prologue; 🔭

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"Eu nunca parei, realmente, para observar o céu e suas formas. As nuvens e as mais brilhantes estrelas se estendendo ao longo do infinito céu, com infinitas cores e infinitas formas de ser. Quando se há problemas como os estudos, a saúde de sua família, o dinheiro, ou simples perguntas que emergem em nossa mente quando menos esperamos, como: 'Eu estarei vivo amanhã?', conseguimos esquecer todo o resto, e fazemos desse resto algo simples e pequeno, mesmo que não seja."

Desde pequeno eu alimentei um lado meu que dizia: "Nunca vou me apaixonar", talvez porque não encontre esperança de uma pessoa sentir algo por alguém como eu. Acredito que todo jovem já tenha pensado nisso, e então uma "bomba" cai em sua cabeça, e: "Estou apaixonado". Mas não, não é o tipo de coisa que acontece comigo. Ser um menino de 17 anos e completamente intocado, livre de qualquer impureza que a juventude proporciona, nem que seja um simples tocar de lábios, é estranho aos olhos de algumas pessoas, mas, para mim, é só estar seguindo o roteiro. É simplesmente ser Draco Malfoy. Não culpo ninguém além de mim mesmo por isso, até porque: 1) Eu não ligo para esse tipo coisa; 2) Não foi falta de oportunidade; 3) Eu já disse que nunca vou me apaixonar.

Ser Draco Malfoy — o puro, inteligente, estranho, chato, incrivelmente nerd e desnecessário Draco Malfoy— não é nada de mais, não é divertido, nem muito menos curioso. Sou apenas uma pessoa sem graça, que faz coisas sem graça como todos os jovens sem graça da "Incrivelmente-Sem-Graça-Londres". Ser Draco Malfoy, é lidar com pais controladores, que tem medo de você ter depressão, pelo simples fato de não sair de seu quarto, mesmo não tendo motivos de o fazer. Para Lucius e Narcissa Malfoy, eu sou um jovem problemático, que se sente inseguro com qualquer coisa, o que não é bem uma mentira. Assim, de 30 a 30 minutos batidinhas na porta anunciam a chegada de perguntas como: "Tudo bem?", "Precisa de ajuda?", e lembretes que sempre envolvem três palavras: "Eu", "te" e "amo", especificamente nessa ordem. Eu sou grato a tudo isso, mas tem muita gente precisando realmente de ajuda, e eu não sou uma delas.

Semanas antes eu visitei o psicólogo pela primeira vez, seu nome é Arthur Weasley. Ele fazia também as perguntas estilo "pai preocupado", tipo como eu me sentia, ou como estavam os estudos, ou o que eu faria ano que vem, com o fim dos meus dias na escola. Algumas perguntas eu decidi não responder, mas, em um todo, eu entendia que ele era pago para isso. Eu comentei sobre a minha comunicação, e ele pareceu me compreender. Ele, no fim das contas, era um alguém bem legal, a única pessoa que demonstrava respeito ao meu espaço pessoal e emocional. Eu me sentia bem conversando com ele, de um jeito que eu não me sentia nem com Pansy, minha melhor amiga.

Mas ao mesmo tempo ele parecia meio triste.

— O que aconteceu? — indaguei, me referindo à uma cicatriz aparentemente recente em sua bochecha.

— Ah, isso? Não é nada, foi só um acidente – sua voz ecoa no escritório.

Bem... ele acabou me contando toda a história — eu não sabia que momentos pessoais do profissional poderiam ser compartilhados com o paciente, mas simplesmente não me importo —, ele e sua família estavam viajando, até que um caminhão bateu com o carro em que estavam. Arthur me falou que o seu filho adotivo ficara cego, depois que cacos de vidro da janela entraram em seus olhos. Disse que o menino tinha a minha idade, e que depois disso ele ficara muito fechado e triste.

Harry, o menino, era alegre, e o que mais amava no mundo era observar as estrelas. Passava horas e horas apenas deitado no chão, e olhando o céu, Arthur me disse. Qualquer coisa que envolvesse o céu ele amava. As estrelas, as nuvens, o Sol, a Lua. Tudo. E tudo que era de mais importante para o menino se foi. Só restaram lembranças. Eu me sentia mal por Harry.

"Eu gostaria de poder ajudar", eu sussurrei, envergonhado. E realmente queria. Arthur me olhara, os olhos escuros brilhando, ele parecia ter uma ideia (e por incrível que pareça, ele realmente tinha). Às 11 horas da manhã, quando a sessão acabara, Arthur Weasley chamou meu pai e conversou com ele por poucos minutos. Quando saímos do prédio eu perguntei:

— O que houve?

— Arthur conversou comigo.

— Ok, isso eu sei... mas por quê?

— Bem – ele parecia ansioso e nervoso ao mesmo tempo – Resumindo, você vai começar a fazer uma nova amizade com Harry Potter.

— Como assim? O senhor nem falou nada comigo. Eu não quero fazer isso, eu...

— Draco — ele parou de andar e pôs uma de suas mãos em meu ombro, os olhos me denunciando — , você disse ao Arthur que gostaria de ajudar. Você nem tentou, e pelo que eu sei os dois tem muito em comum. Semana que vem irá à casa deles e os tratará bem. Fim de conversa, certo?

Eu apenas assenti, e continuei o caminho até minha casa. Quieto, que nem o Draco comum.

Naquela mesma noite eu olhei para o céu escuro e achei bobagem. Afinal, as nuvens da cidade cobriam qualquer vestígio de universo que poderiam fazer a minha noite melhor.

Apenas não conseguia ver.

Ainda.

yo(u)niverse ✰ drarryOnde histórias criam vida. Descubra agora