Capítulo 2

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Camila acordou de um sonho estranho com uma garota que lhe dizia que a amava e então saía correndo, foi agoniante, pois ela não conseguia se mover para acompanhar a garota.

Foi apenas quando os seus olhos encararam o calendário que se deu conta: tinha treze anos! Fez o ritual e então... dormiu. Ela prontamente arregalou os olhos, tinha a sensação de que acabara de receber um soco no estômago. E se o ritual não tivesse dado certo? Mas não tem como não dar certo, não era o que diziam quando perguntava isso?

Pegou a folha, suas mãos tremiam como nunca. Em seguida, pegou uma das canetas que as amigas haviam lhe dado, era de tinta preta. Sentou-se na escrivaninha e respirou fundo antes de começar a escrever.

"Olá, me chamo Camila. Pelo visto sou a sua alma gêmea. Qual é o seu nome? Quantos anos você tem? Acabei de completar 13 anos."

Camila pensou em escrever mais coisas, estava tão animada para conhecer tudo sobre a sua alma gêmea, descobrir cada detalhe sobre essa pessoa. Porém, antes de qualquer coisa, queria ter certeza de que o ritual tinha dado certo.

A tinta permaneceu no papel por mais alguns segundos e então sumiu. Nenhuma resposta. Ela até colocou a folha perto dos olhos para tentar ver qualquer resquício de tinta, de algo que pudesse ser a tentativa de resposta, contudo, nada apareceu.

Decidiu esperar mais cinco minutos, se nada acontecesse então poderia surtar. Dois minutos depois, ela decidiu ir falar com os pais. Não estava surtando, pelo menos ainda não. Apesar de o dia estar apenas começando e os primeiros raios de sol iluminarem a casa aos poucos, a casa estava em sua maior parte escura. Camila poderia acordar os pais depois, mas a situação era emergencial – pelo menos para ela.

–Filha, ainda nem são seis da manhã. Já parou para pensar que a sua alma gêmea esteja dormindo?

Foi o que a mãe respondeu depois de ter ouvido a voz quase chorosa da filha explicando a sua situação.

–Mas mãe, você me disse que mesmo quando a folha não está perto a gente sente quando tem algo lá, dá pra sentir até os sentimentos mais fortes da pessoa, se ela está mal ou bem. Eu estava tão animada, será que ela não sentiu? –E então virou-se para o pai. -Papa, será que fiz algo de errado? Será que fui a primeira a fazer algo de errado?

–Querida, não tem como fazer errado. Talvez ela não tenha nascido, talvez não tenha 13 anos ou talvez não tenha acordado.

O pai pensou que poderia dizer que a alma gêmea talvez não quisesse falar com a filha, porém ponderou sobre o estrago que isso causaria. A filha havia esperado muito por este dia, era o que ela mais desejava na vida. Assim, decidiu que se a alma gêmea de Camila não respondesse durante o dia, ele iria procurar um terapeuta para a filha. Havia alguns profissionais preparados para lidar com esses tipos de situações, para ajudar as pessoas a superarem não terem recebido respostas.

–Talvez receba uma reposta mais tarde. Pode levar a sua folha para o colégio, mas não a use o tempo todo. Precisa focar nas aulas. –Disse a mãe.

Com os ombros baixos, murmurou um "ok". Entendeu claramente que deveria voltar a dormir e assim o fez. Achou que demoraria, porém, logo que caiu na cama Camila mergulhou em mais sonhos esquisitos, dessa vez via um bebê em sua festa de aniversário, mas na faixa dizia "alma gêmea". O bebê transformou-se em uma folha verde que Camila tentava escrever, porém nenhuma tinta fazia rabiscos, como se a folha fosse impermeável.

Camila acordou com som do despertador, precisava se arrumar para ir à escola. Checou a folha três vezes antes de ir ao banheiro e mais umas duas vezes antes de descer as escadas para tomar café da manhã. Comeu tudo sem falar nada, o caminho até a escola fora igualmente silencioso. Os pais deveriam ter dito aos familiares para não falarem sobre isso, pois não recebeu ligações perguntando sobre o assunto.

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