Capítulo 11

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Lauren tamborilava os dedos por cima do seu caderno, o tédio a consumia intensamente. Começou a se perguntar por qual motivo havia decidido ir à aquela palestra. "Você precisa de horas extracurriculares, Lauren" Respondeu a si mesma.

Obrigou a sua mente a prestar atenção ao que o palestrante dizia, porém, a única resposta do seu corpo era a vontade de fechar os olhos e dormir. Não que estivesse com sono, pelo contrário, o café que tomara mais cedo a deixou mais alerta. Contudo, a voz do homem era capaz de minimizar o efeito da cafeína, com sua voz monótona e sua palestra nada interessante. Lauren começou a se questionar se seria errado gravar o que o homem falava apenas para que pudesse ouvir novamente em uma noite de insônia.

O homem descrevia uma imagem que era projetada no quadro branco quando Lauren sentiu um arrepio passar pelo seu corpo, seguido por uma sensação de calor que partia de seu braço esquerdo. Ela jamais supôs, jamais imaginou que algo assim pudesse acontecer, por isso surpreendeu-se quando traços pretos surgiram em seu braço. E aos poucos, os traços formaram letras. Letras essas que pareciam terem sido escritas de maneira rápida, sem preocupação torná-las traços belos, ou ao menos, apresentáveis ao leitor.

"Preciso de sua ajuda, a minha irmã passou mal e não tenho como levá-la ao Pronto Socorro. É urgente!".

Arregalando os olhos e com o coração palpitando, sentiu uma tontura, achou que iria desmaiar. Pegou a caneta antes destinada às anotações da palestra chata para escrever algo útil. Dentre todas as coisas que pudesse ter respondido, escreveu logo abaixo do que Camila mandou:

"Quer que eu chame uma ambulância?"

Soou idiota, porém, Lauren julgou ser a resposta mais sensata. Afinal, não poderia simplesmente sair correndo em direção da casa de alguém que a odiava mais do que qualquer outra pessoa no mundo.

Os traços sumiram rapidamente, era como se o seu corpo soubesse que precisava de mais espaço para novas palavras.

"Os gastos com a ambulância são exorbitantes". Os traços se formaram com maior rapidez que os anteriores. Esperou, mas Camila não escreveu nada mais. E então respondeu: "Estou indo!".

Saiu da sala sem nem ao menos se importar com o olhar de repúdio do palestrante. Quanto à plateia, bem, eles olharam para ela como se fosse a coisa mais interessante que havia ocorrido ali nos últimos 20 minutos, e de fato ela era.

Tentou não infringir as leis de trânsito no caminho até a casa de Camila. Tentou acalmar as sensações de seu corpo ao saber que veria a amada após vários anos. Tentou não se preocupar com a irmãzinha de Camila. Tentou não fantasiar sobre como seria a interação das duas depois que levasse a garotinha ao Pronto Socorro. Tentou não alimentar as esperanças de que aquele poderia ser um recomeço. Tentou não pensar em como poderia utilizar esse pretexto para tentar reconquistar Camila.

Tentou, tentou, tentou. Todavia, a única tentativa que se realizou foi a de não infringir as leis de trânsito, embora com muito custo, pois sabia que precisava estar lá o mais depressa possível.

"Será que Camila ainda não aprendeu a dirigir? Talvez eu possa ensiná-la". Lauren não pode deixar de sorrir com o pensamento. Em alguns minutos estava em frente à casa de Camila, por sorte o trânsito não estava caótico neste horário.

"Estou aqui, precisa de ajuda para trazê-la até o carro?" Escreveu.

Viu Camila saindo da casa com a irmã nos braços, trancando a porta logo em seguida. Não pôde deixar de reparar na poderosa mulher que Camila havia se tornado, era como se ela tivesse uma aura que emanava a sua força, maturidade e beleza. Lauren começou a se perguntar se poderia lidar com essa nova Camila, pois se sentia no lado oposto: fraca, incapaz, e até não merecedora de uma mulher tão incrível. Afinal, fora ela quem havia acabado com quaisquer chances de ficarem juntas.

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