Pareces um estranho para mim. Nunca pensei dizer isto de ti. Nunca me senti tão perdida contigo, nunca foi esse sentimento que se sobressaiu no mar de emoções que sinto por ti.
Temos menos de um metro entre nós, uma distância que nunca pareceu tão distante, se calhar por estarmos sempre mais perto quando estamos juntos, desde quando nos conhecemos; se calhar pelo olhar que me reservas, cruel e frio.
Tivemos os nossos momentos de dificuldade. São poucas as relações que se conseguem livrar disso. Nós nunca iriamos ser uma delas com a nossa teimosia partilhada, pelo ego elevado nos aspetos errados. No entanto, nos piores momentos, nunca me olhaste dessa forma. Eu nunca te olharia dessa forma.
Dizes que traí a tua confiança, que quebrei uma regra ou algo do género. Dizes que sou nojenta, dizes que sou um monstro, num tom que nunca imaginei seres capaz de falar.
Eu digo que não te entendo. Digo que nunca faria algo para te magoar. Digo que estás a ser injusto. Lembro-me de um ou dois momentos do passado que passaram de relance, mas aos quais eu deveria ter prestado atenção.
O que é que eles mostravam? O que é que o teu tom mostra?
Em que é que um tremor de mãos se pode tornar?
Será que eu te conheço, meu estranho amado? Porque eu nunca pensei que este também poderia ser quem tu és. Então quem és tu, realmente?
Foram estranhos, estranhos sem significado. Foi uma extensão do meu afeto, afeto que não era deles, que era teu, só teu. Tu sabes isso.
Se sabes isso, o que é que está a acontecer? Tu conheces-me, não há nada que te tenha escondido, não há nenhuma confiança que eu traí, nenhum código que eu quebrei porque quem eu quis sempre foste tu.