Eu estava sentada na cama com Janay e Gaby. Os policiais após morte de Evellyn, vieram nos atualizar de tudo e disseram que o corpo dela ainda estava desaparecido e que se tivéssemos qualquer pista, deveríamos contar a eles. Não tivemos coragem de ao menos contar sobre as malditas mensagens diabólicas de Snake, mas tivemos vontade mesmo era de procurar por aquele monstro que havia matado Jefferson e Evellyn. Não queremos ir ao baile, mas sei que precisamos continuar vivendo. O baile de halloween onde teremos nossa apresentação, é hoje. Temos uma performance da música This Is Me da Ke$ha, mas ainda me sinto sem confiança em mim mesma. Os calafrios voltam quando penso no grande show que Snake prometeu dar esta noite. O chão está muito frio ou meu corpo está muito quente com tudo o que aconteceu?
-Jenna, você tá bem? Precisamos nos arrumar. - diz Gaby com a voz serena
-Claro, eu sei. Só não sei se devemos mesmo ir. Me parece tão amedrontador voltar na escola, depois da morte de Jeff, ou ver as pessoas da sala novamente. Juro por Nix que se Rachel vier me consolar ou falar comigo, eu mando ela e a sua cara de vagabunda pro inferno. - respondo com sinceridade e ao mesmo tempo achando graça.
-Se acalma, Nicki Minaj. Se aquele projeto de Cardi B do agreste vier tentar falar alguma coisa, eu mesma me livro dela. - diz Janay toda confiante.Me levanto e sigo para a cadeira, onde minha roupa está totalmente esticada para não amassar. Um longo vestido vermelho, com uma fenda até metade da minha coxa e um decote em forma de V que vai até metade dos meus bustos fartos que ousam querer se mostrar mais do que deveriam. Ao vestir, faço a cerimonia padrão de pedir as meninas que se virem. Mesmo gostando de me vestir elegante e matadora, ainda sinto problemas com o meu corpo largo sem cintura muito marcada nem bunda volumosa. Um quadril largo num corpo de cone, é tudo o que eu tenho. Janay está de verde num vestido estilo sereia que contrasta bem com sua pele escura e olhos amendoados. Gaby está de Amarelo, mesmo que fosco, ela é como uma estrela brilhante, como um sol espetacular que apenas de ver seus pés, já me sinto em nuvens me banhando em raios de sol luminosos e estonteantes. Ao sair de casa, nos encontramos com Pedro que veste uma camisa social azul claro e Millena que veste um tomara que caia rosa de decote que chega até o fim de seus seios. Paula e Letícia estão nos esperando dentro da van do pai de Juliana que se comprometeu em nos levar ao baile, mesmo que seja longe, ele concordou em nos buscar em casa e em nos levar em segurança. Todos entraram no carro e eu estou com meus óculos redondos parecendo que saí de um cena em que fui dublê do Daniel Radcliffe em um novo Harry Potter, mas é enquanto entro que minha mãe vem correndo até a mim chamando meu nome.
-Jenna? - diz ela ao se aproximar mas logo continua -Você esqueceu a pulseira da sua avó em cima da mesa.
-Ai meu Deus, obrigada mãe. Provavelmente surtaria sem isso. - pego a pulseira e ponho no braço direito de sempre.
-De nada amor. Não deixaria você sair assim sem o seu item da sorte. Volte cedo e não beba nada que um homem branco te oferecer.
-Eu sei mãe. - entro no carro e mando um beijo para ela enquanto o carro começa a se movimentar.Ao desviar o olhar da minha mãe, vejo um vulto preto. Olho novamente e ele não está mais lá. Acredito que tenha sido minha mente tentando me pregar uma peça, mas no fundo ainda estou apreensiva desde assistir a morte de Evellyn. Ao lembrar disso, toco na pulseira da minha avó. Chego a recordar a história da morte da vovó Dalva, que minha mãe fazia questão de contar sempre que perguntavam se já houve algum momento que ela não conseguia esquecer. O ano era 1995. Num verão ensolarado em Recife, meus avós iriam visitar minha tia avó Marinete que morava em surubim, uma cidade do interior de Pernambuco. Um chevete carregava 5 pessoas, numa viajem inesquecível para toda a família. Meus avós, meu tio e meus dois primos estavam indo normalmente, quando o rádio começou a tocar Rita Lee. Tudo correria bem se um motorista de ônibus bêbado não tivesse perdido a direção e batido no carro dos meus avós, bem do lado em que a minha avó estava. Os corpos de todos foram destruídos, muitos ossos quebrados, muito sangue jorrando e ainda tocava Rita Lee. O rádio, foi a unica coisa que sobreviveu ao acidente. Minha avó estava muito desfigurada mas em seu braço estava sua correntinha de ouro com uma pequena pedrinha do que deveria ser um diamante, mas era na verdade uma bijuteria que o meu avô romântico, porém pobre pôde dar a ela. O motorista do ônibus fugiu e ninguém nunca o encontrou, mas sinceramente? Espero que aquele filho da puta tenha morrido.
Ao chegar na escola, descemos todos do carro. Apenas ao descer percebo que Juliana está vestida com um vestido que mais parece uma mortalha, ou que uma freira muito caridosa tinha emprestado para ela. Sim, eu sei que é errado rir do gosto dos amigos, mas não me segurei e ri baixo enquanto desviava a vista.-Prontos para o grande dia? - diz a zeladora Hellen
-Deveríamos estar? - falo com vergonha
-Vamos entrar, gente. - fala Juliana que logo passa em nossa frente, nos guiando até o auditórioEstão todos dançando alegremente como se nada tivesse acontecido. Como podem ser tão insensíveis? eu estou definhando por dentro, minha alma está se contorcendo com tudo o que está acontecendo e eles estão se divertindo. Quando entramos, todos param para nos olhar como se fossemos forasteiros entrando em terras desconhecidas.
Após sentarmos, observo que as músicas lentas começaram e Paula está dançando com Letícia. Quando será que essas duas vão finalmente oficializar tudo? O lado bom de ser assexual, é que ninguém espera que eu saia por aí dançando com ninguém ou me apaixonando por algum menino idiota. As apresentações começam e não acho que os primeiros anos tenham se esforçado para essas apresentações tão mal ensaiadas e coreografias copiadas, onde o mais genuíno que existe nelas, são os figurinos cafonas e mal acabados. Nossa hora finalmente chega e estou bem posicionada ao palco, quando o holofote acende e toda a luz em mim, faz meu vestido resplandecer. Os aplausos no decorrer na peça, me mostra como tudo isso foi mágico. Os sorrisos, os gritos de emoção e até mesmo as lágrimas que arrancamos de todos, foram o que fizeram valer a pena todos os ensaios. Estávamos prontos para o "Gran Finale" onde todos os instrumentos da música param e o ultimo grito de "This Is Me" é cantado pela Ke$ha, quando ao puxar o pano que cobria o trono da personagem principal, me deparei com o corpo de Evellyn sentado nele e uma coroa em sua cabeça, onde estava escrito "Vadia" com tinta vermelha que parecia sangue mas eu prefiro acreditar que era apenas tinta vermelha. O corpo dela estava ali e eu não conseguia me mexer, não conseguia respirar e não conseguia mais olhar aquilo. Gritei imediatamente quando me dei por mim, mas não adiantaria gritar. O corpo dela estava ali e não voltaria a vida ou aquela imagem que não sairia da minha mente nunca mais. Todos gritaram e correram, me deixando sozinha no auditório e foi quando eu olhei para a plateia que estavam todos correndo já da metade para o final do espaço e os atores da peça estavam indo também enquanto me chamavam e eu não conseguia me mexer. Observei pedro correndo e foi quando senti algo tocando meu corpo com força, me seguraram enquanto a mesma pessoa que fez isso, pôs um pano com clorofórmio na boca e nariz. Enquanto isso acontecia, pude ver Paula correndo, ela foi a ultima. ficou paralisada também até essa pessoa me pegar, foi então que ela correu, mas o destino dela foi algo muito pior do que ela imaginava que seria. Ao fugir de quem estava atrás de mim, ela trombou com outra pessoa que vestia um macacão verde escuro e máscara branca com formato de rosto de mulher, mas com o que parece um traço vertical, talvez um I ao lado do olho esquerdo. Essa pessoa, talvez um cumplice de Snake, perfurou Paula com um pedaço de madeira afiado o suficiente para transpassar seu corpo, espirrando sangue por todo o perimetro num raio de 1 metro que parecia ter sido feito com tinta. Paula caiu de joelhos, olhando para mim e cuspiu sangue enquanto caía no chão, já sem vida. Foi quando minha vista apagou e agora eu acordei aqui.
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Olhos Fechados
Teen FictionMortes, sangue e mistérios rondam a cidade dos Anjos. Após a recente noite de halloween fatídica, Jenna se encontra numa situação arriscada, tendo em vista que sua vida ainda corre perigo mesmo tendo acabado de ser salva por seu gato de um assassino...