade quando ele entrou no meu quarto. Tudo o que lembro com certeza foi de sua voz falando "Sua Puta" mas sua voz parecia mais aguda que a da maioria dos homens, porém muito grave para ser uma voz feminina. 
   -Então a pessoa que matou Jefferson, invadiu tua casa e mandou aquela mensagem pra gente? -fala Evellyn muito rápido. -Espera, recebi uma mensagem. - É quando todos os nossos celulares tocam. -E acho que vocês também. Vamos ler todos juntos, tudo bem?
   começamos em uníssono -Se os pecadores estão precisando de castigo, eu darei. Queimarão no inferno da ponta da minha faca quem se opor. Os vejo no fogo. Atenciosamente, Serpente. - no momento que terminamos e todos voltam a atenção aos notebooks, vemos que algo está atrás de Evellyn. -Evellyn, Cuidado!

   Achei que teríamos um dia livre, mas ele fez outra vítima. A imagem dele degolando o pescoço de Evellyn não sai da minha mente como provavelmente a pior imagem que tive em toda minha vida. Se não fosse o grito interrompido em sua voz machucada, talvez eu conseguiria esquecer em uma próxima vida. Me senti incapaz e em choque. Ver sua Máscara novamente me fez extremecer. Ele desligou a ligação e eu entro em desespero interno, correndo enquanto tudo aparece quase em câmera lenta. Corro por 8 ruas longas pra chegar na casa de Evellyn, quando a sirene da polícia é a música em questão. Millena está lá abraçando os pais de Eve, o apelido carinhoso dela nunca vai sair da minha mente, eu não aguento outra perda. Precisamos não só resistir mas dessa vez, vamos revidar. Eu vou revidar. 
  

Olhos FechadosOnde histórias criam vida. Descubra agora