Canção Selvagem

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    Salvatore tentava de muitas maneiras melhorar sua relação com Gyja, e realmente com o passar de alguns anos a relação dos dois mudou de pedregosa para áspera. O treino continuava muito duro e cada vez mais desafiador, mas o homem com flores nos olhos sabia que seu esforço seria recompensado no final, sua velocidade era comparada com o bater de asas de um beija-flor, conseguia acertar alvos com facas enquanto fazia performances acrobáticas. Gyja deu a ele um florete para treinar, era feito de prata e bem leve. Rapidamente Salvatore aprendeu a manusear a arma com muita maestria, seus golpes retalhavam os alvos em queda livre, conseguiu até mesmo perfurar mais de sete moedas que foram jogadas em sua direção, as sete foram atravessadas com exatidão no meio. Gyja não conversava muito mas já era notável um laço bem estabelecido entre um aluno e um professor, não eram amigos, nem mesmo colegas, mas um confiava no outro e Salvatore tinha grande respeito por essa figura de extrema disciplina.

   Já fazia cerca de doze anos que o Homem com olhos de rosas estava em seu treinamento com Gyja, amadureceu e aprimorou muito suas habilidades. A mulher ainda implicava um pouco com o rapaz e principalmente com sua forma de se vestir. Roupas que cobriam todos seu corpo deixando apenas a cabeça aparente, causa de couro e botas longas de salto baixo, sempre uma blusa larga junto com um espartilho, luvas que vinham dos cotovelos e uma gargantilha de couro. Gyja zombava que o homem muitas vezes se parecia com uma mulher mas o próprio não se importava com isso, suas roupas eram assim pois queria cobrir o máximo que podia do seu corpo coberto por cicatrizes e veias negras, Salvatore não se sentia bem se não estivesse usando uma boa roupa apertada e flexível que ocultasse seu corpo quase que por inteiro, já havia explicado muitas vezes isso a mulher, mas ela achava que era um motivo bobo. O homem com olhos de rosas já havia notado que a algum tempo ele e sua tutora não se enfrentavam mais em um treino, pouco mais de dois anos eles trocaram essa parte do exercício diário por treino de performances e acrobacias, mesmo assim toda vez que Salvatore perguntava a Gyja o motivo da substituição a mulher fazia uma cara de nojo e se virava lhe dando as costas. Salvatore sentia que algo de errado estava acontecendo, sentia que alguma coisa futuramente iria acontecer, não sabia oque era, mas uma náusea e angustia estavam presentes quando pensava sobre o assunto.

   Uma noite Gyja chama Salvatore para uma ronda noturna, essas vigilâncias noturnas estavam se tornando comuns desde que dois jovens desapareceram a quatro semanas atrás. O homem com olhos de rosas se veste e se apronta para a observar a canção melancólica do luar pálido e da noite fria na cidade. Gyja estava o esperando em frente a um grande vitral da torre onde moram, ela se vira e diz para Salvatore que dessa vez mais três pessoas sumiram, dessas três duas são crianças e encontraram sangue no local, o homem então pergunta se é provável que seja obra de uma bruxa, mas sua tutora responde negando essa possibilidade, pois bruxas geralmente não deixam vestígios, elas sequestram suas vítimas, Salvatore desanima um pouco mas mesmo assim está pronto para a vigilância. Gyja manda o homem com rosas nos olhos fazer uma rota para fora dos portões da cidade, dessa vez em direção a queda d'água do rio que abastece o reino. A mulher iria investigar a floresta mais próxima das residências onde ocorreram os ataques. Gyja diz a Salvatore que pode ser que uma ou duas das pessoas levadas ainda estejam vivas, mas provavelmente não passam dessa noite, o homem com olhos de rosas então se vira e sai noite a dentro para fazer sua vigia.

   Já do outro lado perto do rio, Salvatore com uma tocha erguida procurava algo que servisse de pista, a tocha não era para iluminar o local, ele não precisava de visão para achar uma prova ou algo que o ajudasse a desvendar a identidade do sequestrador, a tocha estava com a função de chamar a atenção, Salvatore queria passar a imagem de uma presa vulnerável para que o ser misteriosos se revela-se. O homem escondeu suas armas por baixo de um grande casaco e se encapuzou, já estava andando a um bom tempo, já era possível escutar a queda retumbante das águas do rio, mas essa melodia foi quebrada por um som estranho, tinha um som reconfortante atraente, agradável aos ouvidos, eram como ninfas cortejando a noite durante um festival das árvores, a melodia vibrava no cérebro de Salvatore que pelo som é atraído até a beirado do desfiladeiro onde o rio caía, o homem então dirige sua atenção para o profundo e escuro infinito que nem mesmo a lua conseguia clarear, o som parecia estar se aproximando, então um sopro gelado empurrou o homem com olhos de rosas para trás, onde caiu sentando nas rochas lisas por causa da erosão do rio, o vento ainda assoprava com força e a melodia parecia ser executada dentro de sua própria cabeça, sentiu que seu corpo não respondia mais com exatidão, estava tonto e um pouco deslocado até que viu uma carroça tombada do outro lado do rio, o cadáver de um cavalo já estava fundido com o chão do local e algumas caixas estavam caídas próximas. Salvatore se levanta com um pouco de dificuldade e tenta se dirigir até o veículo quebrado, ao se aproximar do corpo do animal, o homem se lembra de quando foi resgatado por Havog na floresta, depois de alguns segundos nota um chicote largado no chão, Salvatore o ergue e nota que a música estava mudando, parecia mais selvagem, como uma caçada de lobos, ou uma conversa silenciosa de ladrões em um telhado, era uma melodia calma e maliciosa, parecia uma emboscada. Ao se virar Salvatore nota que havia uma figura tocando arpa flutuando sobe as águas do rio. o Homem dá alguns passos para trás saca seu florete com sua mão direita e oculta três facas de arremesso que estão em sua mão esquerda por baixo do grande manto que vestia. A criatura tinha dois rostos, um colado no outro e possuía um sorriso malicioso e gentil ao mesmo tempo, estava nua debruçada no instrumento feito de pedras brancas. Antes que Salvatore pudesse se mover a criatura sussurra que veio por uma amiga e que deixa como presente a dica para matar uma inimiga, após isso a figura se joga no abismo com sua arpa, o homem corre até a borda e quando dirige sua atenção para para baixo a única coisa que pode notar foi o definhamento da bela canção selvagem.

" Não tema a feroz caçada dos cães noturnos, nem mesmo o som de seus pesadelos se alimentando de sua sanidade, uma velha amiga precisava de minha ajuda e por seu chamado eu vim, faça bom proveito! "

                                                                                                                         Aspecto da melodia selvagem

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⏰ Last updated: Dec 19, 2019 ⏰

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Salvatore a Rosa Sangrenta da Sleep FlorestWhere stories live. Discover now